Abadía revela que dinheiro do tráfico entrava de carro no Brasil

Advogado de colombiano viajou aos EUA para contratar escritório especializado na defesa de narcotraficantes

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Por Rodrigo Pereira
Atualização:

O megatraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía trouxe uma nova versão à Polícia Federal e à agência antidrogas norte-americana (DEA, na sigla em inglês) sobre o caminho utilizado pelo Cartel Norte do Vale para lhe enviar dinheiro do tráfico de drogas desde que chegou ao Brasil, há três anos. As novas revelações de Abadía fazem parte de um acordo com a Polícia Federal e com o Ministério Público Federal: o traficante esclarece sua atuação no País e as duas instituições não se opõem ao pedido de extradição feito pelos Estados Unidos. O advogado de Abadía, Sérgio Alambert, já dá como certa a extradição e viajou ontem para Washington para fechar parceria com o escritório Jeffrey Lichtman, especializado na defesa de traficantes. Segundo o traficante, o dinheiro vinha da Colômbia para a Venezuela de avião. Era então transferido para carros, que cruzavam a fronteira por Roraima até Boa Vista. O montante era colocado em malas, misturado com roupas, e novamente transportado em aviões até o Sudeste e Sul do País, onde a quadrilha formada por Abadía no Brasil se instalou. Em geral, o dinheiro era destinado aos comparsas colombianos do traficante, como os irmãos Victor e Jaime García, que administravam a fortuna nas bases em de Campinas e de Curitiba, respectivamente. Cabiam aos brasileiros lavar o dinheiro comprando bens e criando empresas de fachada. Eles também providenciavam a falsificação de documentos. O piloto André Luiz Teles Barcellos foi citado pelo colombiano como seu braço direito no País. Foi Barcellos quem recebeu Abadía em Fortaleza (CE) quando ele chegou ao Brasil e o levou de avião até Barretos, no interior de São Paulo. A Justiça decretou a prisão temporária do piloto, sua mulher e filho. Outro brasileiro destacado por Abadía foi Daniel Braz Marostica. Ele e a mulher, Ana Maria Stein, apresentaram o casal Abadía e Milareth Torres Lozano à médica Lorití Brueuel, responsável por algumas das cirurgias plásticas que transformaram o rosto do traficante. Marostica e Ana Maria figuram como proprietários das empresas do grupo em São Paulo, abastecidas com dinheiro do cartel. Ele também teria comprado as mansões de Abadía no Estado. A Justiça seqüestrou os bens rastreados do grupo, estimados em US$ 15 milhões, mas a PF crê que a quadrilha movimentou US$ 50 milhões. Tido como duro, frio e calculista por quem acompanhou seus depoimentos, Abadía surpreendeu ao chorar diante de seu advogado no parlatório do Presídio Federal de Campo Grande (MS). ''''Ele está extremamente abatido, está abalado e chorou ao falar da mulher e da família.'''' Segundo o advogado, Abadía disse temer que seus pais, primos, seus cinco filhos e três ex-mulheres sofram retaliações do cartel por sua eventual colaboração com o DEA. Todos moram na Colômbia e Abadía determinou que Alambert traga as ex-mulheres para visitá-lo, a partir de terça-feira, quando estará liberado para visitas e para o banho de sol.

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