Luiz Alexandre Souza Ventura
15 de fevereiro de 2017 | 17h05
Maria de Lourdes já passou por dois AVCs. Ambos isquêmicos. O primeiro, em 2001, quase não deixou sequelas. Naquela época, a rápida ação de sua filha Lucia garantiu tratamento adequado. E a reabilitação foi completa.
Em 2014, aos 69 anos, seguindo recomendação médica, Maria de Lourdes parou definitivamente de trabalhar, após 23 anos comandando o caixa de uma conhecida farmácia em Santos (SP), mas seguia firme nas atividades diárias, cuidando da casa e do marido.
Não havia tempo ruim ou horário que a impedissem de ir para a rua ‘bater perna’, fazer compras no mercado e na feira-livre, ou somente dar um passeio no shopping. Sem falar nas peças em crochê que ela confeccionava enquanto assistia TV.
O segundo AVC, em setembro daquele ano, atingiu com força a sua mobilidade, principalmente no lado esquerdo do corpo, comprometendo a habilidade de andar, e também dificultando tarefas simples como cortar um bife ou engolir um gole de água.
A partir dessa nova fase, ir à rua tornou-se muito mais difícil, e possível somente com o uso de uma cadeira de rodas. Dentro de casa, ambiente com o qual está habituada e conhece cada espaço, ela ainda caminha, sempre apoiada nas paredes ou móveis.
De lá para cá, o impacto da falta de independência e autonomia, de movimento, de passeios, de atividades básicas, das idas ao mercado e à feira-livre, dos passeios no shopping, do crochê, foi muito mais do que físico.
Bastou minha sogra colocar as duas mãos no andador para se transformar em outra pessoa. Foto: #blogVencerLimites
Maria de Lourdes é minha sogra. E Lucia, sua filha, é minha esposa.
Buscamos o máximo de possibilidades para mantê-la ativa, mesmo com todas as dificuldades que a cidade impõe a quem usa cadeira de rodas, especialmente uma mulher de 72 anos.
Decidimos, então, investir em um andador, e pesquisamos modelos com os quais minha sogra pudesse se acertar. Fiz uma matéria recente sobre isso (clique aqui para ler).
A meta é estimular, mostrar a ela que o corpo, mesmo após dois AVCs, pode ser reabilitado.
Alugar um equipamento não era opação, mesmo nessa fase de testes, porque o custo pode estar acima da renda já sacrificada com a compra de muitos remédios. Então, pedimos emprestado à Mercur, que fez a gentileza de enviar – por meio de sua representante comercial na Baixada Santista – um modelo de quatro rodas e assento.
E bastou minha sogra colocar as duas mãos no andador para se transformar em outra pessoa. Mesmo caminhando devagar, com passos curtos e calculados, e algumas paradas para recuperar o fôlego, o uso do equipamento devolveu a ela uma parte daquela autonomia já esquecida.
Os passeios diários pelo corredor do prédio mostram que o estímulo funcionou melhor do que esperávamos. Em nossa alegria de vê-la renovada, revigorada, exigimos demais, e algumas dores surgiram. Assim, acertamos a dose.
Reabilitação exige mais do que capacidade física. Pede comprometimento do reabilitado e daqueles ao redor, principalmente da família mais próxima, para estimular a reconquista de movimentos e, por consequência, da autonomia.
Um dia de cada vez. É assim que Maria de Lourdes progride em sua reabilitação.
E todos nós comemoramos.
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