PUBLICIDADE

A segunda geração do cinema marginal

Djin Sganzerla grava a continuação de ?O Bandido da Luz Vermelha?

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Se não fosse o cabelo bicolor - raiz ruiva e cachos loiros - , a atriz Djin Sganzerla, de 32 anos, seria mais uma entre tantas pessoas que caminham pelos arredores da Avenida Paulista, região central de São Paulo, onde mora. Tá certo, enfim, não se trata de uma celebridade instantânea fabricada pela TV, mas de uma atriz de cinema, com trabalho e história reconhecidos apenas pelos amantes da produção nacional. Jovem talentosa - ganhou o prêmio de melhor atriz pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) no ano passado - , é filha de dois ícones do cinema marginal, o diretor Rogério Sganzerla e a atriz Helena Ignez. Os dois com inúmeros prêmios e homenagens até mesmo internacionais. Neste mês, Djin marcou presença no cotidiano paulistano ao surgir com seu visual rebelde em vários pontos da cidade, sempre acompanhada de uma comitiva de carros de luz, de apoio, de figurino... E por aí vai. Anteontem à noite, por exemplo, estava nos arredores da Rua Amaral Gurgel, no centro, na frente de um inferninho. Despertou a curiosidade de quem passava, mas menos do que há pouco mais de uma semana, quando sua equipe filmava na Ladeira Porto Geral, com o cantor Ney Matogrosso. Djin está produzindo e atuando na continuação de um dos filmes mais paulistanos da história do cinema, O Bandido da Luz Vermelha, o primeiro longa dirigido por seu pai, em 1968, uma ficção baseada na vida de João Acácio Pereira da Rocha, assaltante que costumava entrar em mansões paulistanas usando uma lanterna vermelha. Antes de ser derrotado por um câncer na cabeça, em 2004, Sganzerla deixou pronto o roteiro da segunda parte do filme, Luz das Trevas - A Revolta do Bandido da Luz Vermelha. A direção da parte dois, hoje, está nas mãos de sua viúva, Helena, musa do cinema marginal, que atuou na primeira versão como a namorada de Luz Vermelha, Jane, nome do mesmo personagem que, na segunda versão, a filha interpreta. "A minha Jane é namorada do filho do bandido, o Tudo-Ou-Nada", adianta Djin. No filme original Luz Vermelha morre no final. "Ele não morreu, na verdade, ficou preso por décadas. E agora, na pele de Ney Matogrosso, tem um filho", conta Djin. Tudo-Ou-Nada é interpretado por André Guerreiro Lopes, de 34 anos, marido de Djin. "Temos uma parceria artística muito grande. O limite entre trabalho e vida é muito tênue", diz Lopes. ANTUNES E LOPES Djin conheceu Lopes quando deixou a casa dos pais no Rio e veio para São Paulo estudar no Centro de Pesquisa Teatral (CPT), do diretor Antunes Filho. "Eu queria estudar em São Paulo porque o Rio estava muito contaminado pela TV", conta Djin. "Acabei ficando por aqui. Apesar de ter nascido no Rio, e gostar muito de lá, escolhi São Paulo como minha cidade." Na época, o futuro marido estava trabalhando num texto de Nelson Rodrigues, que Antunes acabou não montando. "A arte sempre esteve presente na nossa relação", diz Lopes. A história de amor de Djin e Lopes lembra, em parte, a de seus pais. Sganzerla e Helena se conheceram durante as filmagens de O Bandido da Luz Vermelha, casaram, tiveram duas filhas, primeiro Sinai e quatro anos depois Djin. Hoje as duas irmãs são sócias da mãe na Mercúrio Produções, uma produtora que fica na região da Consolação, no centro, com cerca de 43 filmes rodados. Luz das Trevas será o 44º da lista. "O roteiro é alucinante e não tem nada de nostálgico. Conta com mais de 60 cenários locados pela cidade", explica Helena. As filmagens foram realizadas em mansões do Morumbi e dos Jardins, na zona sul, entre outros endereços. Helena e Sganzerla sempre trabalharam juntos. Djin e Lopes, também. Ele chegou a dirigir a mulher em Um Sonho, peça de 2001, data que marcou o retorno do ator ao Brasil, depois de seis anos de estudo em Londres, como membro da companhia teatral Théâtre de l?Ange Fou. Na época, os dois ainda eram namorados. "Casamos em 2006, na tumba de Julieta, em Verona", conta Djin, que nas fotos da cerimônia, realizada numa sala cheia de afrescos, parece a própria Julieta, de cabelos pretos e longos. GATA BORRALHEIRA "Djin é dona de um doçura sem tamanho", diz Carlos Reichembach, que dirigiu a atriz em Falsa Loura, de 2007. Ela faz o papel de uma operária do ABC, que teve poucas oportunidades na vida. "Tínhamos o desafio de transformá-la numa gata borralheira. Não é fácil enfear a Djin." E com o papel de proletária, ela ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. "O bom cúmplice é aquele que aceita a aventura. Cinema é aventura. A gente nunca sabe no que vai dar. E isso ela herdou do pai." Mas não é só uma questão, digamos, de sangue. "Djin leva o trabalho muito a sério." No seu dúplex nos Jardins, ela passa boa parte das noites lendo livros técnicos sobre a arte de atuar. E, neste ano, os paulistanos terão várias oportunidades de assistir a seus trabalhos. Além do filme Luz das Trevas, ela deve entrar em cartaz com duas peças de teatro. Uma delas, Um Homem Misógeno, já com data certa de estreia, em agosto, no Sesi. A grande estreia, no entanto, será na TV, apresentando Programa de Cinema, na TV Brasil.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.