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Alta temperatura fez voo da Copa Airlines ser cancelado

Aeronave que iria de Porto Alegre ao Panamá, no dia 3, não decolou porque termômetros marcavam quase 40°C e havia riscos, diz a empresa

Por Monica Reolom
Atualização:

Com temperaturas oscilando perto dos 40°C, Porto Alegre registrou um fato inusitado no dia 3, uma sexta-feira: o cancelamento de um voo da Copa Airlines por causa do calor. O voo, com destino ao Panamá, deveria sair às 12h15 e, segundo a companhia aérea, "teve de ser adiado por causa de restrições operacionais causadas por temperaturas elevadas no horário, no Aeroporto Internacional Salgado Filho".

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Os passageiros, que foram informados do motivo do cancelamento quase duas horas após terem embarcado, se mostraram indignados com a situação. Uma mulher afirmou que ingressaria com "as ações judiciais cabíveis para buscar tanto ressarcimento material como moral" pela demora, falta de informação e justificativa dada pelo cancelamento do voo.

Mas, afinal, qual é o problema de decolar com temperatura elevada?

"Em situações de intenso calor, a densidade do ar cai e, consequentemente, o volume de ar que entra nos motores a jato também cai, o que interfere diretamente na potência do motor e na capacidade de o avião decolar", afirmou, em nota, a Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear). Diferentemente do que alguns acreditam, os voos não são cancelados por possibilidade de a borracha do pneu derreter, e sim pela performance da aeronave.

"A temperatura faz que eu precise acelerar mais o avião para um determinado peso ser tirado do chão. Como o motor também está prejudicado, é preciso mais pista para decolagem", afirma o professor da faculdade de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Hildebrando Hoffman. Segundo ele, a pista do aeroporto de Porto Alegre é muito curta para voos internacionais. "Essa pista já é identificada como curta há muitos anos, inadequada para voos de longo alcance. Já tivemos problemas por causa dessa limitação, em especial com cargueiros e aviões de grande porte", diz.

Ronaldo Jenkins, diretor de operação e segurança de voo da Abear, cita as peculiaridades do voo como determinantes para o cancelamento. "As circunstâncias desse voo são super especiais: ele é muito longo numa pista curta e que, logicamente, tem de decolar com peso máximo, que envolve passageiros, carga e combustível para chegar ao Panamá."

A situação é tão especial que a própria Copa Airlines admitiu não ter encontrado no Brasil "registro de algum outro voo cancelado pelo calor, em qualquer ano". As companhias TAM e Gol, que têm o maior número de operações no País, também disseram não ter registrado casos semelhantes.

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Espera. Sobre a espera de duas horas dos passageiros dentro da aeronave, especialistas afirmam que a decisão de não voar é difícil de ser tomada. "Provavelmente eles estavam esperando uma flutuação na temperatura, e os cálculos que estavam fazendo levou à conclusão de que a decolagem não seria segura. Foi aí que tomaram a decisão certa. Na dúvida, melhor não ir", opina Hoffmann.

"Com o binômio alta temperatura e pouco vento, há um agravante. Tudo isso tem de ser computado. Tem de consultar manuais e fazer contas, e até esperar as condições do tempo melhorarem. A decisão de parar um voo é uma coisa muito séria", ressalta Jenkins.

Os passageiros, no entanto, reclamaram que não receberam informações sobre o que estava acontecendo. O voo acabou sendo reprogramado para meia-noite do dia 4 de fevereiro.

Pista curta. A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) afirmou que, no dia 3, a American Airlines, que opera o trecho Porto Alegre-Curitiba-Miami, conseguiu decolar às 12h40. "A American opera um Boeing 767-300, modelo maior que o 737-800 da Copa", disse o órgão, em nota.

A Infraero também afirmou que tem estudos finalizados para publicação do edital de ampliação da pista do Salgado Filho, que passará dos atuais 2.280 metros para 3.200 (ampliação de 920 metros). "Esses estudos estão em fase de aprovação", informou.

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