Blumenau, o município com mais vítimas fatais, ainda vive o luto, o sofrimento dos desabrigados e a incerteza do amanhã. Centenas de ruas estão interditadas e as casas dos morros, ameaçadas. Num sobrevôo, pode-se ver o estrago. Ruas enlameadas, dezenas de deslizamentos, muros que vieram abaixo, um cemitério dividido ao meio. Há até mansões condenadas, à beira de encostas. Há pelo menos duas semanas, as equipes da Defesa Civil começaram a remover 200 famílias de áreas de risco. Mas a maioria dos deslizamentos fatais ocorreu em terrenos que não estavam entre as prioridades. Eram, nas palavras dos próprios moradores, lugares "que só viriam abaixo com o fim do mundo". Em dois dias, o temporal que caiu equivaleu a dois meses ininterruptos de chuva. No Morro Velha, no Ristow, morreram 5 das 20 vítimas confirmadas na cidade. Maísa Chiminelli, de 22 anos, perdeu a mãe, o pai e a irmã Sabrina, de 9 anos. Eles foram soterrados, enquanto dormiam. "Escutei como se fosse um furacão, um redemoinho arrancando árvores, tudo o que vinha pela frente." Ela estava na casa do namorado, porque havia decidido passar a noite com ele, por causa do forte temporal. Dona da Confecção Biaddy, Eliana Beatriz Chiminelli, de 39 anos, mãe de Maísa, tinha acabado de expandir a fábrica, construindo um novo galpão. Fazia planos para um negócio que só prosperara desde que iniciou as atividades, há seis anos. "Vi de longe o morro descendo, indo na direção da casa dos meus pais. Só pude olhar." Na destruição, todas as máquinas, dois carros, tecidos, roupas prontas se perderam. Continuam debaixo da lama e a prioridade das equipes de resgate ainda é procurar por corpos e desaparecidos. Ontem, encontraram sete pessoas debaixo de um deslizamento. Os corpos de Eliana Beatriz, Sandro e Sabrina foram enterrados no Cemitério da Paróquia da Cruz. O clima era de tristeza entre parentes e vizinhos. Alessandro da Silva, de 30 anos, dono da confecção Tales, que também ficava no Ristow, perdeu tudo e foi obrigado a abandonar seus bens. "Só deu tempo de pegar a sogra, o sogro, minha mulher, meus filhos e correr. Foi um desespero." Adriana Maciel Lana, de 27 anos, lembra do desespero. Ela estava no quarto, ouviu cachorros latindo em desespero e saiu para fora carregando no colo o filho Bryan, de 5 meses. Não teve tempo para mais nada. A avalanche de terra já estava avançando como uma onda, arrastando e engolindo casas e carros. "Gritei para o meu marido (Marcos) para ele, pelo amor de Deus, tirar nosso outro filho do quarto." Um vizinho ajudou Marcos a estilhaçar os vidros e entrar pela janela para retirar Ruan Pablo, de 5 anos, que dormia em seu quarto. Ao ver o menino nas mãos do pai, ela então tentou sobreviver. A lama já estava na altura do seu quadril, mal podia andar. "Saí gritando, desesperada, pedindo ajuda, mas todos estavam tentando se salvar."