Advogado diz que CPI autorizou cópia de depoimento

Acusado de ter comprado gravações de depoimentos para Marcola, líder do PCC, Sérgio Wesley Cunha negou envolvimento com a facção

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Por Agencia Estado
Atualização:

O advogado Sérgio Wesley Cunha, acusado de ter comprado a gravação dos depoimentos do diretor do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado de São Paulo (Deic), Godofredo Bittencourt, e do delegado Rui Ferraz à CPI do Tráfico de Armas, disse que foi autorizado pelo secretário da CPI, cujo nome ele não recorda, a obter uma cópia do áudio do depoimento de seu cliente, Leandro Lima de Carvalho, acusado de fazer parte do PCC. Cunha foi acusado pelo funcionário terceirizado da Câmara dos Deputados, Arthur Vinícius da Silva, de ter, juntamente com a advogada Maria Cristina de Souza Rachado, comprado a gravação dos depoimentos secretos dos delegados por R$ 200 e de entregá-la ao líder do PCC, Marcos Camacho, o Marcola. Em entrevista coletiva, nesta quinta, o advogado disse que Arthur Vinícius combinou de fazer a gravação do CD em uma loja especializada em um shopping para transferir a gravação do chip para um CD, em um aparelho de uma loja especializada. Segundo, Cunha a advogada Maria Cristina de Souza Rachado lhe solicitou uma cópia deste depoimento, porque isso a ajudaria na defesa de seu cliente, já que Leandro havia negado qualquer envolvimento com o PCC. Questionado se ele sabia que Marcola era cliente da advogada, Wesley ironizou: "Isso todo mundo sabe, inclusive vocês." Contradição Ele disse que, depois de receber a cópia do depoimento de seu cliente, seguiu direto para o aeroporto de Brasília, para retornar a São Paulo. Segundo ele, a advogada continuou na loja com o funcionário terceirizado da Câmara. Indagado se havia pago pela cópia do depoimento, ele disse que não. Indagado novamente, ele disse que a advogada pagou o material, mas em seguida negou, disse que se confundiu e não sabia se ela havia pago algo a Vinícius ou não. "Posso dizer é que não paguei nada a Vinícius, e não sei se a advogada fez algum pagamento", emendou. Cunha negou qualquer participação no vazamento do depoimento secreto, prestado na quarta-feira da semana passada, dia 10. "Me pegaram de bode expiatório para fins eleitoreiros. Você acha que uma informação dessa magnitude seria vendida por apenas R$ 200? Isso é história da carochinha", ironizou. "Não sou advogado do PCC, nem do PT, nem do PSDB, e nem de qualquer facção criminosa, fui a apenas a Brasília acompanhar o depoimento do meu cliente Leandro Lima de Carvalho", explicou o advogado. Carvalho depôs na CPI porque foi preso no início de maio com armamentos de guerra e acusado por policiais do Deic de tentar usar esse arsenal para tentar resgatar Marcola da prisão. "Fins eleitoreiros" Ao alegar que seu nome foi envolvido no episódio por razões eleitoreiras, Wesley disse que o presidente da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), "é do mesmo partido que indicou o vice de Alckmin (pré-candidato do PSDB à Presidência da República)". O advogado também colocou sob suspeição o depoimento do funcionário terceirizado Vinícius da Silva, destacando que o fato surgiu apenas "para desviar o foco da falta de segurança que impera em São Paulo". E ironizou: "Quero que vocês (a imprensa) acompanhem o destino deste funcionário daqui a uns dois meses, para ver se ele não vai estar trabalhando no gabinete de algum político." Apesar de Leandro ser acusado por policiais do Deic de ser integrante da facção criminosa, Wesley disse aos repórteres que seu cliente não está envolvido com o PCC. Segundo o advogado, seu cliente lhe revelou que foi vítima de armação da polícia, e que jamais esteve envolvido com o PCC ou qualquer outra facção criminosa. Wesley disse que viajou para São Paulo juntamente com o diretor do Deic, Godofredo Bittencourt, mas que não conversaram nada a respeito do depoimento do delegado. Ele disse que foi a primeira vez que esteve em Brasília e também em uma CPI. Desafio O presidente do conselho da Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo (Acrimesp), Ademar Gomes, que defende Cunha, desafiou a polícia e a CPI do Tráfico de Armas a divulgarem o conteúdo da fita que teria sido usada para repassar informações colhidas em uma sessão da comissão ao PCC. "Eu acredito na versão do meu cliente, de que ele não está envolvido nesse episódio. Quero que a fita seja divulgada publicamente." O presidente do Conselho da Acrimesp disse que Wesley irá depor na CPI do Tráfico de Armas na próxima terça-feira, às 15h. E adiantou que vai requerer uma acareação entre ele e Silva. Durante a entrevista, concedida na sede da Acrimesp, na capital paulista, Gomes citou que foi procurado por telefone pela advogada Maria Cristina de Souza Rachado, também acusada de envolvimento neste episódio. "Ela estava muito nervosa quando me telefonou, ficou de vir aqui hoje, mas ainda não apareceu."

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