Acordo prevê bioquerosene para aviões nesta década

Empresas brasileiras e dos EUA atuam em conjunto para produzir combustível de origem vegetal, em escala global, em até 10 anos

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Por Denise Chrispim Marin
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A parceria que Brasil e Estados Unidos estão firmando para o desenvolvimento e a produção de biocombustível especificamente para uso na aviação civil é fruto de uma ação que envolve algumas das maiores empresas dos dois países. Os resultados concretos dessas pesquisas - isto é, a fabricação e o uso em escala mundial - podem chegar ao mercado ainda nesta década."A perspectiva é de começo de produção em escala global em médio prazo, entre os próximos cinco a dez anos", explicou Guilherme Freire, diretor de Meio Ambiente da Embraer.A fabricante brasileira de aviões participa de uma das pesquisas mais avançadas na produção de biocombustível para aviação. Além da Embraer, o projeto envolve no Brasil a Azul Linhas Aéreas - companhia do empresário David Neeleman que opera no Brasil desde 2008 - e, nos Estados Unidos, a Amyris (empresa do setor de biotecnologia com sede da Califórnia) e a General Electric (GE), gigante americana do setor elétrico. O trabalho conjunto das empresas prevê o voo experimental de um jato E-Jet no primeiro semestre de 2012. O projeto consiste no desenvolvimento de tecnologia de produção de bioquerosene para aviação a partir da fermentação da sacarose - proveniente da palha e da ponta de cana-de-açúcar, do milho e de outras fontes vegetais.Outra experiência prestes a receber a certificação internacional envolve a transformação de biomassa - pinhão-manso, camelina, babaçu e alga marinha - em bioquerosene. A dificuldade da aplicação dessa tecnologia está na necessidade de produção em escala dessas fontes de biomassa. Em princípio, Estados Unidos e Brasil poderão atuar juntos nesse campo, com apoio dos respectivos governos.Acordo. O anúncio dessa parceria específica para o setor de aviação civil estará amparado pelo Memorando de Entendimento na área de biocombustíveis, assinado em 2007 pelos então presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, em São Paulo.O acordo de quatro anos atrás não chegava a mencionar o bioquerosene, mas previa uma ampla cooperação para estabelecer padrões de produção para o etanol e, dessa forma, garantir a qualificação do produto como uma commodity.Um dos tópicos de maior interesse do Brasil era a possível abertura do mercado norte-americano para a importação de etanol de cana-de-açúcar do Brasil, como alternativa ao uso de combustível fóssil, o que acabou não ocorrendo como esperado. Nos últimos meses, o governo Obama desinteressou-se pelo etanol como alternativa ambiental e econômica para a gasolina e passou a incentivar a produção de veículos híbridos e, principalmente, os movidos exclusivamente a eletricidade.Para o Itamaraty, a perspectiva de atrair o governo dos Estados Unidos para a única opção sustentável para o querosene de aviação dará um novo alento ao memorando de 2007.A proposta, segundo um diplomata envolvido nesse tema, permite a união dos setores de fabricação de aviões, de motores, de biocombustíveis e de aviação civil dos dois países em torno de um "produto com futuro gigante".

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