Aécio aciona seu rolo compressor, de olho no pós-Lula

Com eleição certa para o Senado, ex-governador deve ver seu candidato ao governo impor dura derrota ao PT no Estado

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Por Eduardo Kattah e Christiane Samarco
Atualização:

No segundo maior colégio eleitoral do País, o resultado das eleições irá além da disputa pelo governo de Minas Gerais, liderada com folga pelo governador Antonio Anastasia (PSDB), à frente do ex-ministro das Comunicações Hélio Costa (PMDB). Mais do que os titulares do governo, do Congresso Nacional e da Assembleia Legislativa, as urnas mineiras devem revelar o fortalecimento do ex-governador Aécio Neves como um dos líderes da era pós-Lula.Se confirmados os prognósticos dos institutos de pesquisa às vésperas da votação, Aécio Neves, já apontado como nome certo de Minas no Senado, será o líder mais vitorioso do PSDB. "Ele vai fazer barba, cabelo e bigode", aposta o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Ranulfo, convencido de que a hegemonia paulista do PSDB está com os dias contados.O cientista político acredita que o PSDB mineiro terá mais sucesso nesta eleição do que a regional de São Paulo, tida até agora como a mais forte do partido em todo o Brasil. Pelas pesquisas de intenção de voto, Anastasia vai continuar no comando do Palácio Tiradentes, por obra política de Aécio, que ainda deve se eleger em dobradinha com o ex-presidente Itamar Franco (PPS). Isso significa que, na prática, Anastasia pode ser eleito contabilizando como seus os três votos de Minas no Senado. Além da provável dupla Aécio-Itamar, o terceiro senador mineiro - Eliseu Resende (DEM) - também é um aliado que chegou ao Congresso, em 2006, pelas mãos do ex-governador tucano.Geraldo Alckmin, no entanto, deve voltar ao governo de São Paulo pelo PSDB sem a garantia do apoio da bancada paulista no Senado. As pesquisas eleitorais indicam que seu grupo não conseguirá emplacar um aliado em nenhuma das duas cadeiras de senador hoje em disputa. A terceira vaga de senador por São Paulo já está com o petista Eduardo Suplicy. Embora disparado à frente da corrida pelo governo paulista, Alckmin não conseguiu impulsionar a candidatura de Aloysio Nunes (PSDB) ao Senado, mesmo depois de Orestes Quércia (PMDB) ter saído da disputa para tratar da saúde, declarando voto no tucano.A eventual vitória completa de Aécio hoje provocará uma derrota tripla para o PT mineiro, a despeito do esforço eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para eleger Hélio Costa, com o vice petista Patrus Ananias, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT) para o Senado. Na suplência de Pimentel, o deputado mais votado do PT mineiro, Virgílio Guimarães, pode ser arrastado pelo fracasso eleitoral, quando contava com a vaga de titular na hipótese de o ex-prefeito virar ministro em um governo de Dilma Rousseff. Acordo indigesto. Os petistas, na verdade, não digeriram o acordo forçado pelo presidente Lula, segundo o qual o PT teve de abrir mão da candidatura ao governo de Minas em nome da aliança nacional com o PMDB para eleger Dilma Rousseff. A incompatibilidade entre as duas legendas tem registro na história política recente do Estado. Em 1994, os petistas ficaram com a candidatura do tucano Eduardo Azeredo, exatamente contra o peemedebista Hélio Costa. Enquanto o tucanato se queixava do rolo compressor montado por Lula em todo o País para eleger sua sucessora, em Minas o chororô estava no campo lulista. "A campanha do Aécio é muito agressiva, com milhares de cabos eleitorais espalhados nas esquinas", reclamou Costa, ao falar de sua "frustração de ver o processo democrático lesado pela força e o aparato governista". A frustração maior de Costa foi assistir aos tucanos surfando na onda "Dilmasia" - o apoio simultâneo à presidenciável do PT e a Anastasia. O peemedebista ficou inconformado com a desvinculação entre as campanhas da reeleição de Anastasia e do tucano José Serra para presidente.A tática de Lula e seus aliados em Minas foi nacionalizar a sucessão estadual, para pregar a conveniência administrativa de ter um governador e uma presidente do "mesmo time". Em Minas, como no restante do País, o presidente da República foi protagonista da campanha, sempre com o discurso em defesa do "time de Lula". Para driblar os apelos de um líder nacional com 80% de popularidade, Aécio jogou com os valores e a independência dos mineiros na escolha de seus candidatos. E, a partir daí, fez uso do mesmo argumento de Lula, em favor da continuidade de um projeto de gestão bem-sucedido, com Anastasia.

 

 

 

 

 

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