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Após 75 anos, Circo Garcia dá adeus à platéia

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de 75 anos de atividades no Brasil, o tradicional Circo Garcia começa a arriar a lona. Com ela, enrolam-se as histórias de famílias que nasceram nas estradas com o circo e viram, no dia 29 de dezembro, artistas como o palhaço Reco-Reco subir no picadeiro pela última vez. "Mesmo com tudo o que estou passando, viveria isso em outras dez vidas", diz uma das donas do Garcia, Carola Boets, de 65 anos. Uma dívida de quase R$ 1 milhão, dificuldades para encontrar terrenos no País e queda drástica de público seriam algumas das causas para o fim do Garcia. Mas o problema vem desde 1996. "Vivemos uma crise financeira terrível, provocada por uma recessão silenciosa que atingiu o Brasil inteiro", diz Carola. Desde o dia 29, aos poucos o terreno alugado na Estrada do M?Boi Mirim, no Campo Limpo, zona sul de São Paulo, vem se tornando uma grande clareira deserta. Restam alguns trailers dos poucos funcionários que insistem em esperar "por um milagre", apesar de ouvirem Carola dizer que, mesmo que alguém a ajude a pagar as dívidas, ela não voltará a tocar o circo. "O dinheiro pode resolver o problema agora, mas, com a falta de apoio à arte no Brasil, daqui a dois anos vou sofrer tudo isso de novo", diz. A proprietária estima que 60 artistas continuem acompanhando a trupe. Nos tempos áureos, havia 380. Os anos 80 foram os melhores, segundo Carola. Em álbuns antigos, Carlos Drummond de Andrade, Ziraldo e Xuxa aparecem aplaudindo de pé as apresentações de circenses poloneses, russos, alemães e brasileiros. Entre os destaques, esteve também um corpo de bailado com 32 dançarinos. O circo chegou a ser o quarto maior do mundo. Minguou a ponto de baixar o preço dos ingressos de R$ 15,00 - cobrados em 1995 - para R$ 10,00. "O que se vê hoje não é nem a sombra do que foi o Garcia", lamenta Carola. Há 29 anos, o apresentador Arisvaldo Rabelo, o Ari, abre o show. A voz de uma entonação inconfundível prepara a platéia para o que virá: elefantes, tigres, trapezistas, malabaristas, palhaços. "Criamos raízes aqui. De repente, vem um vendaval e tomba as árvores. Nos sentimos com as raízes para cima", diz o locutor, que conheceu a mulher e teve três filhos no circo. Todos artistas. Triste, Ari afirma que não perdeu as esperanças. Na última apresentação, que será fechada para o público e ocorre amanhã, ele não vai falar em despedida. "No lugar de adeus, vou me despedir como sempre fiz, dizendo apenas até o próximo espetáculo."

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