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Ambulantes confirmam as extorsões

De 27 ilegais, 17 admitem propina

Por Vitor Hugo Brandalise
Atualização:

Em uma caminhada pelas ruas do Brás, é possível perceber a extensão que a máfia dos fiscais atingia entre os ambulantes da região. Por três horas e meia, entre 6h30 - enquanto ainda estava de pé a "Feira da Madrugada", nas Ruas Oriente e Monsenhor de Andrade - e 10 horas de ontem, o Estado conversou com 27 vendedores, e 17 admitiram já ter pago propina para as quadrilhas de Edson Mosquera e Marcelo Eivazian. "Mas nem adiantava muito, não", disse um camelô ilegal, identificado apenas como Pedro, na frente da barraca que vende casacos de pele feitos na China. "Eu pagava o ?cafezinho? (de R$ 5 a R$ 10 por semana) para eles, mas cansei de ter de correr do ?rapa?", reclamou o camelô, que diz ter perdido 200 peças de roupa em uma operação, três meses atrás. No dia seguinte às prisões, os camelôs estavam apreensivos. "O GOE (Grupo de Operações Especiais, da Polícia Civil) invadiu o Brás. A partir de segunda-feira, Deus nos acuda!", dizia um deles aos colegas, na hora do café, em um bar de esquina da Oriente. Nos bares e bancas de jornais, a cena mais comum era de camelôs reunidos, conversando sobre a operação de anteontem. "Foi você quem escolheu essa vida, marreteiro. Agora, agüenta", brincava um deles. "Agora é que a gente se ferra de vez. Com todo mundo em cima, não vamos ter paz", disse uma vendedora de filmes piratas, que pagava R$ 2 por semana para manter o ponto, junto à boca de um bueiro na Rua Ministro Firmino Whitaker. Logo depois, porém, ela mudou de idéia: "Quer dizer, vão incomodar pelo menos nas próximas semanas, né? Não é a primeira vez que cai o mundo e depois os marreteiros voltam todos." Quem não gostou nada da operação foram os ilegais que se recusavam a pagar propina - subindo a Rua Oriente na direção da Rua Xavantes, fica cada vez mais difícil encontrar camelôs que admitam pagar o "cafezinho". "É o pessoal que fica lá embaixo, mais perto dos ônibus, que paga. Aqui para cima, ninguém incomoda. Mas agora todo mundo vai pagar. Vai ser uma correria", reclamou um ilegal. Entre os camelôs, também houve quem comemorasse - especialmente quem fica nos locais mais visados pela máfia, como na esquina das Ruas Monsenhor Andrade e Oriente. "Não agüentava mais aquele pessoal que vinha todo sábado cobrar a ?caixinha?. Vou até fazer um churrasco hoje", disse um vendedor de eletroeletrônicos. Segundo o presidente do sindicato dos vendedores ambulantes independentes, Afonso da Silva, o próximo passo da categoria é voltar aos locais onde atuavam no passado - Largo da Concórdia, Rua Ministro Firmino Whitaker e Avenida Rangel Pestana. "Vamos ter uma assembléia na segunda-feira para definir as ações. Mas a intenção é tomar tudo de novo."

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