Abadía pagou R$ 1,6 milhão a policiais de SP

Suspeita da PF é que homens do Denarc e da Dise de Santo André extorquiram dinheiro do colombiano

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Por Redação
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Especialistas na investigação do tráfico de entorpecentes, homens de duas unidades de elite da Polícia Civil de São Paulo formaram uma verdadeira força-tarefa para achacar o megatraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía. Em vez de realizar aquela que seria uma das maiores prisões no combate ao narcotráfico, os investigadores preferiram arrecadar US$ 800 mil, um carro e uma moto para soltar os homens de Abadía, detidos no Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc). Além de investigadores do Denarc, a Polícia Federal suspeita da participação de homens da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), de Santo André. Os federais tomaram conhecimento do caso quando investigavam a lavagem de dinheiro do grupo de Abadía no Brasil. O caso foi divulgado em reportagem da Folha de S. Paulo anteontem. Acompanhando as ligações telefônicas do grupo, os policiais flagraram uma diálogo em que dois integrantes do bando discutiam sobre o acerto com os policiais civis. Um deles dizia que era preciso pagar, pois o pessoal estava "lá no prédio" e se não recebessem o dinheiro, "iam fazer o flagrante". Os agentes da PF logo desconfiaram que se tratava de uma tomada de dinheiro feita por policiais corruptos. Apuraram que seriam do Denarc. Decidiram não prender os investigadores, pois correriam o risco de perder Abadía se isso ocorresse. Ao ser detido, o traficante disse aos federais que tinha conhecimento do achaque e que teria negociado a redução do valor da propina - inicialmente os policiais pediram US$ 1 milhão. A publicidade do caso, segundo a PF, prejudicará em muito a investigação - pretendia-se colher mais provas antes de prender os policiais. Na tarde de ontem, a Corregedoria da Polícia Civil, informada pela imprensa, abriu apuração preliminar. Já a Delegacia Geral da Polícia Civil (DGP) enviou ofício à PF pedindo informações. O superintendente da PF em São Paulo, Jaber Saadi, recomendou à DGP que busque as informações na 6ª Vara Criminal Federal, pois o processo está sob segredo de Justiça. MÁFIA Jeffrey Licthman, advogado do mafioso John Gotti Jr., decide hoje se aceita ou não defender Abadía. Experiente em casos criminais, Licthman é formado pela Duke University School of Law, em Durham, Norte Carolina. Abriu seu próprio escritório em 1999, na cidade de Nova Iorque. O advogado atende clientes notórios. Um dos casos mais famosos foi o do mafioso John Gotti Jr., absolvido de três acusações: conspiração, assassinato e fraude de US$ 25 milhões. O julgamento teve todo o júri contra o acusado e mesmo assim Licthman venceu. Ontem, por telefone, Licthman confirmou ter sido contactado para a defesa do narcotraficante, mas limitou-se a dizer que existem boas chances de aceitar a defesa de Abadía. "No entanto, só terei a confirmação no final da tarde de amanhã (hoje)." O traficante colombiano é considerado o maior traficante da atualidade, depois da morte de Pablo Escobar, em 1993. Nos Estados Unidos responde por crimes que vão de homicídio a narcotráfico e teve um prêmio de US$ 5 milhões ofertado pelo governo norte-americano por sua captura. MARCELO GODOY, RODRIGO PEREIRA e NILZA BARROS, ESPECIAL PARA O ESTADO

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