Anac tenta contornar colapso de Congonhas

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Por ISABEL VERSIANI
Atualização:

Uma semana após o pior acidente aéreo da história do país, as principais autoridades do setor se reuniram pela primeira vez para prestar esclarecimentos conjuntos sobre as investigações da tragédia e anunciar medidas para enfrentar o colapso recente no aeroporto de Congonhas. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determinou a suspensão, por tempo indeterminado, da venda de passagens para vôos que partam de Congonhas e informou que a medida poderá se estender a outros aeroportos "se houver necessidade". A proibição vale a partir de quarta-feira, mas segundo a agência, a Gol e a TAM já suspenderam as vendas. "Estão reservados todos os assentos disponíveis para quem tem bilhete na mão", afirmou o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, em sua primeira entrevista coletiva após o acidente com o vôo 3054 da TAM. Ele disse esperar que até a tarde de quarta-feira a situação nos aeroportos esteja normalizada. A Anac também anunciou que os vôos que decolam e aterrissam em Congonhas deverão passar a ter no máximo duas horas de duração, sem conexões. A medida complementa determinação feita, na sexta-feira, pelo Conselho da Aviação Civil (Conac), para que Congonhas passe a ser usado apenas para vôos diretos ponto a ponto (que (vai para uma cidade e retorna ao aeroporto de origem). Também em linha com a resolução do Conac, a Anac proibiu os vôos fretados em Congonhas já a partir do próximo fim de semana. Na última terça-feira, um Airbus A320 da TAM vindo de Porto Alegre explodiu ao se chocar com prédios próximos a Congonhas, após pouso fracassado no aeroporto, causando a morte de cerca de 200 pessoas. A pista principal do aeroporto foi mantida fechada desde o acidente para o trabalho de perícia. Nos últimos dois dias, fortes chuvas em São Paulo provocaram o fechamento do aeroporto por várias horas, e os pilotos das companhias passaram a evitar Congonhas mesmo quando a pista secundária estava liberada. Como resultado, dezenas de vôos foram cancelados ou sofreram atrasos, causando grandes transtornos aos passageiros em Congonhas e também problemas em vários outros aeroportos do país. Zuanazzi procurou se defender das críticas de que a Anac teria sido incompetente em lidar com a crise aérea e em adotar medidas que pudessem ter prevenido o sobrecarregamento de Congonhas. "A Anac tem limites legais... É natural, caso contrário teria poderes imperiais", afirmou Zuanazzi, argumentando que a agência tem a função de executar determinações do Conac. Ele destacou, ainda, que sua indicação ao cargo de presidente da agência teve o apoio de 27 entidades e também de parlamentares da oposição. INVESTIGAÇÃO A definição final das novas malhas aéreas a partir das determinações do Conac ficará pronta na próxima semana, afirmou o diretor do Departamento de Controle do Espaço Aéreo, major-brigadeiro Ramon Cardoso. A implantação das novas rotas terá de ser feita em um prazo de até 60 dias. Cardoso informou, ainda, que a Aeronáutica irá atualizar os sistemas dos aeroportos de Porto Alegre, Curitiba, Guarulhos, Galeão e Brasília com instrumentos que permitem aterrissagens e decolagens com condições reduzidas de visibilidade, os chamados ILS (Instrument Landing System). Serão investidos 2 milhões de dólares para cada aeroporto, e a modernização também exigirá adaptação das aeronaves das companhias, disse Cardoso. Também presente à entrevista, o chefe do Cenipa --entidade da Aeronáutica responsável pela investigação de acidentes aéreos--, brigadeiro Jorge Kersul Filho, confirmou a informação de que o Airbus A320 da TAM estava à velocidade de 175 km/h no momento da colisão contra os prédios. A informação foi dada pelo National Transportation Safety Board, entidade que analisa as caixas pretas da aeronave nos Estados Unidos, e já havia sido antecipada por parlamentares brasileiros que acompanham os trabalhos da entidade. Kersul não quis avaliar se essa velocidade era menor do que a velocidade que a aeronave tinha ao pousar. "A aeronave estava na velocidade normal de aproximação", afirmou, sem detalhar números. O presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, esclareceu que a velocidade normal, no caso do Airbus acidentado fica entre 110 e 150 nós por hora (entre 203 e 278 km/h). Kersul afirmou, ainda, que a investigação do acidente da TAM deverá levar cerca de 10 meses, o que, segundo ele, está abaixo da média mundial de 18 meses. No momento, de acordo com o brigadeiro, não há evidências suficientes para indicar eventuais problemas na pista de Congonhas que possam ter contribuído para o acidente, ou se houve problemas no sistema de freios da aeronave. "Nenhum acidente aéreo advém de um único fator", afirmou. Kersul acrescentou que a investigação da Aeronáutica não buscará apontar nomes dos responsáveis, mas sim detectar o que contribuiu para o desastre, e que medidas devem ser adotadas para aumentar a segurança dos vôos.

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