A história do amor que virou tragédia

Gilmar não suportou o fim do namoro de cinco anos com Evellyn; depois de matá-la, na segunda-feira, suicidou-se

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Por Adriana Carranca
Atualização:

O ano de 2007 tinha tudo para ser o mais feliz da vida de Gilmar Leandro da Silva Filho, de 23 anos. Ele tinha planos de voltar para a universidade, comprar uma moto nova e, acima de tudo, casar-se com sua "princesa", Evellyn Ferreira Amorim, de 18 anos, morena de olhos da cor de jabuticaba que namorava havia cinco anos. Em fevereiro, Gilmar foi à Joalheria Suissa, no Litoral Plaza Shopping, em Praia Grande. Comprou as alianças mais tradicionais, em ouro 18 quilates - pagou R$ 866 -, e os dois ficaram noivos. Em maio, o romance terminou. Em junho, ele a manteve refém por cinco horas em casa, enquanto implorava para que reatassem. Foi preso. Foi solto. Em novembro, invadiu a farmácia Nova Farma, onde ela trabalhava, algemou a mão direita de Evellyn à sua esquerda, manteve-a sob a mira de um revólver calibre 38 por 12 horas, e, minutos depois de afirmar à polícia que se entregaria, matou a ex-noiva e deu um tiro na própria cabeça. Os corpos dos jovens foram encontrados, um sobre o outro, ainda algemados. "Tivemos de serrar a corrente para separá-los. Nunca encontramos as chaves. Você quer simbolismo mais forte de amor e ódio do que esse? Foi um crime passional como há muito não víamos", diz o titular do 1º DP de Praia Grande, Luiz Evandro Medeiros. O crime aconteceu na segunda-feira. E a tragédia ainda domina as conversas na pequena Vila Mirim - não a praia, de mesmo nome, mas o bairro longe do mar, de casas muito pobres e ruas de areia, com um campinho de futebol e uma igrejinha. Um lugar onde quase toda menina já sonhou um dia em se casar com um rapaz apaixonado - como Gilmar era por Evellyn. As duas famílias eram vizinhas e as histórias sobre o romance corriam o bairro. Gilmar ficava horas sentado no portão da casa da avó, às vezes na chuva, esperando Evellyn sair só para vê-la passar. Às vezes, seguia a moça à distância. "O sonho dele era casar e ter filhos", diz Joana, de 20 anos, irmã de Gilmar. Ele dizia querer ser o pai que ele mesmo não teve - e a quem só viu uma vez, em Alagoas. O pedreiro Edson Marques, de 40 anos, era o padrasto de quem Gilmar gostava como se fosse pai legítimo. Na Escola Estadual Professor Júlio Pardo Couto, Gilmar era bom aluno. Cursou até o 2º ano da faculdade de Turismo e lutava tae kwon do. Nos fins de semana, gostava de pescar e de torcer para o São Paulo. Entre os colegas, estava sempre fazendo piadas - era o brincalhão da turma. Sobre a vida pessoal, pouco falava. Evellyn foi a primeira que apresentou à família como namorada. "Gilmar não era de falar muito das coisas dele. Não chorava. Mas todo mundo via que estava muito triste com o fim do namoro", disse Edson. "A vida dele era ela. Tudo o que ele fazia era para ela. Com o dinheiro que ganhava, comprava presentes para a Evellyn. Eles pareciam felizes." Evellyn gostava de Gilmar, mas não da mesma forma. A jovem, com apenas 13 anos quando o namoro começou, tinha outros planos. Queria fazer faculdade de Farmácia e desde cedo foi trabalhar - o dinheiro que ganhava era para ajudar a construir um sobrado de alvenaria, no lugar do casebre de madeira onde vivia com os pais e duas irmãs. A obra ficou inacabada. Depois do primeiro seqüestro, em 13 de junho, Gilmar ficou preso 1 mês e 8 dias. Mas Evellyn não queria mal ao ex-noivo e amigo de infância - ela assinou a declaração em que negava ter sido ameaçada. Como não tinha antecedentes criminais, Gilmar foi libertado do CDP de Praia Grande. Voltou para a casa dos pais, onde viviam também as duas irmãs, de 21 e 14 anos, e um irmão, de 20. Trabalhador, segundo os vizinhos, Gilmar fez todo tipo de serviço, o último como motoboy, mas, desde o fim do namoro, andava desanimado com tudo. Inconformado, ficava escondido em uma esquina próxima da farmácia, observando de longe a noiva atender os clientes no balcão. Quando brigavam, ele bebia. Evellyn não queria preocupar a família nem prejudicar Gilmar. Por isso, confidenciou apenas para uma tia que estava com medo. "A gente cria os filhos sem saber pra quê", disse Rosecleide, mãe de Evellyn. Aquele domingo começou como outro qualquer. Evellyn saiu para trabalhar na farmácia. Gilmar passou o dia com amigos nas ruas do bairro, jogou futebol com eles e chegou a convidá-los para a festa de aniversário - faria 24 anos na quinta-feira e um churrasco estava marcado para hoje. Vizinhos disseram que parecia triste, mas isso se tornara comum desde o fim do namoro. Era noite quando ele voltou para casa e, pouco depois das 23 horas, avisou à mãe que ia ver uma amiga na vizinhança. Não voltou mais, assim como Evellyn. Ela morreu às 14h20 de segunda-feira e ele, às 17h40.

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