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Acusado de tramar assassinato do diretor de Bangu 3 é preso

Esteves é acusado de seguir e monitorar os passos do diretor do presídio e facilitar o assassinato em outubro

Por Clarissa Thomé
Atualização:

A polícia prendeu Esteves Gouveia Barreto, o Rosinha, de 27 anos, acusado de ter participação no assassinato do tenente-coronel José Roberto Amaral Lourenço, então diretor do presídio de segurança máxima Bangu 3, em outubro passado. De acordo com o delegado Carlos Alberto Oliveira, da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos, Barreto atuou no levantamento dos hábitos do diretor e informou o trajeto que ele seguia para os homens que o executaram.  Veja também: Sete diretores foram mortos em 8 anos    Foto: Fábio Motta/AE Carro de Lourenço foi atingido por cerca de 60 disparos na Avenida Brasil, no subúrbio do Rio Rosinha - o apelido é uma alusão à cor do capacete que usava como motoboy - foi apanhado em investigação da DRAE sobre o tráfico de drogas e o tráfico de armas no Morro do Cruzeiro, na Penha, zona norte da cidade. Sem antecedentes criminais, ele é acusado de ser uma espécie de "faz tudo" do traficante Luiz Cláudio Corrêa, o Claudinho, que teve a prisão preventiva decretada pela morte de Lourenço - trazer e levar dinheiro e drogas, além de transmitir recados a mando do criminoso. Segundo Oliveira, Rosinha recebeu R$ 150 por dia em que ficou de "campana" em frente à casa do diretor. Foram três dias. No segundo dia, ele chegou a seguir Lourenço, mas os criminosos desistiram da execução porque o diretor não foi para a zona oeste, e sim para o centro da cidade. No terceiro dia, 16 de outubro, quando o tenente-coronel estava a caminho do presídio, Rosinha telefonou para os comparsas e informou o trajeto de Lourenço. Segundo o depoimento de Rosinha, Claudinho e outros quatro homens - Fabiano Atanásio, o FB, Faustão, Biscoito e outro que ele não identificou - cercaram o carro do diretor na Estrada de Gericinó. Fizeram mais de 60 disparos. "Vamos dar seqüência ao trabalho buscando prender esses criminosos (os executores). Essa empreitada não é das mais fáceis, já que são todos integrantes de uma quadrilha perigosíssima que ocupa um dos lugares de mais difícil acesso da cidade", afirmou o chefe de Polícia, Gilberto Ribeiro. Ele disse que ainda não é possível informar as motivações para o crime. Rosinha foi indiciado por associação para o tráfico e homicídio qualificado. As investigações sobre a morte do diretor estão a cargo da Delegacia de Homicídios. No dia 30 de outubro, foi decretada a prisão do traficante foragido Luís Cláudio Corrêa, o Claudinho, acusado de ter contratado os pistoleiros para assassinar Lourenço. De acordo com a denúncia, Claudinho seguia ordens dos traficantes presos Aldair Marlon Duarte, o Aldair da Mangueira, Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Ronaldo Pinto Lima e Silva, o Ronaldinho Tabajara. Sem escolta Agentes penitenciários disseram que a escolta do diretor do presídio havia sido retirada. A declaração dos agentes contradiz o secretário de Administração Penitenciária, Cesar Rubens Monteiro Carvalho, que disse, em entrevista no enterro, que a escolta foi retirada a pedido da vítima, que queria ter mais privacidade. O secretário culpou a falta de policiamento ostensivo nas ruas do Rio pela morte do diretor. Ele ainda criticou o ex-subsecretário de Unidades Prisionais, coronel Francisco Spargoli, por não ter percebido a necessidade de fornecer segurança ao ex-diretor. As declarações dos agentes contradizem também o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. No dia do assassinato, ele afirmou que foi "um opção pessoal" do diretor de Bangu 3 dispensar escolta. Segundo Beltrame, havia veículos blindados à disposição do tenente-coronel, mas ele "não fez questão" de usá-los.   Presídio A direção de Bangu 3 era dividida entre o tenente-coronel e seu irmão, o capitão Alexandre Amaral Lourenço. Lourenço cuidava do setor que abriga cerca de 450 presos, incluindo os 55 encarcerados na galeria B7, considerados o segundo escalão na hierarquia do Comando Vermelho. Entre eles está o chefe do tráfico do Morro do Turano, Ocimar Nunes Robert, o Barbosinha; Alexander Mendes da Silva, o Polegar, líder do tráfico na Mangueira; e Aldair Marlon Duarte, o Aldair da Mangueira, apontado como líder dos detentos. Segundo testemunhas, os bandidos emparelharam com o carro do militar, um Peugeot branco, e fizeram os primeiros disparos. Lourenço perdeu o controle do veículo e desceu por um barranco, na frente da Favela Promorar. Foi parar na Estrada de Gericinó. Após ser baleado, o diretor raspou a lateral do carro no muro da Escola Municipal Professor Ivan Rocco Marthi e parou no meio da rua. "Ouvimos tiros e depois um carro saindo em disparada", disse uma professora.  Lourenço era casado e pai de duas filhas. Atuava há quatro anos no sistema penitenciário e tinha fama de "linha-dura". Antes de Bangu 3, dirigiu a Casa de Custódia de Benfica. Em maio de 2004, sob sua gestão, a casa foi palco da pior rebelião do sistema carcerário no Rio, que resultou na morte de 30 presos. Na ocasião, Lourenço disse a deputados federais da Comissão de Direitos Humanos que estava sendo ameaçado de morte. No ano passado, denúncias e escutas autorizadas pela Justiça mostraram que os presos de Bangu 3 davam ordem aos comparsas por rádios portáteis. De dentro das celas, alguns chegavam a testar a droga que seria vendida nas favelas. Texto ampliado às 22h16 para acréscimo de informações.

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