Adolescentes são encontradas em mata após 9 dias desaparecidas

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de lutarem pela sobrevivência durante nove dias, duas adolescentes que estavam desaparecidas numa mata da zona rural de Mirabela, no Norte de Minas, desde o dia 1º de setembro, foram encontradas ontem. Elas estavam muito feridas, mas não correm risco de vida. Eliane Fiúza e Cilene Silva, ambas de 15 anos, saíram a pé do município para visitar o trabalhador rural José Messias, tio de Cilene, e se perderam numa região conhecida como Cabeceiro, a cerca de 20 quilômetros da cidade. As adolescentes contaram que já era noite quando elas avistaram um reflexo de água e pensaram que fosse a luz de uma casa. Na verdade, tratava-se de uma serra de aproximadamente 30 metros de altura, conhecida como Cabeceira da Chapada. Ao caminharem para o local, as duas caíram do penhasco, sofrendo várias fraturas e escoriações pelo corpo. Parte das roupas das meninas ficou pendurada em galhos de uma árvore próxima ao paredão de pedras. Somente cinco dias depois do acidente os familiares ficaram sabendo do sumiço das adolescentes. Foi quando Messias visitou a cidade e deu a notícia de que a sobrinha e a amiga não tinham chegado até sua casa. As famílias, porém, não comunicaram o desaparecimento das meninas às polícias Militar e Civil de Mirabela. Na queda, Cilene sofreu fratura bilateral da bacia e Eliane quebrou um dos tornozelos, além de fraturar também um dos lados da bacia. Durante todo esse tempo, sem poder andar, as meninas precisavam se arrastar até um riacho para beber água e se alimentavam apenas de jatobá, uma fruta nativa do cerrado. As adolescentes só foram encontradas por parentes de Cilene por volta das 12h de ontem. Elas foram socorridas e levadas para o Hospital São Sebastião de Mirabela, onde continuam internadas. Segundo o médico ortopedista José Antônio Rodrigues, que atendeu as adolescentes, elas estão fora de perigo, mas só deverão voltar a andar dentro de apenas 60 dias. "Elas estavam muito desidratadas porque se alimentavam apenas de uma fruta. Agora elas necessitam de repouso absoluto, porque foram fraturas graves", disse o médico. "Pela graça de Deus nós estamos vivas", agradeceu Cilene, ao se recordar dos momentos mais dramáticos. "A serra é mais alta que um prédio e nós pensamos que ninguém ia nos achar mais. Não passamos fome, só que para comer o jatobá é preciso tomar muita água e eu tinha de ir arrastando até o rio porque minha amiga quase não conseguia andar". Emocionada, a mãe de Eliane, Jaci Fiúza, disse que a filha "nasceu de novo". Muitos moradores foram visitar as adolescentes no hospital de Mirabela, comovidos com a história vivida por elas. Jatobá O professor do Núcleo de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Paulo Sérgio Nascimento Lopes, um estudioso das frutas do cerrado, considerou importante para a sobrevivência das adolescentes, o fato de elas terem se alimentado, durante todo esse tempo do jatobá. "É uma fruta rica em vitamina E, ferro, fósforo e cálcio, além de possuir componentes energéticos. Isso, certamente, ajudou a sustentá-las e contribuiu para a sobrevivência delas".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.