Ao menos 11 capitais cancelam carnaval de 2022; outras dez ainda não decidiram

Decisões foram tomadas devido ao avanço da covid e da gripe; cidades tradicionalmente conhecidas por festejos carnavalescos, como Olinda e Ouro Preto, também não terão eventos

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Por Leon Ferrari
Atualização:

Ao menos onze capitais anunciaram o cancelamento do carnaval 2022. Entre elas, Recife, Rio e Salvador, reconhecidas nacional e internacionalmente pelos festejos. Além de São Paulo, nove ainda não tomaram decisão. Outras cidades com festas carnavalescas tradicionais, como Olinda e Ouro Preto, também não terão foliões nas ruas. As administrações municipais explicam que a não realização dos eventos se dá devido ao avanço da covid-19, com a cepa Ômicron, e da gripe, com a nova variante do vírus Influenza, a H3N2.

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Organizações que representam blocos do carnaval de rua de São Paulo divulgaram um manifesto na tarde desta quarta-feira, 5, pelo cancelamento total do evento em fevereiro e março de 2022. O argumento dos grupos é que não é seguro realizar a celebração em meio ao avanço da variante Ômicron e um novo aumento nas taxas de transmissão da covid-19 . Uma posição oficial da Prefeitura paulistana deve ser anunciada na quinta-feira, 6. 

Em Belém, Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Luís não irá ocorrer carnaval ou a prefeitura não pretende patrocinar o evento. Já em Brasília, Boa Vista, Manaus, Maceió, Natal, Palmas, Porto Alegre, Porto Velho, Rio Branco e São Paulo ainda não houve definição sobre a realização de blocos de rua e desfiles. 

Foliõesbrincam durante o bloco das Carmelitas, em Santa Teresa, na zona sul do Rio; carnaval de rua de 2022 está cancelado Foto: Wilton Junior/Estadão - 21/02/20

Cuiabá foi uma das primeiras capitais a anunciar o cancelamento de festas públicas e privadas de carnaval ainda no dia 1º de dezembro. O prefeito Emanuel Pinheiro resume a decisão em duas palavras: “Prudência e responsabilidade.”

“Nós já vimos que nessa guerra travada contra a covid, não podemos improvisar. O vírus é traiçoeiro. Ele se desdobra em outras variantes”, diz. “Estamos tentando sair de uma guerra e já estamos vendo um surto gripal.Então,no momento, não dá para dizer: ‘Olha, daqui a dois ou três meses vai estar tudo sob controle’. Qualquer evento que resulte em aglomeração e que movimente multidões é desaconselhável nos próximos meses.”

Além do cancelamento, o gestor disse estar “propenso” a decretar como dias úteis a segunda, 28 de fevereiro, e a terça-feira, 1º de março, de carnaval - que são pontos facultativos. No ano passado, ele já havia feito isso. “Estou só acompanhando o comportamento do vírus”, destaca. 

“Se falar em dias de hoje, eu decreto”, conta. “Porque hoje a assombração da covid está voltando a nos preocupar de uma hora para outra. Isso é coisa de uma semana para cá, de quatro dias para cá, estamos detectando um crescente (de infecções) nas redes públicas.”

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Ao mesmo tempo, Pinheiro, que também é presidente do Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Vale do Rio Cuiabá (reúne 13 cidades), busca coletividade, ao incentivar que outros municípios da região cancelem a festividade. “Vou reunir os prefeitos em uma reunião ordinária agora em janeiro, para planejar o ano. Nessa reunião, vou aproveitar para sensibilizar os prefeitos e pedir a todos os municípios vizinhos que possamos tomar uma decisão em conjunto de enfrentamento da pandemia e do surto gripal e não promover as festas públicas e privadas de carnaval.”

Em Florianópolis, tanto os blocos de rua quanto o desfile de escolas de samba foram cancelados na terça-feira, 4. Nas redes sociais, o prefeito Gean Loureiro disse que a gestão municipal “não vai promover grandes eventos neste momento de incertezas sobre a pandemia e emergências públicas e privadas com muita pressão de atendimento”.

Ao Estadão, Loureiro conta que, em novembro, a administração cogitava realizar tanto o réveillon quanto o carnaval, pois as taxas de transmissão e internação estavam baixas e a vacinação, avançada. “Na segunda quinzena de dezembro, os casos voltaram a subir por conta da variante Ômicron e decidimos cancelar o réveillon. Nesta terça-feira, em reunião com secretários e equipe de saúde, avaliamos que seria prudente o cancelamento do carnaval também”, disse. 

“Não temos como precisar como estará o cenário epidemiológico daqui a 60 dias, mas precisávamos iniciar desembolso de recurso para que as escolas de samba pudessem iniciar a compra de materiais. Sem ter a certeza de que poderíamos realizar o evento, decidimos por não assinar contrato agora e nem desembolsar recursos”, continua. 

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No Twitter, o gestor informou que analisando a lotação de emergências na capital, não “faria sentido” destinar recursos para que as escolas de samba se preparassem. Ele destacou que, no momento, o foco é contratar “pessoal temporário para reforçar testagem”.

Também no Sul, Curitiba vai celebrar o carnaval de maneira virtual pelo segundo ano consecutivo. A decisão foi anunciada pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC) no dia 21 de dezembro. Em setembro, a FCC havia lançado o edital de apoio às comunidades carnavalescas da cidade que permitia que os projetos fossem tanto presenciais quanto virtuais, a depender do cenário pandêmico.

Em informe, a prefeitura destacou que o carnaval curitibano chegou a reunir, nos últimos anos, até 2019, mais de 40 mil pessoas nos dois dias de desfiles na Avenida Marechal Deodoro.

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A Prefeitura do Recife suspendeu as programações oficiais para o carnaval 2022, na quarta, 5. A administração destaca que apesar de “não apresentar um quadro de aumento de casos de infecção em decorrência do novo coronavírus”, a cidade enfrenta um crescimento expressivo de casos de gripe.

Conforme a prefeitura, o número de casos diários confirmados da cepa H3N2 do vírus Influenza saltou de oito para 138 casos entre os dias 13 e 29 de dezembro, com picos de até 314 casos em um só dia. Até o momento, o município confirmou 2.451 casos da variante Darwin, dos quais 17 evoluíram para morte - os pacientes tinham idades entre 13 e 91 anos.

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Reconhecida nacional e internacionalmente pelo festejo de carnaval, Salvador não vai ter foliões nas ruas neste ano. A Prefeitura de Salvador justificou o cancelamento devido ao “cenário atual de insegurança sanitária provocado pela Covid-19 e pela H3N2 (nova variante do vírus Influenza)”. “A cidade permite apenas a realização de eventos em ambientes fechados, seguindo os protocolos sanitários do setor e com limite de público de 5 mil pessoas, determinado por decreto estadual”, disse.

No dia 23 de dezembro, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), anunciou que não haveria carnaval no Estado em 2022. O grande números de pessoas com a imunização contra a covid-19 atrasada e o avanço do surto de gripe foram os motivos apresentados pelo gestor para cancelar a festa.

Desfile em Salvador no último carnaval antes do avanço da covid-19; governadorda Bahia afirmou que é 'impossível' realizar evento em 2022 Foto: Manu Dias/Governo da Bahia - 25/02/2020

A prefeitura de Belo Horizonte disse que não vai patrocinar os festejos carnavalescos de 2022. Porém, destaca, em nota, que “os desfiles das escolas de samba, blocos caricatos e blocos de rua são considerados manifestações culturais espontâneas de Belo Horizonte, não sendo necessária autorização prévia da administração municipal para a sua realização”. 

No Rio, os blocos de carnaval não vão desfilar pelas ruas em razão da pandemia de covid. A decisão pelo cancelamento foi tomada em consenso durante reunião promovida no final da tarde de terça-feira, 4, entre os representantes dos principais blocos, o prefeito Eduardo Paes (PSD) e o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.

O desfile das escolas de samba por enquanto está mantido, sob o argumento de que será possível controlar a entrada de pessoas no sambódromo da Marquês de Sapucaí.

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Cidades de referência também não terão carnaval

Assim como nas capitais, cidades que tradicionalmente realizam festas no carnaval também cancelaram os festejos. Entre elas, Olinda, em Pernambuco, e Ouro Preto, em Minas Gerais.

A Prefeitura de Olinda cancelou nesta quarta-feira, 5, a realização do tradicional carnaval de rua. A administração municipal tomou a decisão levando em conta o “atual período pandêmico da covid-19” e o aumento de infecções pelo vírus influenza. 

Ao Estadão, Lupércio disse que seria uma “irresponsabilidade muito grande” promover festividades públicas neste momento, uma vez que a cidade, em média, recebe quatro milhões de foliões de cerca de 80 países. “Imagine uma cidade que recebe mais de quatro milhões de pessoas. Como é que iria ficar?”, pondera.

Quanto às festas privadas, Lupércio pretende seguir decreto estadual que permite eventos em locais com lotação de 50%. Passaporte vacinal também é exigência.

Por meio do Decreto no 6.319/2021, a prefeitura de Ouro Preto oficializou o cancelamento de eventos públicos ou privados de comemoração do carnaval. Ficou proibida a realização de “bailes de carnaval; blocos e agremiações; carnavais de rua; festas em repúblicas; festas em sítios e eventos privados de qualquer espécie”, conforme o texto. 

Quem descumprir a determinação poderá ter prisão de até um ano decretada, ou ter de pagar multa, de acordo com o artigo 268 do Código Penal. 

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Em 10 de dezembro, em assembleia da Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais (ACHMG), os 30 municípios integrantes decidiram pela não promoção dos eventos carnavalescos. Ouro Preto, Diamantina e Tiradentes fazem parte da ACHMG. “A motivação da pauta foi o fato dos carnavais das cidades históricas mineiras serem os mais tradicionais do estado, atraindo turistas de todo o Brasil e até mesmo do exterior”, disse, em nota, a Associação Mineira de Municípios (AMM), que esteve presente no encontro.   

Indefinição

A Prefeitura de Manaus informa que “a organização e realização dos festejos de carnaval é de responsabilidade do Governo do Estado”.“De acordo com a Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), o Edital de Bandas e Blocos de Rua ainda está sendo estudado pela Instituição e o decreto estadual em vigor com restrições em razão da Covid-19 suspende a realização de eventos com mais de 3 mil pessoas em território amazonense, até o dia 15 de janeiro de 2022”, diz em nota.

A administração manauara destaca que o “Edital de Chamamento Público de Apoio Financeiro às Escolas de Samba” está suspenso por conta do cenário atual da pandemia e sob análise da Comissão Especial de Organização de Eventos Festivos do município.

A Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal fala que, no momento, não está prevista programação pública para o carnaval de Brasília. Porém, ainda não há decisão oficial.

Em São Paulo paira também a indefinição. Uma decisão sobre a realização do carnaval de rua da capital é esperada para quinta-feira, 6. Até a data, técnicos ligados à Secretaria Municipal da Saúde enviarão um estudo sobre o panorama epidemiológico da covid-19 ao prefeito Ricardo Nunes (MDB). Em dezembro, um levantamento semelhante levou ao cancelamento do réveillon da Avenida Paulista.

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