PUBLICIDADE

A cidade que ganhou apenas um habitante

Serra da Saudade (MG) tem 890 moradores - já foram mais de 2 mil

Por Ivana Moreira e BELO HORIZONTE
Atualização:

Por telefone, os moradores de Serra da Saudade marcam consulta com médicos e dentistas do centro de saúde. Os exames são realizados lá mesmo, pela bioquímica contratada pela prefeitura - apenas casos mais complexos são encaminhados para Belo Horizonte. A segunda cidade menos populosa do País, com 890 habitantes, costuma ser chamada de "Serra da Suíça", numa alusão aos elevados indicadores sociais - o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,742. O último homicídio registrado ali aconteceu há 40 anos. A prefeitura mantém escola infantil, de ensino fundamental e segundo grau. Tem convênios para oferecer curso superior a distância. E estimula a educação dos próprios servidores, oferecendo 8% de bônus no salário de quem estuda. Recentemente, a administração inaugurou um telecentro. Até 1962, porém, a história era bem diferente na cidade que fica na região central de Minas Gerais, a 230 quilômetros de Belo Horizonte. Foi naquele ano que o então distrito de Melo Viana foi emancipado da vizinha Dores do Indaiá. "Se Serra da Saudade fosse depender de Dores do Indaiá, certamente esses benefícios não seriam oferecidos à população", diz a prefeita, Neusa Maria Ribeiro (PDT). "Seria um lugar esquecido." A melhoria dos indicadores sociais são, de acordo com a prefeita, a principal explicação para o fim do êxodo da população. Até o início dos anos 90, a cidade sofria com o fenômeno típico de pequenas localidades do interior, vendo a população buscar uma vida melhor em municípios maiores. Em 1970, a população era de 2.160 habitantes. Em 1980, o número já havia caído pela metade: 1.015. Em 1991, de acordo com os dados do IBGE, a população de Serra da Saudade era de 852 habitantes. A população não voltou aos 2 mil moradores da década de 70. Mas parou de cair e voltou a crescer, ainda que discretamente - ganhou apenas 1 habitante desde o censo de 2008. Segundo a prefeita, bem administrado, o pequeno orçamento anual de R$ 3,5 milhões tem sido suficiente para garantir benefícios diferenciados para a cidade. O município conseguiu ser beneficiado pela Lei Robin Hood, que garante recursos para conservação de patrimônio histórico cultural. A Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo e a antiga estação ferroviária Barra do Funchal são alguns dos patrimônios já reconhecidos. Embora a população, formada sobretudo por trabalhadores rurais e funcionários públicos, não possa reclamar, a prefeita diz que ainda há muitos desafios, como a atração de visitantes para voltar a movimentar o comércio local. Nos tempos em que a cidade estava na rota da ferrovia BH-Paracatu, o comércio era intenso. Com a construção da BR-262, que levou o tráfego para outra rota, os visitantes sumiram. A cidade ainda não tem hotel, mas a prefeita acredita que esse será o futuro: o turismo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.