Amigos se despedem de Tim Lopes; Maia fala em estado paralelo

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Por Agencia Estado
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O repórter da Rede Globo Tim Lopes foi enterrado na tarde de hoje no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na região oeste. Cerca de 150 pessoas, entre parentes, amigos e colegas de trabalho despediram-se do jornalista ao som da música Canção da América, de Milton Nascimento, interpretada pelo cantor Ângelo Lourenço, de 15 anos, revelado por Lopes numa de suas reportagens. O jornalista foi preso, julgado, assassinado e teve o corpo incinerado por traficantes da quadrilha de Elias Maluco, em dois de junho. Ele foi capturado na Favela Vila do Cruzeiro, no Complexo do Alemão, quando fazia uma matéria sobre um baile funk em que havia exploração sexual de menores e consumo de drogas. Na última sexta-feira, o exame de DNA em 43 fragmentos de ossos encontrados no Morro da Grota, local em que o jornalista foi executado, revelou que uma costela pertencia ao repórter da Rede Globo. ?Assim como da costela Deus fez surgir a humanidade, que esse símbolo aqui presente possa fazer surgir o novo na segurança pública do Rio de Janeiro. Cristo te constituiu e na eternidade te acolhe?, rezou o frei Davi Raimundo dos Santos, amigo do repórter. O cunhado de Tim Lopes André Martins disse que a família se sentiu aliviada pelo fato de o corpo do repórter ter sido identificado. ?Ficávamos sempre na incerteza, achando que o vulto na esquina poderia ser o Tim. A certeza da prova técnica nos tranquiliza?, afirmou. Abalados, a mulher do jornalista, Alessandra Wagner, o filho dele, Bruno, e a mãe, Maria do Carmo, não fizeram comentários. Além de amigos, estiveram no enterro pessoas entrevistadas por Tim Lopes. Um deles foi o empresário paulista Masataka Ota, que teve o filho Ives seqüestrado e morto em São Paulo, em 1997. Ota participou do quadro do Fantástico Frente a Frente, em que parentes de vítimas da violência encontravam-se com os criminosos. ?Tim Lopes me ensinou que perdoar é o melhor caminho. Quis trazer um pouco de alívio para a família dele também?, disse. Ota entregou um livro sobre a vida de seu filho à mãe do jornalista. O corpo de Tim Lopes foi velado durante toda a manhã na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Centenas de pessoas passaram pelo salão nobre para se despedir do jornalista. O prefeito Cesar Maia foi a primeira autoridade a chegar. ?A maior demonstração de existência de poder paralelo foi o fato de o Tim ter sido julgado?, disse o prefeito, que defendeu o aumento de policiamento nas ruas. O caixão deixou a Alerj às 15 horas. Todo o trajeto de 40 quilômetros até o cemitério Jardim da Saudade estava fortemente policiado. Policiais militares ocuparam o acostamento da Avenida Brasil e também as passarelas. A governadora Benedita da Silva, o secretário de Segurança, Roberto Aguiar, o chefe da Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, e o comandante da Polícia Militar, Francisco Braz, estiveram no cemitério. Eles não falaram com a imprensa. O presidente do Sindicato dos Jornalistas, Nacif Elias, tem reunião hoje com a governadora. Ele disse que vai cobrar empenho na prisão de Elias Malucos e outros três traficantes suspeitos do crime, que estão soltos. Quatro foram presos. ?Os ideais do Tim não serão sepultados com ele. Nós jornalistas temos de nos comprometer a levar os ideais dele avante, para transformar o Rio numa ilha de paz e amor. Que Deus nos abençoe?, disse Elias.

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