1 mês após Brumadinho, ainda restam luto e lama

Com 177 mortos e 133 desaparecidos, rompimento de barragem marca as rotinas das famílias na cidade; trabalho de resgate é cada vez mais difícil

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Por Giovana Girardi e Leonardo Augusto
Atualização:

“Para quem vamos dar presente no Dia dos Pais?”, perguntam dois meninos angustiados com o futuro. “Pra mim”, tenta aliviar a mãe. O diálogo se dá no Parque da Cachoeira, comunidade atingida pela lama da barragem da Vale que rompeu em Brumadinho (MG). Quem pergunta são os filhos de Flaviano Fialho, de 34 anos, funcionário da Vale, cujo corpo foi achado em 27 de janeiro, dois dias após a tragédia. 

Moradores de Brumadinho observam a lama que atingiu a cidade. Foto: Washington Alves/Reuters

Com 9 e 6 anos, os garotos têm feito muitas perguntas à mãe, Fernanda Fialho, de 31 anos. A lembrança está em casa, mas também nos arredores. Uma língua formada pela onda de rejeitos, de aproximadamente 100 metros, pode ser vista no local. De um lado, casas que chegaram a ter meio metro de lama em suas paredes. No meio, residências cuja existência só se constata porque é possível ver seus telhados. Uma estrada interrompida surge do outro lado.

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A tragédia de Brumadinho completa um mês nesta segunda com saldo de 177 mortos já identificados e 133 desaparecidos (contabilizados até sábado), uma cidade com várias comunidades ainda tomadas pela lama e uma população desnorteada, tentando retomar sua vida, mas ainda sem saber para onde ir. A maior parte das vítimas já identificadas é homem (77%), pai, trabalhador da mineração, o que torna ainda mais difícil a recuperação da cidade.

A Vale anunciou nesta sexta-feira, 22, que manterá por um ano, ou até que seja fechado um acordo definitivo de indenização, o pagamento de 2/3 dos salários de todos os empregados próprios e terceiros que morreram.

Enquanto isso, muitas famílias ainda aguardam um corpo para enterrar – busca cada vez mais complexa. Máquinas estão sendo mais usadas e estão sendo feitos trabalhaos de dragagem nos pontos ainda alagados.

"Também aprimoramos o nosso cruzamento de dados para poder identificar melhor onde poderiam existir edificações que não foram totalmente destruídas pela lama. Foi assim que conseguimos acessar nesta semana o almoxarifado, onde conseguimos tirar corpos de lá. Era uma estrutura que a gente sabia que existia, mas não tinha conseguido acessar e não sabia qual era a situação da construção, se estava totalmente destruída ou não", afirma o tenente Pedro Aihara, porta-voz dos Bombeiros.

Segundo ele, as principais dificuldades permanecem no fato de que são necessárias escavações muito profundas e nos danos causados pelo impacto. "Às vezes temos de vencer 10, 15 metros de lama. E como a onda destruiu a maior parte das estruturas, os corpos são espalhados ou lançados em distância muito grande ou às vezes até destruídos. Identificar um corpo no meio da lama fica ainda mais difícil”, afirma. Exames de DNA têm ajudado na identificação das vítimas. 

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Ele explica que até sexta-feira os Bombeiros haviam feito mais de 300 recuperações. "Isso envolve cadávares, mas também segmentos de corpos e muito desse material recuperado ainda não foi identificado. À medida que avança o processo de identificação por DNA, vai aumentar também significativamente o nímero de óbitos. Mas não estamos mais falando em quantidades de corpos sem identificação porque mais de um segmento pode pertencer à mesma pessoa", explica o tenente.

Rio Paraopeba

E a lama avança pelo Rio Paraopeba. Nesta sexta-feira, 22, o governo de Minas estendeu a área onde não é recomendado usar a água sem tratamento. Antes, era até a cidade de Pará de Minas, a cerca de 75 quilômetros de Brumadinho. Agora, o veto vai até Pompéu, a 200 quilômetros.

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