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6,4% dos internos são medicados

Índice é considerado alto entre jovens por especialista

Por Adriana Carranca
Atualização:

Pelo menos 6,4% dos 5,5 mil internos da Fundação Casa - 350 adolescentes - são tratados com medicamentos psiquiátricos. O Estado mostrou no sábado que 13,8% dos internos da capital têm transtornos mentais, dos quais 3% graves, segundo o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (Nufor), do Hospital das Clínicas. "Se você considerar a população jovem, esse índice de prescrição de medicamentos pode ser considerado alto", diz a psiquiatra Sandra Scivoletto, do Instituto de Psiquiatria do HC, especialista em psiquiatria infantil, transtornos de humor e dependência química. Para ela, alguns casos poderiam dispensar remédios. "Mas, para isso, você precisa ter alternativas, como uma casa terapêutica, com acompanhamento intensivo e multidisciplinar do jovem, que o aproxime o máximo possível de um modelo de ambiente familiar. Hoje, não há." Para casos mais graves, com possibilidade de cura, Sandra elaborou o projeto de atendimento na Unidade Experimental de Saúde, no Catumbi. Foi inaugurada em dezembro com 52 vagas, mas só abriga R.C., o Champinha, envolvido no assassinato do casal Liana Friedenbach e Felippe Caffé em 2003, e outro jovem, transferido recentemente. "O Estado não tinha para onde levá-lo e o projeto inicial foi suspenso." A unidade passou para a pasta da Saúde. A Fundação Casa diz não ter unidades para transtornos mentais porque a política nacional preconiza o atendimento inclusivo e antimanicomial. "Isso é uma falácia. Esses jovens já estão internados pelo delito", diz Sandra. "A unidade experimental previa o tratamento com desinternação progressiva na medida da melhora." A fundação defende a realização do tratamento nas unidades. Na capital, o acompanhamento vem sendo feito por psiquiatras do Nufor. "Isso já ajuda muito. Mas, nas unidades, os médicos só conseguem fazer o ?arroz-com-feijão?. Imagine um jovem com idéias suicidas. Ele requer tratamento intensivo. Se tem um surto psicótico, não há leito especializado. Está difícil ser psiquiatra hoje." Segundo ela, Champinha tem um transtorno incurável, "agravado por um crime violento". "Não significa que não precisa de tratamento", diz. Para ela, a política antimanicomial é mal interpretada. "Acabaram os depósitos de pacientes crônicos, o que é certíssimo. O problema é que o Estado os substituiu por nada."

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