A lavagem da escadaria no dia do Senhor do Bonfim

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Por Agencia Estado
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Mantendo a tradição, a festa da Lavagem do Bonfim, que homenageia o santo mais popular entre os baianos, Nosso Senhor do Bonfim, atraiu hoje milhares de pessoas para o cortejo de 8,5 quilômetros pelas ruas da Cidade Baixa. A novidade este ano foi a celebração ecumênica reunindo o bispo-auxiliar de Salvador, Dom Gílio Felício, Ahmed Abedul, do Centro Islâmico da Bahia, mãe Carmen do Terreiro do Gantois, além de representantes de outras religiões. Eles pediram paz no adro da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, antes do início do cortejo que seguiu por volta das 10 horas para a Igreja do Bonfim, tendo à frente 500 "baianas", iniciadas no candomblé e vestidas tipicamente, com vasos com água de cheiro (uma mistura de sete ervas usadas em rituais da religião afro e alfazema). O sincretismo religioso que tornou famosa a festa do Bonfim em todo o mundo, serve de mote também para uma outra mistura, a de ritmos: uma bandinha tradicional animou a saída do cortejo, tocando "Arriverdeci Roma", enquanto o afoxé Filhos de Gandhy embalava as pessoas com o ijexá africano. Mais atrás, Carlinhos Brown comandava o grupo Zárabe, formado por percussionistas fantasiados de árabes. "Viemos celebrar a comunhão da nossa gente, essa miscigenação e essa continuidade pacífica", disse o músico. A ala dos políticos marcou presença. Um sorridente ex-senador Antonio Carlos Magalhães distribuía beijos e acenos ao lado do governador César Borges e o prefeito Antonio Imbassahy, todos do PFL. Numa distância razoável, um grupo de adversários de ACM acompanhava o cortejo. O deputado federal Jacques Wagner (PT-BA), candidato ao governo baiano, liderava os oposicionistas. Senhor do Bonfim recebeu pedidos de toda ordem, do grupo de turistas argentinos que rogava pela superação da crise econômica no seu país a representantes do Sindicato dos Radialistas da Bahia que lutam por melhores condições de trabalho. Em pouco tempo, os 8,5 quilômetros do cortejo ficou apinhado de gente. Oxalá e Senhor do Bonfim A devoção foi trazida de Setúbal, Portugal, para a Bahia pelo capitão de mar-e-guerra, Teodósio Rodrigues de Faria, em 1740. A igreja só ficou pronta, mesmo assim sem as duas torres laterais, em 1754. A festa da Lavagem do Bonfim, que começou com a limpeza do interior do templo no século 18, se popularizou e se misturou ao culto afro quando os escravos passaram a participar do evento no século 19, sincretizando o Senhor do Bonfim com o orixá Oxalá. A algazarra que se estabeleceu na época fez com que a Arquidiocese determinasse o fechamento do templo, já no século 19, e a partir de então, a lavagem ocorre no adro e escadarias da igreja. No entanto, a Irmandade do Senhor do Bonfim, coloca uma grade de ferro na porta do templo para que, mesmo sem poder entrar, os devotos possam ver a imagem do santo no belo altar neo-clássico da igreja. Quando o cortejo chegou à igreja, milhares de pessoas tentaram invadir o local. Houve briga, empurra-empurra, mas os soldados da polícia militar que faziam a segurança da área conseguiram evitar a invasão, permitindo apenas o acesso das "baianas", autoridades e membros da irmandade. Concentrados nas escadarias os devotos imploravam um pouco da água de cheiro das "baianas", acreditando que o líquido dá sorte e um ano bom. Muitas baianas atenderam ao apelo e borrifaram água de cheiro para as pessoas. Após a lavagem, a festa prossegue até a madrugada nas barraquinhas de comidas e bebidas armadas nas imediações da Colina do Bonfim. Novas arquidioceses No dia de Senhor do Bonfim, a Igreja da Bahia confirmou a criação pelo papa João Paulo II de mais duas arquidioceses no Estado. Agora, além da Arquidiocese de Salvador, a mais antiga do Brasil, a Bahia terá uma na cidade de Feira de Santana e outra em Vitória da Conquista. As sedes arquiepiscopais foram pedidas pela regional nordeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para fomentar a ação pastoral nessas regiões. O arcebispo de Feira de Santana será Dom Itamar Viann, que é bispo diocesano do município. Para Vitória da Conquista, o Vaticano nomeou arcebispo o atual bispo de Colatina (ES), Dom Geraldo Lírio Rocha.

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