
21 de agosto de 2019 | 16h18
Atualizado 22 de agosto de 2019 | 14h50
SÃO PAULO E CHARQUEADAS (RS)- Um adolescente de 17 anos atacou com golpes de machadinha seis alunos e uma professora do Instituto Estadual Educacional Assis Chateubriand, em Charqueadas, a 60 km de Porto Alegre (RS), na tarde desta quarta-feira, 21. A ação só não foi mais grave porque um professor tomou a machadinha do jovem. Nenhuma vítima sofreu ferimentos graves.
O jovem, que era estudante da instituição até o ano de 2015, diariamente levava a irmã mais nova para a escola. E foi nessa rotina diária que ele aproveitou para monitorar o dia a dia da instituição e o deslocamento dos alunos e professores. Após estudar minuciosamente o ataque de Suzano (SP), que ocorreu em março deste ano e terminou com um total de dez mortes, o jovem colocou dentro da mochila um litro de gasolina, um coquetel molotov, uma machadinha e uma corda.
A intenção do adolescente, conforme divulgou o delegado Marco Schalmes, era de atear fogo à escola, matar um jovem que seria sua desavença desde 2015 e, posteriormente, cometer suicídio. Entretanto, os planos não ocorreram exatamente como o planejado. Após ter jogado o coquetel molotov em uma das salas da instituição, causando um princípio de incêndio, e iniciar os ataques, o professor Juliano Montovani conseguiu impedi-lo.
Juliano, que tinha saído com os alunos para atividades de educação física, disse ter se assustado com o estrondo que causou a explosão do coquetel. Para ele, o barulho lembrava o de incêndio, e sua primeira reação foi proteger os alunos para que ninguém ficasse ferido. “Eu vi ele (o adolescente) com um machado na mão. E ele me enxergou e começou a atingir os alunos. Minha primeira reação foi arrancar da mão dele o machadinho, e foi quando ele caiu no chão. Eu tentei segurá-lo, mas os alunos gritavam: professor tem gente sangrando. Quando ouvi isso, só pensei em salvar as crianças e minha motivação foram minhas duas filhas.”
Ao todo, foram seis adolescentes atingidos. Dois meninos e uma menina de 14 anos, uma menina de 13 e duas meninas de 12 anos do 7.º ano. Os meninos foram atingidos na escápula, abdome e região dorsal e as meninas apresentaram ferimentos em decorrência da fuga. Encaminhados ao Hospital de Charqueadas, foram liberados.
O professor, que é pai de duas meninas de 3 e 6 anos, se emocionou. Conforme ele, no momento o “instinto de pai foi o que falou mais alto”. O professor afirma que não pensava mais em tentar correr atrás do agressor, mas apenas salvar as crianças. Juliano lembrou ainda que tentou conversar com o jovem. “Ele não tinha raiva no olhar, nem gritava nada, ele ficou calado o tempo todo.”
Ao fugir pulando o muro da instituição, o jovem correu por algumas ruas da cidade e seguiu para a casa do pai, que é separado da mãe, trocou de roupa e confessou o que havia feito. O homem, então, ligou para a Brigada Militar e entregou o filho. Na delegacia, o adolescente confessou o ataque e disse não ter encontrado o desafeto no local.
A promotora da Infância e da Juventude de Charqueadas, Daniela Fistarol, representou junto ao Juizado da Infância e Juventude da Comarca pela internação provisória do adolescente de 17 anos. O Ministério Público informou durante a noite que o pedido foi deferido.
O instituto, que tem 700 alunos em ensino fundamental, médico e técnico, divulgou nota em que diz estar “chocado” com o ocorrido. “Certamente faremos o possível para auxiliar os alunos, os professores e os funcionários na superação desse fato traumático, e também para reforçarmos a segurança.”
O vice-governador do Estado, que acumula o cargo de secretário estadual de Segurança, Ranolfo Vieira Junior, chegou ao município por volta das 15h30 para dar suporte às forças de segurança. O governador Eduardo Leite (PSDB) interrompeu viagem ao Uruguai. “Apoio aos alunos e suas famílias e comunidade”, disse no Twitter.
Na manhã de 13 de março, dois jovens entraram na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, e iniciaram um ataque que terminaria minutos depois com sete pessoas mortas - o atirador e o outro agressor, que usou uma machadinha, também morreram. O tio de um dos agressores havia sido assassinado antes de a dupla se dirigir à escola. Os autores do massacre eram ex-alunos da escola.
A investigação da polícia chegou a quem vendeu a arma usada no crime. Quatro homens respondem por homicídio e venda ilegal de arma de fogo no Tribunal de Justiça de São Paulo. Os réus estão respondendo por dez assassinatos (incluindo os dois atiradores), além de outras 11 tentativas – os feridos no ataque.
Os atiradores G. T. M., de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, morreram no ataque. Outro jovem de 17 anos, apontado como “mentor intelectual, apesar de não ter acompanhado a dupla no dia do crime, foi condenado pela Justiça em maio. Os três eram ex-alunos da escola em Suzano. Para a Polícia Civil, os autores planejaram matar um desafeto de cada, antes de promover a chacina dentro do colégio.
Segundo a investigação, os atiradores começaram a idealizar o massacre em 2015, motivados pelo atentado em um colégio de Columbine, nos Estados Unidos, que terminou com 15 mortos em 1999. A meta seria superar esse número, diz a Polícia Civil.
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