Após 155 dias de cativeiro, empresário é libertado sem resgate

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Por Agencia Estado
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O empresário João Bertin, 82 anos, de Lins, seqüestrado no dia 8 de setembro, foi libertado pelos seqüestradores na madrugada desta segunda-feira, por volta da 1h. O seqüestro de Bertin é o mais longo registrado no país. Ele foi libertado em Assis, próximo à divisa com o estado do Paraná, depois de permanecer 155 dias seqüestrado. A polícia e a família do empresário afirmaram que o resgate, cujo valor chegou a US$ 5 milhões, não foi pago. Bertin foi libertado graças à prisão do seqüestrador Pedro Ciecoanovicz, 49 anos, no domingo, em Curitiba (PR). De acordo com o delegado assistente da Seccional de Lins, Marcos Buarraj Mourão, logo que foi preso, Ciecoanovicz deu ordem para os integrantes da quadrilha libertarem o empresário. A polícia suspeita que Ciecoanovcz lidera a principal quadrilha de seqüestradores do país, com possíveis participações nos seqüestros do diretor das Lojas Cem, Roberto Benito Júnior, e do dono do grupo G. Aronson, Girz Aronson. O delegado seccional de Lins, Orlando Panfolf, disse que o empresário foi solto em uma estrada próxima a Assis. Em seguida, Bertin caminhou vários quilômetros até encontrar um grupo de estudantes que aguardavam um ônibus escolar. O empresário pegou carona no ônibus e contou aos passageiros que fora seqüestrado. Assim que chegou à escola, Bertin ligou para a família, por volta das 6h, e avisou a polícia. Os familiares do empresário, acompanhados de três delegados da Polícia Civil de Lins, foram de avião a Assis para buscá-lo. Bertin chegou a Lins por volta das 10h. Apesar de abatido, ele estava lúcido e aparentava boa saúde. O empresário foi apresentado à imprensa em uma fazenda da família, em Lins, mas a pedido dos médicos, não concedeu entrevista. Disse apenas que estava "mais ou menos", "contente e aliviado" de estar com a família. "Agora quero almoçar com todos", declarou. Em entrevista a uma rádio de Assis, logo após ser localizado pela polícia, Bertin afirmou que no dia do seqüestro não percebeu que havia um carro na entrada de sua propriedade em Sabino, de onde foi levado. "Se tivesse visto o carro, não teria parado", afirmou. O empresário revelou também que não sofreu agressão. Ele desconfia que o cativeiro onde permaneceu fique próximo à rodovia Castelinho. "Ele afirma ter permanecido todo o tempo em um quarto pequeno, coberto por lona, onde só entravam os seqüestradores", declarou o delegado seccional. Um dos três filhos do empresário, Reinaldo Bertin, classificou como "agonizantes" os cerca de cinco meses de seqüestro. "A satisfação de vê-lo vivo supera qualquer coisa", declarou Reinaldo. "Vamos agora cuidar da saúde e da segurança dele." Reinaldo preferiu não falar sobre as negociações com os seqüestradores. Polícia sabia tudo, menos o cativeiro A Polícia Civil de Lins, com apoio da equipe da Divisão Anti-Seqüestro de São Paulo, chefiada pelo delegado Arthur Dian, acompanhou a distância todo o desenrolar do caso. De acordo com o delegado assistente da Seccional, a polícia "por pouco" não concluiu as investigações antes da libertação do empresário. "Tínhamos 90% do caso esclarecido, mas faltava saber onde era o cativeiro", disse Mourão. O delegado acredita que antes de ser preso, Ciecoanovcz determimou que Bertin fosse libertado. "Quando ele foi preso, na noite de domingo, a polícia cercou sua casa e pediu que ele se rendesse. Antes de se render, ele deve ter dado a ordem para soltar o empresário", acredita. Segundo Mourão, o primeiro contato telefônico dos seqüestradores com a família foi feito 30 dias após o seqüestro. Na ocasião, eles ratificaram o valor inicial do resgate, US$ 3 milhões, pedido por meio de um bilhete deixado com um dos empregados da fazenda de onde o empresário foi levado. Outro contato foi realizado dez dias depois. Os seqüestradores disseram que o valor subiria para R$ 5 milhões, caso o resgate não fosse pago em 30 dias. Como isso não aconteceu, eles passaram a negociar um valor mais baixo. O mínimo negociado foi R$ 800 mil. O último contato dos seqüestradores ocorreu na sexta-feira passada. Durante o seqüestro, a polícia, a pedido da família Bertin, não divulgava informações sobre o caso. A família também se manteve em silêncio. Bertin é patriarca de uma família de quatro filhos, que comandam as empresas e propriedades rurais do Grupo Bertin. O grupo tem o Frigorífico Bertin, em Lins, que é o maior exportador nacional de carne bovina, com produtos enviados para cerca de 40 países. O grupo comanda ainda o Quality Resort Hotel, um dos maiores e mais modernos hotéis do gênero no interior de São Paulo.

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