PUBLICIDADE

Acareação de Suzane e Daniel deve ficar para quarta-feira

A segunda testemunha a ser ouvida é Cinthia Tucunduva, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)

Por Agencia Estado
Atualização:

Após uma hora e meia de intervalo para o almoço, recomeçou nesta tarde o julgamento de Suzane von Richthofen e dos irmãos Christian e Daniel Cravinhos. A segunda testemunha a ser ouvida é Cinthia Tucunduva, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Antes dela, Andreas von Richthofen, irmão mais novo de Suzane, foi ouvido no Fórum Criminal da Barra Funda. Ao todo, 14 testemunhas ainda deverão ser interpeladas. A previsão do juiz Alberto Anderson Filho, presidente do 1º Tribunal do Júri, é que a acareação entre Suzane e Daniel só ocorra na sessão de amanhã. Após o término do depoimento de Andreas, o juiz Alberto Anderson Filho disse à imprensa que julgamento está se arrastando porque ele tem medo de uma nulidade da sessão. O juiz informou que está tentando ser mais flexível tanto com os advogados a respeito dos irmãos Daniel e Christian Cravinhos quanto com o advogados da defesa de Suzane Von Richthofen. Anderson Filho não acredita que todas as testemunhas sejam ouvidas ainda nesta terça-feira. No total, eram 21 testemunhas, mas duas foram dispensadas há pouco. Uma delas é o pai dos irmãos Cravinhos, Astrogildo, e também Miguel Abdalla, tio de Suzane. A acareação entre Suzane e Daniel Cravinhos provavelmente será realizada amanhã, juntamente com a leitura da peças do processo. Andreas Primeira testemunha a ser ouvida no 1º Tribunal do Júri da Barra Funda, Andreas desmentiu algumas declarações feitas pela irmã em seu interrogatório de ontem. Andreas disse que teve vontade de ir a uma delegacia registrar boletim de ocorrência contra Suzane. Segundo ele, o desejo surgiu num dia que estava saindo para fazer aula de direção e viu Suzane passando em frente à casa. Disse ainda que ela rondava a casa da avó. "Eu não sei se é verdade, mas dizem que ela é psicopata. De uma pessoa assim, a gente pode esperar qualquer coisa", afirmou. Após o advogado de Suzane, Mauro Octávio Nacif, ler um bilhete escrito por Andreas em 22 junho de 2003, no qual dizia estar com saudades da irmã e ser contra o processo que a excluía da herança da família, Andreas disse que foi coagido pela irmã a escrever o bilhete quando ela esteve presa na Penitenciária Feminina da Capital. Andreas alegou ter escrito o bilhete porque era adolescente e não sabia o que sentia por Suzane. Segundo ele, a irmão teria pedido que ele escrevesse o bilhete, fazendo chantagem emocional, dizendo que o tio e uma advogada, chamada Cida, queriam vê-la na cadeia. Na época, Andreas disse não ter revelado ter sido chantageado emocionalmente porque não percebeu os objetivos da irmã. Questionado por Nacif, Andreas insistiu em negar a hipótese de que o pai deles, Manfred, estuprava a filha. "Meu pai era uma homem muito mais digno do que muita gente aqui", respondeu Andreas a Nacif. A principal contradição apresentada por Andreas é a respeito da pistola encontrada em junho do ano passado dentro de um urso de pelúcia da irmã. De acordo com a versão de Andreas, a arma teria sido trazida por Daniel e Suzane a teria escondido dentro do brinquedo. Suzane, no entanto, afirmou ontem em seu depoimento que a arma era de Andreas, que a usava para caçar. Bens A defesa de Suzane pediu ao juiz Alberto Anderson Filho, que a ré seja interrogada novamente, para ela dizer que quer abrir mão de todos os bens da família. Ontem, ela disse não ter interesse em bens materiais, mas não renunciou ao patrimônio da família. Na sexta-feira, o advogado Denivaldo Barni, que representa a jovem na esfera cível, disse que ela aceitaria renunciar aos bens se o irmão Andreas desistisse da ação de exclusão de herança que move contra ela. Segundo Barni, a ação, chamada "de indignidade", é humilhante. Quando o advogado de Suzane, Mauro Nacif, perguntou a Andreas se ela poderia retornar ao plenário, para ser interrogada novamente, chamando-a de "sua irmã, que tanto o ama", o jovem respondeu que: "Se Suzane tanto me ama, por que ela faz isso tudo comigo? Por que ela não me deixa viver em paz?" Relacionamento com os pais Andreas também frisou por diversas vezes que o relacionamento da jovem com os pais era bom e que o pai era menos severo que a mãe. Ele disse também que, no começo do relacionamento de Suzane e Daniel, havia a aprovação dos pais e que o casal Richthofen só teria se oposto ao namoro após descobrir que Daniel teria apresentado maconha a Suzane. O irmão de Suzane falou que a família dos irmãos Cravinhos sempre tratou ele muito bem. Sobre o dia do crime, Andreas falou que o primeiro a chegar no local antes da polícia foi Daniel e que foi ele quem contou sobre a morte dos pais. Depois da prisão dos três envolvidos no crime, Suzane pediu perdão desesperadamente ao irmão. Conforme relato de Andreas, uma vez Suzane tentou convencê-lo a deixá-la morar no apartamento da avó, fazendo chantagem emocional, alegando que se isso não ocorresse, ela iria voltar para a prisão. Mas Andreas não autorizou esta mudança. Acareação Após o interrogatório das testemunhas, será feita a acareação entre Daniel e Suzane, cujos depoimentos foram contraditórios na segunda-feira, 17. Há ainda a previsão da leitura das peças do processo, se houver tempo. O promotor Nadir Campos Junior queria o depoimento das testemunhas antes da leitura das peças do processo, pois, para ele, as testemunhas estavam muito cansadas e que a inversão da ordem dos procedimentos seria melhor. O promotor não soube dizer ao certo quantas testemunhas irão falar, de fato, no plenário, já que algumas já foram dispensadas e outras também poderão sê-lo. Para o promotor Roberto Tardelli, a acareação entre os três acusados do crime é necessária para esclarecer as contradições entre os depoimentos prestados ontem. "A primeira e a grande contradição entre todas é de quem teve a idéia macabra do prática do crime". Segundo o promotor, também houve contradições sobre o uso de drogas, da confecção dos porretes para o crime, quem efetivamente executou os golpes e também de quem teria prestado auxiliou as executores do crime. "Pelo menos ontem eu anotei que seria cerca de 14 ou 15 pontos que nós poderíamos sustentar que essa contradição justiçaria sim um pedido de acareação", explicou Tardelli. Relato frio Sobre o depoimento de ontem de Suzane, o promotor Roberto Tardelli disse que ficou estarrecido com o "relato extremamente frio" da jovem. "Parecia que não dizia respeito a ela. Impressionante a forma como se desliga da família", afirmou. O promotor reparou que, em seu relato, Suzane não se referiu à casa dos pais em nenhum momento como tal - falava sempre "minha casa, minha chácara". Considerou também que é "aterrador" o réu estudar o próprio processo. "Nunca vi disso", comentou. Tardelli encontrou 14 ou 15 contradições no depoimento dos 3 réus. Ele apontou que mudar a tese no dia do júri, como fez Christian ontem, ao negar que tenha golpeado Marísia von Richthofen, é "temerário". Vômito Campos insinuou que Suzane vomitou, ontem, propositalmente, para sujar as roupas que vestia. Ela passou mal duas vezes, por volta de meio-dia, e, ao vomitar, num banheiro, sujou a blusa e a calça que vestia. Para o promotor, ela pode ter sido orientada por seus advogados a agir assim para que tivesse de trocar de roupa. "O júri julga de forma diferente pessoas que estão com roupas comuns e com roupas de preso. Se ela troca de roupa e os dois outros réus não, isso pode influenciar na decisão do leigo", afirmou o promotor. Para evitar que isso acontecesse, os irmãos Cravinhos também trocaram de roupa, informou Campos Junior. Ele afirmou que os advogados de Suzane já haviam levado uma muda de roupa numa sacola para que ela mudasse. Contradições Em seus interrogatórios, os três réus entraram em contradição. Daniel Cravinhos inocentou seu irmão, Christian, dizendo que matou sozinho o casal Richthofen. Christian repetiu a versão do irmão, dizendo que apenas confessou o crime para protegê-lo. Suzane, por outro lado, se defendeu das acusações de Daniel, segundo quem ela teria fumado maconha antes de conhecê-lo e não era mais virgem. Suzane rebateu as declarações, dizendo que apenas conheceu as drogas após começar o namoro com Daniel. (Colaborou: Ellen Fernandes)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.