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"Lembra que você tem uma escolha", foi o conselho que o deputado federal Felipe Rigoni (PSB/ES) recebeu do pai quando tinha 15 anos, idade em que ficou cego, após passar por 17 cirurgias.
"Naquele dia eu não entendi, mas com o tempo percebi que ele falava sobre a escolha da minha atitude em relação ao que eu estava vivendo", contou o parlamentar nesta semana em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. A íntegra está no YouTube.
Rigoni perdeu a visão após contrair aos 6 anos uma uveíte, inflamação nos olhos que compromete a úvea, conjunto formado íris, corpo ciliar e coroide.
Os jornalistas que formaram a bancada mantiveram seus questionamentos concentrados em temas fundamentais, como as articulações entre o Congresso e o Poder Executivo, as reformas política e tributária, os posicionamentos do deputado em relação ao governo Bolsonaro e às metas do ministro da Economia, Paulo Guedes, a representatividade de Rigoni no grupo de estreantes na Câmara e outros temas dentro dessa mesma bolha.
A única pergunta que tratou especificamente da atuação do deputado nas demandas da população com deficiência foi feita no último bloco pela jornalista Tatiana Farah, do Buzzfeed, com um complemento da apresentadora Vera Magalhães, que pediu esclarecimento a respeito do que havia deixado Rigoni cego.
"Tenho uma preocupação com as pessoas com deficiência de forma global. Somos 1/4 (um quarto) da população brasileira e tem um atraso enorme em relação às políticas públicas para as pessoas com deficiência", afirmou Rigoni.
"A principal luta hoje é pela implementação da avaliação biopsicosocial, que está no artigo 2 da Lei Brasileira de Inclusão. Essa avaliação vai permitir categorizar as pessoas com deficiência, dar os benefícios corretos e direcionar as políticas públicas de forma personalizada. É isso que o mundo inteiro e a Convenção Internacional (da ONU) dizem que precisa ser feito, têm feito e deu certo", disse o deputado.
"Estamos nessa luta e o governo já está montando um comitê para discutir e implementar essa avaliação nos próximos meses", comentou Rigoni.
Vale destacar que a construção do comitê citado pelo parlamentar é constantemente divulgada pela ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e pela secretária nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, Priscilla Gaspar.
Essa ação é uma das bases do projeto 'Brasil Inclusão', anunciado pelo MMFDH em 3 de fevereiro, que promete também para este ano regulamentar a plataforma digital do cadastro único e melhorar a empregabilidade das pessoas com deficiência.
Rigoni foi questionado sobre possíveis dificuldades que enfrentaria no Congresso por ser cego. "Nunca tive. Ao contrário, todos os parlamentares me ajudam quando meus assessores não estão presentes", contou.
"Sou cego há 14 anos e, provavelmente, serei cego pelo resto da vida. O que determina a qualidade da minha vida é a atitude que tenho em relação a isso. Tem uma série de coisas a serem feitas", destacou Rigoni no Roda Viva.
"No momento atual do Brasil, tem muitas escolhas difíceis a serem feitas. O Brasil foi construído com uma base não republicana, é uma federação totalmente extrativista das pessoas e não inclusiva. É nós vamos ter que fazer um monte de reformas, muito duras, para começar a ter a possibilidade de tornar o Brasil um país realmente justo. E eu tenho certeza que nós vamos fazer essa escolha", completou o deputado.
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