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´Aliança Tabajara´ prejudica Alckmin, diz cientista político do Ibmec

Estudioso vê apoio do casal Garotinho como erro estratégico na campanha do tucano

Por Agencia Estado
Atualização:

No primeiro turno, a operação dos petistas para comprar o dossiê Vedoin prejudicou a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e mereceu a alcunha de Dossiê Tabajara, dada pelo ministro Tarso Genro. No segundo turno é a formalização do apoio do ex-governador do Rio, Anthony Garotinho e da mulher dele, Rosinha Matheus, à campanha do tucano Geraldo Alckmin que ganha o rótulo Aliança Tabajara e pode prejudicar o candidato do PSDB. A avaliação é do cientista político Carlos Melo, professor do Ibmec São Paulo. Ele acredita que Alckmin promoveu a Aliança Tabajara ao se deixar fotografar com Garotinho. "Apoio no segundo turno não se rejeita. Mas o candidato não precisava promover o encontro logo no início da campanha", diz Melo à Agência Estado. "Podia ter esperado para tirar a foto no último sábado antes da eleição", ironiza, ao estimar que Garotinho pouco agregará ao tucano. Melo lembra a greve de fome que Garotinho fez em protesto a denúncias contra ele. "A população não deu a menor bola". O cientista vê um erro estratégico na campanha tucana, enfraquecendo a confrontação à Lula no campo da ética. "Alckmin não poderá mais usar o discurso do diga-me com quem andas e direi quem és." A aliança pode causar o definhamento da campanha de Alckmin no Rio de Janeiro. No Estado, debandaram o prefeito do Rio, César Maia (PFL), e a candidata ao governo estadual Denise Frossard (PPS). O deputado Fernando Gabeira (PV), mais votado entre os eleitores fluminenses, anunciou neutralidade. "Com seu anúncio de voto nulo, Denise Frossard certamente quis dizer: ´Não votem em Alckmin´", analisa Melo. "O destino dos votos de Heloisa Helena no Rio é uma incógnita", acrescenta, ao lembrar que a candidata derrotada do PSOL teve 1,4 milhão de votos no Estado (mais de 17% dos votos válidos). O estudioso acredita, no entanto, que os erros são insuficientes para abalar as chances de Alckmin vencer a disputa. Melo reconhece a existência de uma onda pró-Alckmin na classe média, principalmente nas regiões metropolitanas, mas ainda longe de ser uma ´tsunami eleitoral´. "A eleição começou do zero e há um aquecimento eleitoral. Não dá para dizer nem que Lula saiu na frente." Matematicamente, o cientista político admite alguma vantagem petista sobre o tucano, já que Lula recebeu, no primeiro turno, 48,61% dos votos válidos, e Alckmin, 41,64%. Ele salienta, porém, que Alckmin foi bem nos Estados do Centro-Oeste e Sul, e muito bem em São Paulo. "Lula luta para empatar o jogo. Os apoios que recebeu, até agora, não equivalem à performance de Alckmin em São Paulo e no Sul." Para buscar estas alianças, Lula deve se aproximar dos aliados que disputarão o segundo turno no Paraná, Roberto Requião (PMDB); Santa Catarina, Esperidião Amim; e Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT). "Há uma nova onda Lula no Nordeste, trazida pela vitória de Jacques Wagner na Bahia, no primeiro turno", diz Melo. "Se crescer um pouco mais, isso significar a vitória." No primeiro momento, a campanha de Lula trabalha por um resfriamento dos ânimos. Ao gosto do presidente da República e candidato à reeleição, Melo vale-se de uma metáfora futebolística: "O time de Lula ganhava o campeonato com o empate, mas tomou um gol ao final da partida. Agora, a torcida e o adversário estão em euforia. Vai começar um terceiro jogo, uma prorrogação". Lula usou voz baixa e calma na primeira entrevista coletiva, gerando resfriamento da campanha e dos adversários. "O adiamento do reinício do horário eleitoral de rádio e televisão também a campanha, favorecendo os petistas", reforçou. Melo diz que, para vencer, Alckmin deve ir além do debate ético. "O que vai pesar mesmo é o programa de governo e como Alckmin pretende se diferenciar de Lula". O estudioso destaca que Alckmin precisa reverter a abstenção de brancos e nulos a seu favor. O tucano deve, ainda, tirar os votos conquistados por Lula. "Se for para ser tudo exatamente igual ao hoje, por que a população não reelegeria um presidente que paga o Bolsa-Família?"

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