A clausura fica aberta à internet

Para acompanhar o mundo, mosteiro adota computadores, mas estabelece ?jejum? de 1 ano de web para novatos

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Por Valéria França
Atualização:

Quando o Mosteiro de São Bento, em São Paulo, começou a abrir suas portas para a comunidade, organizando uma agenda de concertos, brunches e festas, outras mudanças já aconteciam longe das vistas dos visitantes. Os monges hoje têm à disposição dez terminais de computador, conectados à internet, nas salas multimídias da clausura. "Precisamos estar antenados com o que acontece no mundo", diz o prior d. João Evangelista Kovas, considerado no mosteiro um bom webdesigner. Foi ele quem construiu o site www.mosteiro.org.br. "O portal é uma ótima forma de se comunicar com o público. Lá estão nossas informações básicas, com horário de missa e histórico do mosteiro, entre outras coisas." Mas não é só isso. "Hoje tem muita gente que marca horário de confissão por e-mail", diz Gregório de Oliveira Ferreira, de 24 anos, responsável pela administração da correspondência eletrônica. "Há também quem escreva para tirar dúvidas sobre a vida monástica." E, como em qualquer outro lugar, a internet aqui também serve como ferramenta de estudo, pesquisa, e comunicação. "Pedimos sempre para que monges tenham bom senso na forma de usar o computador", diz d. João. Muitos deles participam de programas de mensagem instantânea e estão inscritos em sites de relacionamentos. Alguns computadores são equipados com webcam. Como fazer para o bom senso de fato prevalecer entre os jovens monges? "Assim que entram no mosteiro, fazemos uma espécie de desconexão com o mundo", diz o abade d. Mathias Tolentino Braga. "Os postulantes (novatos) ficam um ano sem permissão de mexer nos computadores. No início, sou drástico, com o objetivo de promover mudança de hábito." O resultado é que muitos desistem da vida monástica. "Dos sete que entraram comigo no mosteiro, apenas dois vão se formar monges", diz irmão Gregório, há cinco anos no São Bento. "Eu só desisti do Orkut porque as pessoas acabam colocando muita besteira, coisa que não tem a ver." Irmão Gregório tem uma vocação nata. "Quis seguir a vida religiosa desde pequeno", conta. "Às vezes, surgem dúvidas, principalmente quando se encontra aquele amigo de colégio, que casou, ficou rico e acumulou um monte de bens. Mas é passageiro. Não trocaria a vida que levo por tudo isso. É profunda a minha vontade de me entregar a Cristo." Segundo Gregório, a vida no mosteiro também é divertida. "Todos são bem humorados. Na hora do recreio, os monges se dividem em duas filas, uma de frente para outra. Passamos meia hora conversando e andando em bloco para frente e depois para trás, dentro da clausura." O hábito foi adotado pelos primeiros monges alemães que chegaram ao Brasil. "É esquisito, mas é uma forma engraçada de fazer a digestão."

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