À Polícia, Abel Pereira terá de explicar propina

A PF suspeita que Abel atuou como lobista da organização criminosa dentro do Ministério da Saúde na gestão Barjas Negri, em 2002, no governo FHC

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O empresário Abel Pereira, suposto elo da máfia das ambulâncias superfaturadas com o PSDB, depõe hoje na Polícia Federal em Mato Grosso. A PF suspeita que Abel atuou como lobista da organização criminosa dentro do Ministério da Saúde na gestão Barjas Negri, em 2002, no governo FHC. Barjas, tucano, é prefeito de Piracicaba (SP), onde ficam as principais empresas de Abel. Os dois são amigos há pelo menos três décadas. O inquérito da PF apura as ligações de Abel com Luiz Antonio Vedoin, considerado o chefe da máfia dos sanguessugas que envolve 72 deputados e senadores e lesou o Tesouro em R$ 110 milhões. Os federais estão convencidos de que o esquema das emendas que abalou o Congresso foi montado em Mato Grosso. Em parceria com 51 prefeitos, Vedoin aproximou-se de parlamentares que criaram emendas para forçar a liberação de recursos extra-orçamentários da Saúde. O golpe ganhou proporções excepcionais a partir de 2003 (governo Lula) e se alastrou por cerca de 500 prefeituras de quase todo o País. O inquérito contra Abel já abriga documentos que podem incriminá-lo, na avaliação da PF. São cópias de 15 cheques que somam R$ 601 mil, valor que teria sido depositado em favor do empresário a título de propina. O dinheiro seria para apressar a liberação de recursos do Ministério da Saúde. Esses documentos foram entregues há três semanas à PF por Expedito Afonso Veloso, ex-diretor de análise de risco do Banco do Brasil e protagonista da trama do chamado dossiê Vedoin. Rastreamento bancário indica que os cheques para Abel foram emitidos pela Klass Comércio e Representação Ltda., empresa do Grupo Planam, carro-chefe da máfia das ambulâncias. A gestão Barjas Negri na Saúde liberou dinheiro para a compra de 681 ambulâncias da Planam. Abel teria embolsado o equivalente a 6,5% do montante total. Aqueles R$ 601 mil foram apenas uma parte. A PF suspeita que Abel tentou comprar o silêncio dos Vedoin. Amizade Abel e os Vedoin se conheceram em 2002. Darci Vedoin, pai de Luiz Antonio, era bem relacionado com o prefeito de Jaciara (MT) à época, Valdizete Martins Nogueira, então filiado ao PSDB, hoje ao PPS. Abel possui duas fazendas na região. Elas têm o mesmo nome, Cicate. São 14 mil hectares de terra. Eram 15 mil, mas em 2003 Abel vendeu um pedaço para o maior plantador de algodão mato-grossense. Quem intermediou o negócio de US$ 1, 5 milhão foi Valdizete. O ex-prefeito ganhou uma boa comissão, em torno de 5%. A PF e a Procuradoria da República presumem que as relações entre Abel e Valdizete vão além da amizade. Podem caracterizar improbidade administrativa e crime.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.