Alunos reclamam da merenda em São Paulo

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Os alunos de 206 escolas da rede municipal de ensino têm perdido boa parte do recreio na fila da merenda. O motivo: a comida que vem no pequeno prato azul é pouca. O problema: as quatro empresas contratadas - sem licitação - pela Prefeitura, para fornecer e preparar os alimentos recebem por prato servido. O serviço, terceirizado em julho pela gestão Marta Suplicy (PT), tem custo mensal de R$ 2 milhões para os cofres da capital. A reportagem esteve na tarde de segunda-feira na Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Leonel Franca, onde estudam aproximadamente 3 mil alunos, em Parada de Taipas, bairro carente da zona norte. Um repórter da TV Bandeirantes, com uma microcâmera instalada em uma caneta, também estava presente e registrou os depoimentos. A enorme fila da merenda durou praticamente todo o intervalo. O cardápio era suco e arroz com seleta de legumes - que se resumia a um eventual pedacinho de cenoura num ou noutro prato - e uma salsicha. A pequena porção era servida num prato fundo azul, o mesmo mostrado nas propagandas da Prefeitura na televisão. Numa das mesas, um grupo de meninas contava, enquanto comia a merenda: "Cinco vezes o que a gente come aqui é um prato que a gente come em casa", disse Cátia Irene. "Eles põem o maior ´migué´, maior pouquinho." Enquanto isso, outro garoto senta-se à mesa. "É a terceira vez", afirmou, ao ser perguntado quantos pratos comera naquela tarde. As meninas Suelem e Géssica disseram que pedem cinco, seis, até sete pratos por dia. "Tem dias que está muito ruim. O arroz fica empapado", disse a aluna, olhando para seu prato de arroz que deveria ter, de acordo com o cardápio, a seleta de legumes. "Mas hoje está bom." O garoto sentado do seu lado contou o recorde: "Eu já cheguei a comer sete pratos." Se os alunos afirmam que a quantidade de comida servida é insuficiente, os funcionários fazem o mesmo. Do lado de fora da cozinha, ex-merendeiras ficam olhando os alunos se alimentarem. Numa mesa, são postos os pratos - utilizados pela empresa Geraldo J. Coan & Cia Ltda. para contar o número de refeições servidas. A fornecedora informou que cumpre a porção estabelecida no Programa Nacional de Alimentação. O prato de arroz - sem a seleta - com uma salsicha teria, segundo a empresa, 450 calorias e 13 proteínas. A agente escolar responsável pela distribuição de fichas aos alunos disse que são servidas até 400 refeições em cada um dos três períodos. "Já reclamamos com a nutricionista. Ela mandou aumentar e depois diminuiu", contou. "Essas crianças não se satisfazem só com um pouquinho de comida." A nutricionista, segundo ela, é da empresa fornecedora não da Secretaria de Abastecimento. "A Prefeitura pôs essa firma. Fazer o quê?" O controle da escola é feito por meio de papéis coloridos. Para o primeiro prato, a criança recebe uma ficha rosa na fila. Assim que pega o prato, entrega o papel para a funcionária. Para as repetições, as fichas são amarelas. O número de fichas e de pratos para o pagamento da empresa, segundo a funcionária, nem sempre batem. Enquanto a reportagem falava com a agente escolar, outro aluno parou para reclamar da quantidade de comida. "Como cinco pratos", disse Antônio Carlos. Por quê? "Porque é pouco", respondeu. Na tarde de segunda-feira, o garoto se satisfez com apenas quatro, um a menos do que sua média. "É porque hoje eu comi um cachorro-quente antes de vir." Sentado num degrau, próximo dali, outro aluno comia seu segundo prato. A merenda recebe elogios, no entanto, quando é comparada com a servida na gestão anterior, de Celso Pitta, que oferecia apenas um lanche com bolacha e leite. "Melhorou porque é comida mesmo", disse a funcionária. Outro motivo de insatisfação é o fato de os funcionários da escola estarem proibidos de entrar na cozinha. "Estamos proibidas", disse a agente escolar. Fogão, geladeira e os materias da cozinha são da Prefeitura. O desperdício também é grande. Cerca de três baldes cheios de comida são jogados diariamente para os cachorros da vizinhança.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.