32 grávidas de risco enfrentam escadas

Gestantes tiveram de descer cinco andares para serem socorridas; família reclama de falta de informações

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Por Redação
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Estava bem no finalzinho do capítulo da "novela das oito" quando Valdirene Gino da Silva Gomes sentiu cheiro de queimado. Grávida de 9 meses, mãe de outros três filhos, a dona de casa de 37 anos levantou-se rapidamente do seu leito no 9º andar do Hospital das Clínicas (HC) e começou a chamar pelas enfermeiras - que já corriam de um lado para o outro, tentando descobrir o que fazer. A fumaça entrava nos quartos e muitas grávidas começaram a chorar. "A minha cunhada estava no quarto e me ligou na hora pelo celular", diz o vendedor Daniel Santos Gomes, de 41 anos, marido de Valdirene e futuro pai de Laura, que deve nascer no dia 1º de janeiro. "Foi desesperador. Ela falou que tinha muita fumaça e as pessoas no andar estavam apavoradas. Todas as grávidas tiveram de descer pela escada para o 4º andar." Ao todo eram 19 grávidas no setor, que foram transferidas ainda durante a madrugada para o Hospital Estadual Sapopemba, na zona leste da cidade, em um percurso de 25 quilômetros. Inaugurado em 2003, o hospital tem oito andares, 222 leitos e é gerenciado pelo próprio HC. As mulheres chegaram de ambulância no Sapopemba por volta das 6 horas e foram divididas entre o 5º e o 6º andar - outras 13 grávidas foram para hospitais diferentes. A assessoria do HC, no entanto, só confirmou a transferência na tarde de ontem, depois de questionada pelo Estado - alegando instruções dadas pela assessoria, funcionários do Sapopemba se recusaram a passar informações sobre o estado das pacientes. O caso de Valdirene é um dos mais graves. Com os pés bastante inchados e uma gravidez de risco, ela teve muita dificuldade em descer as escadas e só conseguiu chegar ao 5º andar com a ajuda dos enfermeiros. "A gravidez é perigosa, a Laura pode ter embolia pulmonar", conta Daniel Santos Gomes. Os parentes puderam visitar as mulheres pela manhã durante 15 minutos e voltaram à tarde para a visita regular das 16 horas. "Minha esposa também vai passar por uma laqueadura durante a cesariana. Agora não sabemos se esse hospital em Sapopemba tem todos os equipamentos, se os médicos são bons, nada. Estamos simplesmente sem informações. Espero que dê tempo de ela ainda dar à luz no Hospital das Clínicas, até para nos sentirmos mais seguros." "MEU NATAL ACABOU" Há nove dias, Itamara Conceição Bastos, de 33 anos, perdeu o filho que esperava em um aborto. Ainda se recuperava no hospital, sem poder se mexer muito por orientação médica, quando as enfermeiras pediram para ela se levantar e descer as escadas do HC. "Ela me ligou chorando, falando que tudo estava pegando fogo", diz seu marido, o motoboy Robson Lima Bastos, de 38 anos. "Eu fiquei ainda mais desesperado, porque não conseguia imaginar o que estava acontecendo. Meu Natal acabou, fiquei grudado no celular para ter notícias dela. Depois que foi transferida para Sapopemba, ela me contou que as pessoas desceram desesperadas pela escada, algumas até em cadeira de rodas, como se fosse em um filme. Algumas mulheres não podiam nem andar e tinham de ser ajudadas pelos outros."

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