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Alemão aposta em pousada em favela do Rio

Ele já comprou 17 barracos no Vidigal

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Por Redação
Atualização:

A compra de 17 casas do Morro do Vidigal, em São Conrado, zona sul do Rio, pelo misterioso investidor alemão Rolf-Rüdiger Glaser, da ONG Vidigal Feliz, está mexendo com os moradores da favela. A idéia de Glaser é construir pousadas e instituir cursos de capacitação dos moradores para receber e faturar com turistas o ano inteiro. O investimento inicial da empreitada não foi divulgado, mas pode chegar a R$ 700 mil. "As intenções dele são boas. O projeto vai criar emprego e renda para os trabalhadores", acredita o presidente da Associação dos Moradores do Vidigal, José Valdir Correia Cavalcanti, de 38 anos. Pernambucano de Garanhuns, ele mora há 19 anos na favela e diz que a comunidade está "abandonada pelo poder público" após 15 anos sem as obras municipais do Favela-Bairro. Também foi excluída do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Localizado por telefone pelo Estado, Glaser passou a ligação para seu assistente, que se identificou como Sandro Vargas. Segundo ele, o investidor prestará esclarecimentos à imprensa apenas daqui a três semanas, quando pretende receber a resposta do pedido de alvará na Prefeitura do Rio e finalizar algumas negociações com outros investidores. No site da ONG, Glaser se diz "um banqueiro, investidor e filantropista. Um verdadeiro cosmopolita apaixonado pelo Brasil". A esposa e a filha dele trabalham no projeto. As negociações dos imóveis, em sua maioria não legalizados, foram fechadas entre o alemão e os moradores na Associação de Moradores. Os preços dos barracos ficaram entre R$ 8 a R$ 20 mil, mas algumas casas foram negociadas por até R$ 80 mil. De acordo com o presidente da Associação, todos os moradores já descontaram os cheques que receberam do investidor. No morro, as casas compradas estão pichadas com a inscrição "ONG" e numeradas. As pousadas ficarão na região conhecida como "Arvrão", por causa de uma árvore grande no local, onde fica um dos mirantes da favela com vista para o mar de São Conrado, Leblon, Ipanema, Copacabana e até parte da Lagoa Rodrigo de Freitas. Como é comum nos morros cariocas, a parte mais alta é uma das mais abandonadas e de difícil acesso. A compra mais cara foi a casa de um advogado na parte baixa da favela. O dono do imóvel, cuja fachada não difere de uma residência de classe média alta, fechou a venda para o alemão em cartório, sem revelar os valores à Associação. Até o momento, o presidente da entidade calcula que o alemão já desembolsou pelo menos R$ 340 mil, mas reconhece que o investimento inicial no projeto pode chegar a R$ 700 mil. Receber turistas não é novidade no Vidigal. Alguns moradores já alugam suas casas para visitantes no réveillon e no carnaval. No entanto, além das vielas íngremes, a vinda de mais turistas o ano inteiro pode esbarrar na presença ostensiva de homens armados. Na quinta-feira, um homem estava com uma carabina em um bar próximo da região onde ficarão as pousadas. Desde 2005, o Vidigal vive sob constante medo de uma invasão da facção criminosa Comando Vermelho, que perdeu o controle das bocas-de-fumo para a Amigos dos Amigos (ADA) em 2005.

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