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Água na pista: um velho problema do aeroporto de São Paulo

Congonhas foi construído na década de 30 para tentar contornar as enchentes

Por Agencia Estado
Atualização:

O fechamento de pistas de aeroporto por causa da chuva, como aconteceu nesse semana em Congonhas, não é um problema recente em São Paulo. É tão antigo que o próprio aeroporto de Congonhas foi construído na década de 1930 para tentar contorná-lo. Até então, a pista para aviões em São Paulo era o Campo de Marte, que - por ficar próximo a um rio Tietê ainda sinuoso e com grandes áreas de várzeas alagáveis - sofria alagamentos constantes nas épocas de chuva. Para resolver o problema foi escolhido como local para o novo aeroporto uma área distante dos limites urbanos, do outro lado da cidade, no antigo bairro de Indianópolis. Com uma São Paulo ainda a caminho da explosão demográfica dos anos seguintes, a região escolhida possuía várias chácaras e sítios. O lugar que futuramente receberia gigantescos Boeings e Airbus na época era agitado por corridas de cavalos que competiam numa raia existente no local. A primeira pista de Congonhas foi inaugurada em 12 de abril de 1936. A empresa construtora foi a S.A. Auto Estradas, que naquele domingo convidou a população da cidade para uma tarde de aviação. Executando vôos acrobáticos e de demonstração, os passageiros mais audaciosos foram transportados "na base de 50 mil réis por 10 minutos de vôo". Uma foto aérea feita no dia mostra como a paisagem ao redor era formada apenas por campos e algumas poucas vias. A imagem foi captada a bordo de um avião protótipo do modelo Paulistinha, no qual voavam Sylvio Reis e o piloto norte-americano Orton Hoover. No centro da foto pode se ver a Auto-Estrada para Santo Amaro (futura avenida Washington Luiz) passando na beirada do campo e curvando-se para a direita até cruzar a rua Tamoios, ao fundo. A rua que se vê paralela à Washington Luis, e que a ela se liga pelas travessas, é a avenida Barão de Rego Barros. A primitiva pista do campo de pouso, situada onde se ergue hoje o saguão da Ponte Aérea, fazia parte do projeto original, que previa um conjunto de quatro pistas de pouso, entrecruzadas no formato aproximado de um asterisco. Mais tarde esta disposição foi abandonada, optando-se por duas pistas mais alinhadas com a avenida Washington Luiz, e que fizeram desaparecer a pista original. No canto superior esquerdo da foto podem ser vistos os primeiros imóveis do bairro, onde chegava a linha do bonde Jabaquara. A partir das negociações do governo paulista para a aquisição da área adicional para o projeto completo do aeroporto, as obras de construção foram sendo rapidamente conduzidas, com a instalação da torre de controle, hangares, oficinas, edifício de embarque e a ampliação das pistas. No entanto, 13 anos mais tarde, em 1949, já se admitia que a capacidade de tráfego de Congonhas estava saturada. No ano seguinte Congonhas já ocupava o terceiro lugar entre os aeroportos mais movimentados do mundo, o que iniciou as discussões para a construção de um novo aeroporto. Setenta anos depois daquela tarde de domingo, o aeroporto estaria completamente cercado pelo crescimento da metrópole, impossibilitando qualquer projeto de ampliação.

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