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A trajetória de D. Claudio Hummes

Por Agencia Estado
Atualização:

O cardeal arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, nasceu em 1934 na cidade de Batinga do Sul, posteriormente anexada ao município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. Batizado como Auri Afonso Hummes, estudou em um seminário franciscano em Taquari, de onde saiu aos 17 anos para estudar Teologia em Divinópolis (MG). Depois, estudou Filosofia em Garabaldi (RS) e em Roma, na Itália. Adotou o nome de Cláudio em 1958, quando foi ordenado padre. Originário da família alemã, só falou nesta língua até os seis anos. Mas também fala espanhol, francês, italiano e inglês. Sua tese de doutorado em filosofia foi redigida em italiano e o trabalho de especialização acadêmica, sobre ecumenismo, em francês; especializou-se no Institut Oecumenique de Bossey, em Genebra. D. Cláudio é apontado como um religioso moderado - a meio caminho entre os setores progressistas e conservadores da Igreja. Alinha-se no grupo dos cardeais engajados na defesa da justiça social. Domina a burocracia do Vaticano, mas em 30 anos de vida episcopal dedicou-se, sobretudo ao trabalho administrativo e pastoral nas três dioceses que dirigiu: Santo André, Fortaleza e São Paulo. Ligado a movimentos sociais, d. Cláudio esteve presente nas greves do ABC paulista nos anos de 1979 e 1980. Nomeado para a Diocese de Santo André, no momento em que o regime militar proibiu os operários de se reunirem, ele determinou que as igrejas do ABC abrissem as portas para as assembléias e dialogou com os coronéis da ditadura. Pressionado pela Igreja no Brasil, decidiu ir a Roma, "saber com Pedro" se estava errado. O então papa João Paulo II abençoou seu trabalho e o mandou seguir em frente. Passado o pior momento da ditadura, retirou a diocese desse trabalho. Os operários começavam, então, a criar o Partido dos Trabalhadores. O cardeal assumiu a Arquidiocese de São Paulo em 1998, com o desafio de suceder o cardeal d. Paulo Evaristo Arns, que deixou uma estrutura marcada por sua personalidade forte e com um exército de fiéis ao seu estilo. Porém, Hummes conseguiu impor seu perfil forte à administração e ter prestígio também em Roma. Mostrou simpatia pelas comunidades eclesiais de base, ligadas à Teologia da Libertação, e apoiou o trabalho do padre Júlio Lancellotti com os moradores de rua da cidade. Em sua gestão, foram concluídas as obras de reforma e restauro da Catedral da Sé, maior símbolo do catolicismo da cidade. Os trabalhos foram feitos com patrocínio de empresas e da Lei Rouanet, em um total de R$ 16,7 milhões. Ao fazer uma conferência no Pontifício Conselho de Justiça e Paz, em 1999, defendeu a idéia de um diálogo corajoso e franco com o mundo contemporâneo, "com a ciência, os avanços na biotecnologia, com a filosofia e as culturas, com a política e a economia, com tudo o que tenha algo a ver com a justiça social, os direitos humanos e a solidariedade com os pobres". Em 2002 foi pregar no retiro espiritual anual Cúria Romana, diante do papa João Paulo II e dos cardeais próximos dele. Mas tem estilo próprio. Em diversas ocasiões deu a entender que gostaria de ir além, defendendo maior abertura no diálogo da Igreja com a sociedade e com outras religiões. Na votação para a sucessão do papa João Paulo II, em 2005,d. Cláudio Hummes era visto como um dos possíveis sucessores. Tido como "defensor dos trabalhadores e dos pobres", ele era citado por comandar a maior diocese brasileira, com o maior número de católicos do mundo. Porém, o alemão Joseph Ratzinger foi escolhido pelos cardeais do Vaticano e nomeado como papa Bento XVI.

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