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Amorim justifica visita a ditador como 'negócios'

Chanceler defende viagem de Lula à Guiné Equatorial e classifica de 'pregação moralista' as citações a crimes do regime de Mbasogo

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Por Leonencio Nossa
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ENVIADO ESPECIALMALABO, GUINÉ EQUATORIALIrritado com as críticas à política externa, o chanceler Celso Amorim defendeu a visita do presidente Lula à Guiné Equatorial, governada há 31 anos pelo ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo. "Negócios são negócios", disse Amorim, que chamou de "pregação moralista" as citações na mídia aos crimes contra direitos humanos atribuídos ao ditador."Não estamos ajudando nem promovendo ditadura", afirmou Amorim. "Quem resolve o problema de cada país é o povo de cada país."O palácio presidencial, onde ocorreu a entrevista de Amorim, sofreu em 2009 um ataque de opositores do regime de Mbasogo, que resultou na morte de um guarda. Sem provas, o governo local prendeu e torturou nove membros do partido opositor União Popular (UP), segundo denúncia da Anistia Internacional.Na conversa com jornalistas, o chanceler disse que democracia não se impõe e ressaltou a importância do comércio com a ditadura de Mbasogo, financiada com dinheiro de empresas de petróleo dos Estados Unidos. "O exemplo tem mais força que a pregação moralista", afirmou, sem entrar em detalhes. "Negócios são negócios. Acho que a gente tem de trabalhar normalmente."Com produção de 400 mil barris por ano, a Guiné Equatorial é a terceira maior produtora de petróleo da África Subsaariana, atrás da Nigéria e de Angola. A família Mbasogo comanda não apenas o Estado, mas os recursos do petróleo. O hotel da rede Sofitel em que Lula passou a última noite pertence a Mbasogo. O clã também é dono dos postos de gasolina e das redes de supermercado. O banco central do país serve como posto de transferência de dinheiro da família para paraísos fiscais. No pequeno país, não há divisão entre as finanças públicas e as do chefe do Estado, segundo a Global Witness e partidos de oposição. Estima-se que 60% da população viva na pobreza.Silêncio. Na visita, Lula cumpriu a lei de silêncio imposta por Mbasogo. Na entrevista coletiva, o cerimonial local não permitiu perguntas dos jornalistas. Todas as cadeiras da sala foram ocupadas por diplomatas, assessores e seguranças. Sentados lado a lado, Lula e Mbasogo ouviram um burocrata do governo da Guiné ler uma declaração ressaltando a visita "histórica" do presidente brasileiro e os compromissos dos dois governos pela promoção da "democracia".

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