2/3 das cidades mais violentas são do Nordeste, aponta 'Mapa da Violência'

Estudo faz ranking dos 150 municípios com mais mortes por arma de fogo; explicação passa por avanço de polos econômicos

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Por Felipe Resk
Atualização:

SÃO PAULO - O Nordeste concentra as cidades mais violentas do País. Com o surgimento de novos polos econômicos nas últimas décadas, a região precisou lidar com uma onda de criminalidade para qual não estava preparada. O resultado é que, hoje, dos 150 municípios com as maiores taxas de homicídio por arma de fogo no Brasil, 107 ficam no Nordeste – dois a cada três. No ranking de capitais, as seis primeiras colocadas também são da região.

Os dados compõem o Mapa da Violência 2016 – Homicídios por Armas de Fogo no Brasil, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), sob coordenação do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz. Eles mostram que, apesar de o crescimento das mortes por arma de fogo ter desacelerado na última década no País, as realidades locais e regionais não seguem um padrão.

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Enquanto Rio e São Paulo, por exemplo, conseguiram reduzir os índices de assassinatos após investimentos em segurança, o Nordeste dobrou sua taxa de homicídio de 16,2 para 32,8 entre 2004 e 2014, puxando, ano a ano, os resultados do Brasil para cima. O índice é bem superior ao da segunda colocada, a Região Centro-Oeste, que tem taxa de 26 mortes por 100 mil e registrou aumento de 39,5% no período. Já o Sudeste foi o único a recuar nessa década, 41,4%, e tem 14 homicídios por arma de fogo para cada 100 mil. No País, a média é de 21,2 casos por 100 mil habitantes.

Em 2014, a alta do Nordeste foi liderada por Alagoas (56,1), Ceará (42,9), Sergipe (41,2) e Rio Grande do Norte (38,9). “Na virada do século, todos eram Estados que apresentavam bons índices”, afirma Jacobo Waiselfisz. “Locais que antes tinham altos índices, como São Paulo, Rio e Pernambuco, passaram a receber recursos, e as taxas caíram. Acontece que essa política foi local para um problema nacional.”

Guerra. No Brasil, dois municípios têm taxa superior a 100 homicídios por arma de fogo para cada 100 mil – número equivalente ao de zonas de guerra. São eles: Mata de São João (102,9), na Bahia, e Murici (100,7), em Alagoas, ambos em regiões metropolitanas do Nordeste. Para o cálculo, foram consideradas as cidades com mais de 10 mil habitantes, onde aconteceram 98% dos assassinatos por arma no País, no período de 2012 a 2014.

Das 150 cidades mais violentas, apenas 43 não ficam na região. O Distrito Federal e outros oito Estados não têm nenhum município na lista, incluindo São Paulo, Santa Catarina e Acre. Do Nordeste, apenas o Piauí não aparece. O estudo usa dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus).

Segundo Jacobo Waiselfisz, houve uma interiorização dos crimes no Brasil, antes concentrados em grandes capitais. “Surgiram polos industriais, que são atrativos de população e de violência”, diz o sociólogo. Para ele, a “pandemia de violência” não foi acompanhada por incremento no aparato de segurança desses locais.O pesquisador também destaca a atuação de facções criminosas que expandiram sua atuação. “Hoje, são organização transnacionais.”

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Os governos do Ceará, do RN, da BA e do MA afirmaram que os dados do 'Mapa da Violência 2016' não refletem a realidade atual dos Estados Foto: Divulgação

Já o ranking das capitais, liderado por Fortaleza, no Ceará, tem como base as taxas de 2014. Lá, foram 81,5 homicídios por arma de fogo por 100 mil habitantes. Na sequência, aparecem Maceió (73,7), São Luís (67,1), João Pessoa (60,2), Natal (53) e Aracaju (50,5). Só então, em sétimo lugar, vem Goiânia (48,5), no Centro-Oeste.

Em nota, os governos do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Bahia e do Maranhão afirmaram que os dados do Mapa da Violência 2016 não refletem a realidade atual dos Estados, que teriam registrado queda a partir de 2015.

Já a administração do Sergipe afirmou que a média de crescimento dos homicídios entre 2011 e 2016 foi de 18% ao ano, mas que nos seis primeiros meses deste ano houve estabilidade. "Embora ainda não tenha registrado taxas decrescentes, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) entende que para reduzir homicídios é preciso estabilizar", diz a nota.

O governo de Alagoas não respondeu à reportagem.