Alves vai a júri popular pela morte de Eloá

Defesa vai recorrer da decisão; ontem, testemunhas falaram ao juiz

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Por Renato Machado e Vitor Sorano
Atualização:

A Justiça decidiu ontem que Lindemberg Alves, de 22 anos, irá a júri popular pela morte de sua ex-namorada, Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, em outubro do ano passado. De acordo com a decisão (tecnicamente chamada pronúncia) do juiz José Carlos de França Carvalho Neto, da Vara do Júri e Execuções Criminais de Santo André, Alves será julgado por homicídio, tentativa de homicídio (contra Nayara), disparo de arma de fogo e cárcere privado - contra Eloá, Nayara e os amigos delas Iago e Victor. A defesa afirmou que vai recorrer. A decisão foi anunciada no final da tarde de ontem, após o juiz ouvir 14 testemunhas do caso. Alves se negou a falar. De acordo com o promotor responsável pelo caso, Antônio Nobre Folgado, a pronúncia era esperada, pois as provas contra o acusado eram bastante "robustas". "Ficou claro que ele matou a Eloá para se vingar e as provas foram muito contundentes em mostrar isso", diz. Ele acrescenta que o depoimento de Nayara - por duas vezes refém de Alves - foi forte e fundamental para a decisão, uma vez que confirmou as demais provas. Para a defesa, no entanto, o resultado da audiência é consequência de uma "pressa-pressão" existente na sociedade por uma resposta rápida ao crime. De acordo com a advogada Ana Lúcia Assad, foi determinante a ausência do depoimento de dois policiais que participaram da invasão. Além disso, a defesa reclama que teve indeferidos dois pedidos considerados importantes: um para esclarecimentos sobre o resultado da perícia de uma arma calibre 12 dos policiais que apresentava sangue e outro que pedia a degravação total de todo o material audiovisual usado no processo - houve uma degravação apenas parcial. "É essencial termos conhecimento de todas as provas antes, por isso recomendamos que ele não se manifestasse", diz a advogada. Em sua pronúncia, o juiz alega que indeferiu o pedido da defesa para ouvir os dois policiais, pois outros nove já haviam prestado depoimento. De acordo com o artigo 406 do Código de Processo Penal, é necessário ouvir até oito testemunhas arroladas pela defesa em casos em que há "igualdade de armas", como o confronto que sucedeu a invasão. A defesa irá entrar nos próximos dias com um pedido de habeas corpus pela nulidade do processo e com um recurso contra a pronúncia, alegando que não houve tempo para se manifestar sobre algumas etapas do processo, como a reconstituição do crime. A previsão é que o julgamento desses recursos leve cerca de dez meses e o julgamento de Alves deve ocorrer no início do próximo ano. O promotor Antônio Nobre Folgado acredita que Alves seja condenado a até 25 anos, embora haja a chance de a sentença acabar reduzida por ele ser réu primário. Alves retornou na noite de ontem para o presídio, em Tremembé. DEPOIMENTOS Foram ouvidas ontem 14 pessoas, 5 delas testemunhas de acusação: Nayara, Iago, Victor, o irmão da Eloá Ewerton Douglas e o policial Athos, que foi contra quem Lindemberg atirou no início do sequestro. A defesa arrolou oito pessoas, entre amigos e vizinhos de Alves e policiais militares do Gate que participaram da operação. Os três policiais que foram os primeiros ouvidos entre as testemunhas de defesa afirmaram que a invasão do apartamento onde Eloá era mantida refém só aconteceu porque foi ouvido um disparo momentos antes. Segundo eles, havia orientação superior para que só houvesse invasão caso fosse disparado outro tiro. Com isso contrariaram a versão de Nayara. Ela afirmou à Justiça ter ouvido um estampido pouco antes da porta cair - a polícia utilizou explosivos para derrubar a porta. Segundo o promotor Antônio Nobre Folgado, "não foi constatada pela perícia (a existência de um novo disparo momentos antes da invasão)". Dois dos policiais também confirmaram que a Polícia de São Paulo utilizou copos para fazer a escuta do apartamento onde Eloá era mantida refém. As informações foram passadas pelo Fórum de Santo André. A reportagem não teve acesso aos depoimentos. Alves acompanhou as declarações do policial Athos e do irmão de Eloá, Ewerton Douglas, e de todas as testemunhas de defesa. Ele não estava na sala quando Nayara, Victor e Iago foram ouvidos. O acusado chegou ao fórum por volta das 8h20, vestindo o uniforme de presidiário - camisa branca, calça caqui e chinelo branco. Ele foi mantido na carceragem até ser levado à sala de audiência quando o policial Athos começou a depor. A mãe de Eloá e Ewerton deixaram o fórum por volta das 12h30 dizendo que Lindemberg havia sido um filho para ela e que agora ela não mais o reconhecia. ?ELE QUERIA MATAR? Nayara contou ao juiz que Lindemberg a culpava pelo fim do namoro com Eloá. Segundo ela, Alves não tinha intenção de reatar o relacionamento, mas sim matar a adolescente. De acordo promotor Folgado, Lindemberg se protegeu em um corredor da casa antes de atingir as duas adolescentes. "Ele teve a oportunidade de se abrigar." Ela confirmou as demais informações dadas durante a fase do inquérito policial. Em seu relato ela, Iago e Victor e Eloá foram para o apartamento onde as duas assistiriam a um filme para fazer um trabalho de geografia. Vinte minutos depois de eles chegarem ao local, Alves apareceu portando um revólver calibre 32. Sobre a volta dela para o apartamento, Nayara contou que foi procurada pela polícia na manhã de quinta-feira na casa da avó. Ela, sua mãe o irmão de Eloá voltaram ao local e, segundo Nayara, os policiais disseram que era para ela falar com Alves pelo celular. Ela e o irmão de Eloá entraram no prédio. O irmão parou no primeiro andar. Nayara seguiu até a porta do apartamento. Lindemberg dizia para ela se aproximar para que ele, ela e Eloá saíssem juntos de mãos dadas. Iago e Victor confirmaram que Alves os agrediu. Ewerton Douglas, que estava com o acusado pouco antes de ele sequestrar Eloá, conta que ele o deixou em um local não identificado pedindo para que ele aguardasse, mas não voltou para buscá-lo. O policial Athos disse em seu depoimento que Lindembergue atirou nele para mostrar que não era bonzinho. As outras seis testemunhas de defesa afirmaram que Alves era uma pessoa tranquila e não tinha histórico agressivo, segundo o Fórum de Santo André. FRASES "Ele entrou para matar e não foi para reatar o namoro" Nayara Amiga de Eloá e refém "Quando entrou no apartamento, Lindemberg perguntou quem era o Iago. Em seguida ele deu um murro no Iago e uma coronhada em mim" Victor Amigo das garotas, refém no primeiro dia de sequestro "Agora o terror vai começar, disse Lindemberg, quando a polícia chegou" Iago Amigo das garotas, refém no primeiro dia de sequestro "Ele atirou para provar que não era bonzinho" Athos Antonio Valeriano Policial contra quem Lindemberg disparou "Ficou claro que ele matou a Eloá para se vingar e as provas foram muito contundentes em mostrar isso" Antônio Nobre Folgado Promotor "É essencial termos conhecimento de todas as provas antes, por isso recomendamos que ele não se manifestasse" Ana Lúcia Assad Advogada de Lindemberg Alves "Parecia que Lindemberg estava se despedindo. Ele disse para a mãe que alguma coisa iria acontecer" Ewerton Douglas Irmão de Eloá "Eu falei com ele, pedi para que ele não fizesse, e ele fez" Ana Cristina Pimentel Mãe de Eloá

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