Aluguel no metrô atrai 5 mil ciclistas

Mesmo com apenas 202 bicicletas disponíveis, foram realizados 7.946 empréstimos em menos de seis meses

PUBLICIDADE

Por Rodrigo Brancatelli
Atualização:

É quase uma pequena vingança pessoal para Baltazar Barbosa Carneiro, técnico gráfico paulistano de 64 anos. Todos os dias, sempre pontualmente às 6 horas, ele pega de graça uma bicicleta branca e azul na Estação Itaquera e pedala 40 minutos até o trabalho, perto de outra estação do metrô, na Vila Carrão. São 40 minutos pedalando e olhando aquele mar de carros e ônibus parados na Radial Leste, na zona leste de São Paulo. "Ah, aquilo é um inferno, o tráfego é sempre horrível, já perdi muitos compromissos por causa disso", conta ele, sem conseguir disfarçar a alegria de ter atualmente o trânsito apenas como paisagem durante o trajeto. "Agora, de bicicleta, eu vou tranquilo, sem estresse, apenas rindo daquelas pessoas buzinando e jogando seus carros uns nos outros." Baltazar Barbosa Carneiro serve de exemplo para a máxima de que, com o menor dos estímulos, é sim possível mudar de mentalidade - para melhor. Prestes a completar seis meses de funcionamento, o projeto de aluguel de bicicletas em estações do metrô já conta com 5.252 clientes diferentes. São apenas 202 bicicletas disponíveis e a única ciclovia que realmente funciona e oferece segurança aos usuários é a que acompanha a Radial Leste. Mesmo assim, com números mais do que tímidos, foram feitos expressivos 7.946 empréstimos de bicicletas entre 27 de setembro do ano passado e 9 de março deste ano. O técnico gráfico de 64 anos, que trabalha no Diário Oficial da Cidade, é o usuário que por mais vezes utilizou as bicicletas comunitárias: 48. Inspirado no serviço municipal de bicicletas de Paris, o projeto paulistano foi elaborado pela Companhia do Metropolitano em parceria com a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente - o empréstimo é gratuito na primeira hora e, a partir da segunda, custa R$ 2 por hora. Os bicicletários funcionam de domingo a domingo, incluindo feriados, das 6 às 22 horas; como o sistema é interligado, fica possível alugar a bicicleta numa estação e devolver em outra. EXTENSÃO O aluguel pode ser feito atualmente nas Estações Armênia, Liberdade, Paraíso, Santana, Sé e Vila Mariana, da Linha Azul, na Estação Vila Madalena da Linha Verde e nas Estações Anhangabaú, Barra Funda, Brás, Carrão, Corinthians-Itaquera, Guilhermina-Esperança, Marechal Deodoro e Santa Cecília, da Linha Vermelha. A ideia é que, nos próximos anos, todas as estações da rede metroviária ofereçam aluguel de bicicletas - o que emperra é a falta de investimentos da própria Prefeitura em um projeto que realmente integre a bicicleta no sistema viário, uma vez que a capital tem apenas 36,5 km de ciclovias, ante 625 km de Berlim, 379 km de Paris, 400 km de Amsterdã e 300 km de Bogotá e de Copenhague. Para o sucesso dos bicicletários públicos, é preciso pensar também na melhoria da segurança viária. Os ciclistas se tornaram nos últimos anos os personagens mais penalizados da guerra diária travada no trânsito paulistano. Comparando as estatísticas no período entre 2004 e 2008 da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), as mortes de pessoas que andavam de bicicleta foram de 51 para 69, um acréscimo de 35%. "É só parar e pensar um pouquinho. Aqui na Radial Leste temos uma ciclovia de menos de 10 quilômetros, com um asfalto ruim, e mesmo assim já tem uma porção de gente que prefere utilizar as bicicletas e deixar o carro em casa", diz Mauro Coelho, publicitário de 45 anos, ciclista há mais de dez anos. "Se a Prefeitura tivesse o comprometimento de cumprir as promessas de construção de ciclovias em outras regiões, com certeza teríamos uma outra mentalidade na cidade. As pessoas poderiam usar as bicicletas sem medo, de forma civilizada." FRASES Mauro Coelho Publicitário "Se a Prefeitura tivesse o comprometimento de cumprir as promessas de construção de ciclovias, teríamos uma outra mentalidade na cidade" Baltazar Carneiro Técnico gráfico "De bicicleta, vou tranquilo, sem estresse, apenas rindo das pessoas buzinando"

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.