ANÁLISE-Investidor quer aeroportos. Infraero, só privatizada

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Por Denise Luna (Broadcast)
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A intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de abrir o capital da Infraero mantendo o controle com o governo foi recebida com descrédito pelo mercado e especialistas, que vêem a empresa como uma caixa-preta cheia de problemas e sem atratividade para o investidor. Já a privatização da empresa ou somente dos aeroportos, uma tendência no mundo inteiro, seria bem-vinda por grupos estrangeiros e nacionais. A alternativa de abrir o capital da Infraero começou a ser cogitada dias após o pior acidente da aviação civil brasileira, quando um Airbus A320 da TAM chocou-se contra prédios ao tentar aterrissar no Aeroporto de Congonhas, matando cerca de 200 pessoas. As investigações ainda não foram concluídas, mas problemas na pista foram apontados como possíveis agravantes da tragédia. Para o professor Respício Espírito Santo, da coordenação dos programas de pós-graduação de Engenharia da UFRJ (Coppe), a manutenção do cunho político da Infraero, pelo fato de o controle continuar na mão do governo, afastará os investidores. "A Infraero nunca teve uma gestão profissionalizada, sempre foi mais um alvo político do que uma empresa de cunho técnico. É uma caixa-preta que ninguém sabe o que é", avaliou. Ele sugere que a melhor maneira de solucionar a falta de investimentos na infra-estrutura aérea seria privatizar os 67 aeroportos brasileiros administrados pela Infraero. "Temos aeroportos no mundo inteiro que mostram que a iniciativa privada tem melhores condições de gerir aeroportos, porque tem muito mais facilidade de captar recursos, parcerias com outras empresas no exterior", explicou o professor. Somente na América Latina, estão sob administração privada os aeroportos de Bogotá, na Colômbia; São José, na Costa Rica; Cochabamba, La Paz e Santa Cruz, na Bolívia; e mais recentemente Lima, no Peru. "A alemã Fraport (gestora de aeroportos na Alemanha, Bulgária e Índia) é líder do consórcio que ganhou a privatização no Peru", informou o professor da Coppe/UFRJ, dando como exemplo de interesse do investidor. Além da Fraport, empresas como Ferrovial, que adquiriu a British Airport Authority em 2006, e a AdP (que administra aeroportos de Paris), foram citadas como exemplos de possíveis interessadas nos aeroportos brasileiros. Para o professor, a frustração da tentativa de privatização da Infraero no governo Fernando Henrique Cardoso, além da oposição dos militares, deveu-se à cultura de que é necessário vender a empresa como um todo. "É o caso de fazer uma privatização inteligente, por lotes, onde por exemplo o (aeroporto) Santos Dumont ser vendido junto com o de Boa Vista (em Roraima) e Teresina (Piauí)... Quem ganhar vai ter que transformar os aeroportos menores em lucrativos também, para não perder dinheiro." Para o presidente da Associação Nacional dos Analistas de Mercado, Álvaro Bandeira, antes de se pensar em vender a Infraero é necessário sanear a administração e as finanças da estatal. E, em vez de vender apenas 49 por cento, privatizar a empresa. "Nem sei se atrairia investidores neste momento, mesmo que fosse privatizada... Ela (Infraero) precisa ser saneada e deixar de ser cabide de emprego", disparou. Para o diretor técnico da Apimec-RJ, Carlos Antônio Magalhães, a notícia da abertura de capital da Infraero é "um factóide" e "nenhum investidor vai querer ser sócio do governo". Da mesma opinião compartilha a Advent International --grupo que comprou a rede que opera lojas de duty-free no Brasil e anunciou nesta sexta-feira o término da captação do maior fundo de private equity da América Latina, de 1,3 bilhão de dólares. "Numa eventual privatização, (a Infraero) nos interessaria bastante", disse o responsável pelas operações da Advent no mercado brasileiro, Patrice Etlin. A Previ, maior fundo de pensão do país, poderia avaliar a entrada no capital da Infraero em caso de oferta de ações em bolsa, mas impõe um saneamento à estatal antes disso. "Se isso realmente acontecer (lançar ações), vai ter que antes fazer o dever de casa, adotar modelo de governança corporativa, criar um Conselho de Administração. Aí talvez possa ser analisada", disse uma fonte da Previ que preferiu manter o anonimato. (Colaborou Juliana Siqueira, em São Paulo)

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