PUBLICIDADE

Ameaçados, garçons aprovam lei

Apesar do risco de desemprego, categoria prioriza a saúde; bares pensam novas áreas

Por Adriana Carranca
Atualização:

Quando o assunto é proibir o cigarro não há consenso. De um lado, quem trabalha em bares e restaurantes ao lado de fumantes e chega em casa com cheiro de cigarro impregnado nas roupas e no cabelo, além de correr os riscos de um fumante passivo, é a favor da restrição. De outro, os patrões temem que a proibição ao fumo diminua o consumo de bebidas, embora iniciativas em outros países não sejam conclusivas sobre isso (veja texto nesta página). Na dúvida, mesmo sob ameaça da redução de empregos no setor, o Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Restaurantes, Bares e Lanchonetes de São Paulo (Sinthoresp) se posicionou a favor da nova lei. "Consultamos os sindicatos paulistas e todos foram unânimes: não podemos ser contra a lei. Antes do trabalho vem a saúde do trabalhador", diz o presidente do Sinthoresp, Francisco Calazans Lacerda, ex-garçom e ex-fumante. Pesquisa feita pela equipe do médico Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa de Álcool e Drogas (Uniad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 1998, ou seja, já posterior à lei que instituiu uma área separada para fumantes em bares e restaurantes, apontou 50% mais monóxido de carbono no organismo de garçons do que no de quem trabalha em locais onde o cigarro era proibido. Com isso, os garçons teriam mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares e até câncer, segundo o médico. Ele lembra que das cerca de 5 mil substâncias tóxicas do cigarro, pelo menos 50 são cancerígenas. "O impacto na saúde de pessoas que trabalham ou moram onde há fumantes é inegável. Mulheres de fumantes têm 30% mais chance de ter câncer do que o restante das mulheres", exemplifica o médico. Diferentes pesquisas demonstram que, durante oito horas em um local fechado com outros fumando, um não-fumante absorve o equivalente ao consumo de dez cigarros, em média. Uma funcionária do Studio SP, na Rua Augusta, comemorou a nova decisão: "Se Deus quiser, vão parar de fumar aqui!", diz. "Quando chego de manhã tem uma névoa de fumaça. Temos de abrir tudo. As cortinas ficam impregnadas." Com a nova lei, Alexandre Youssef, sócio da casa, disse acreditar que será mais fácil controlar os fumantes. "Hoje, tem gente fumando em todos os locais da noite. Com essa restrição, será mais fácil convencer os fumantes a respeitar o direito dos não-fumantes". A direção do Bourbon Street, casa de jazz em Moema, diz que o terraço será para fumantes, com telão. A Via Funchal, com shows para 3 mil pessoas, pretende passar o controle de ingressos para o lado de fora. Assim, os que quiserem fumar, não terão de sair da casa. Shoppings terão de se adaptar. Apenas os que contam com área ao ar livre, como o Shopping Cidade Jardim e o Ibirapuera, poderão permitir o fumo. OPINIÕES Davi Giovanelli Não fumante "Tem de restringir. Até em lugares abertos incomoda, como em pontos de ônibus, quando bate um vento. Podem criar alternativas para quem não consegue se livrar do vício, mas não se pode penalizar o resto da população pelo vício dos outros" Maria Aparecida Givanela Fumante "Concordo, não se deve fumar mesmo em lugar fechado com pessoas não fumantes. Todos sabem dos problemas que sofrem os fumantes passivos. Quando quiser fumar, que procure um canto onde não incomode ninguém" Vera Helena de Almeida Não fumante "Deve haver critérios para a proibição. É muito desagradável entrar num restaurante e comer com alguém fumando ao seu lado. Aí, sim. Tem de proibir. Mas alguns lugares não tem tanto problema assim. Em bares, não vejo problema" Mônica Cunha Fumante "Nem precisa de lei, é questão de educação. Fumar perto de um não fumante é desrespeitar a saúde do outro. Deve caber ao próprio fumante apagar o cigarro quando perceber que está incomodando alguém"

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.