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Ainda pode haver armas com presos em Bangu 3

Por Agencia Estado
Atualização:

O diretor geral do Departamento do Sistema Penitenciário (Desipe), major Hugo Freire, admitiu que o arsenal mantido pelos presos dentro de Bangu 3 entrou no presídio com a conivência de agentes penitenciários. Segundo ele, o órgão preparou um plano de identificação de todos os agentes que trabalharam no presídio nos últimos doze meses. Eles sofrerão uma devassa em suas vidas fiscais. Freire admitiu a possibilidade de ainda existirem armas dentro do presídio. Freire informou que 14 agentes foram afastados e estão sendo investigados por suspeita de cumplicidade com os detentos. Ainda serão ouvidos os 17 que estavam de plantão durante a tentativa de fuga ocorrida na última terça-feira, seguida de rebelião que durou 12 horas. De acordo com o diretor, a corregedoria do Desipe passou por uma reestruturação para que os agentes envolvidos em corrupção sejam punidos com rigor. "Nós tínhamos duas comissões permanentes de sindicância, que foram aumentadas para quatro. Nosso corregedor despacha hoje todo dia até as 22 horas", informou. O arsenal dos presos estava escondido no interior da parede do refeitório do presídio e não foi descoberto durante a última revista, na semana passada, porque na ocasião não foram usadas detectores de metal. Segundo ele, agentes que estavam em Bangu 3 durante o motim disseram que viram cinco fuzis AR-15 com os presos, mas só três foram apreendidos depois da rebelião. O major acredita que o material recolhido entrou na unidade antes de ele assumir a direção do Desipe, há um mês. Além dos fuzis, havia dois revólveres, cinco pistolas, duas granadas, 10 carregadores de metralhadora, 313 cartuchos de balas de diferentes calibres, um coquetel Molotov e cinco quilos de explosivos. "O próprio estado de deterioração das armas e dos explosivos nos mostrou que era um material antigo", afirmou. O diretor do Desipe afirmou que a ação na última terça-feira foi uma demonstração do ?desespero? dos bandidos ante o combate da secretaria ao crime organizado. "O fato de termos frustrado essa fuga não foi obra do acaso. Foi fruto de muito trabalho." O secretário de Justiça, Paulo Saboya, disse que os presos que participaram do motim não serão isolados antes que a comissão que investiga o episódio conclua o trabalho. Saboya afirmou que Bangu 3 é a principal preocupação do Desipe atualmente, por concentrar os líderes do Comando Vermelho. "Desde o motim de 2001, o presídio estava nas mãos dos bandidos. Até para colocar grades nos cubículos precisamos do Batalhão de Choque, senão os operários não conseguiam trabalhar." Lá estão 832 detentos. Quarto escalão Os homens que articularam a tentativa de fuga de Bangu 3 com uso de explosivos plásticos C-4 são todos do terceiro e do quarto escalões do tráfico, segundo o chefe de Polícia Civil Zaqueu Teixeira. "Eles não têm poder de articulação, de organização ou mesmo de comando. Mas estão ascendendo por falta de opção", afirmou. O delegado comparou os criminosos que se reuniram na Favela da Rocinha para tramar a fuga a Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco. "Ele passou de ?soldado? do tráfico a líder de quadrilha, com as prisões dos seus superiores". Zaqueu Teixeira disse que a prisão do grupo está entre as prioridades da polícia. "Temos todo um trabalho de tirar de circulação os que surgem como eventual liderança. Os verdadeiros líderes estão presos, e vamos prender também aqueles que estão ascendendo", afirmou. O delegado disse que ainda está levantando os nomes de todos os traficantes que participaram da reunião na Rocinha, mas já sabe que entre eles estavam Evanilson Marques da Silva, o Dão do Morro da Providência, André Anchieta Duarte, o Menininho do Jacarezinho, Luciano Barbosa Silva, o Lulu, da Rocinha, e Márcio Batista da Silva, o Dinho Porquinho da Favela Mandela. Todos foram delatados pelo traficante Adriano Ferreira dos Santos, o Tieneia, suspeito de articular os ?bondes? que atacaram prédios públicos, preso ontem. Teixeira disse que não é possível comparar as ações do tráfico com ações de guerrilha. "Eles não têm esse nível de articulação. Apenas se aproveitam de eventos. Os ataques foram uma tentativa de tirar o foco da polícia da fuga de Bangu", disse. Para o delegado, o Palácio Guanabara foi apenas mais um alvo. "Eles pegaram uma reta do Rio Sul ao Túnel Santa Bárbara, e atiraram no que tinha pelo caminho. Não há nenhuma mensagem por trás desse ataque", acredita. Hoje não havia reforço no policiamento nos pontos que sofreram ataques na quarta-feira. Somente de madrugada houve esquema especial no Palácio Guanabara, no shopping Rio Sul e na 6ª Delegacia Policial. Durante o dia, o patrulhamento foi normalizado. O chefe de Polícia disse não ver nenhum motivo para que Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e os outros cinco presos do Batalhão de Choque, permaneçam mais tempo isolados. "Depois que forem concluídas as obras em Bangu 1, ele será realmente um presídio de segurança máxima." A governadora Benedita da Silva (PT) sobrevoou de helicóptero a área de Bangu 1 e percorreu as galerias do presídio. Ela conheceu ainda o novo sistema de vigilância da penitenciária, que conta com 16 câmeras monitoradas por computador, 24 horas por dia. "Com a tecnologia moderna instalada e as reformas, a segurança do presídio será verdadeiramente máxima", afirmou.

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