Após Brumadinho, seis empresas se recusam a auditar barragens da Vale
Situação revela dificuldade da empresa para encaminhar a órgãos técnicos os projetos de descaracterização de 8 estruturas a montante, como a que rompeu. O risco de segurança ainda mantém fora de casa 943 pessoas em cinco municípios
Por Renata Batista
Atualização:
RIO - Pelo menos seis empresas recusaram convites da Vale para auditar as oito barragens em estado de alerta em Minas. A situação revela a dificuldade da empresa para encaminhar à Agência Nacional de Mineração (ANM) e à Secretaria de Meio Ambiente do Estado os projetos de descaracterização dessas estruturas. Esses planos detalhariam como ocorrerá o processamento dos rejeitos e a destinação para outros fins das áreas que ocupam. O risco mantém fora de casa 943 pessoas em cinco municípios.
A informação consta de documento em que o Ministério Público de Minas (MP-MG) pede à Justiça que determine à mineradora que apresente plano de ação à ANM e à secretaria. A Vale quer mais prazo e isenção das multas. A maior parte das companhias citadas no documento não opera no Brasil. O Estado tentou contato com todas. Nem mesmo a WorleyParsons, única que ainda manteria conversas com a Vale, confirmou a contratação.
Veja imagens do rompimento de barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho
1 / 37Veja imagens do rompimento de barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho
Tragédia em Minas Gerais
A Agência Nacional de Mineração (ANM) declarou que a mineradora Vale vistoriou, em dezembro de 2018, estrutura da barragem de Brumadinho sem ter apont... Foto: Washington Alves/ReutersMais
Moradores
É comum ver imagens de moradores de Brumadinho olhando para o horizonte em silêncio Foto: Mauro Pimentel/AFP
Catástrofe ambiental e humana
Bombeiro recolhe gaiolas no meio do mar de lama da catástrofe de Brumadinho. Foto: Adriano Machado/Reuters
Animais
Equipes de resgate voluntáriastentaramsalvar a vaca que esta atolada na lama de rejeitos de ferro. O animal teve que ser sacrificado. Foto: Wilton Junior/Estadão
Dificuldade no resgate
Bombeiros têm dificuldade de acessar algumas áreas para fazer o resgate dos sobreviventes Foto: Douglas Magno/AFP
Tragédia em Minas Gerais
Uma barragem de rejeito se rompeu em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. Foto: Douglas Magno/AFP
Tragédia em Minas Gerais
Lama destruiu estrada em Brumadinho. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
A tragédia aconteceu na altura do km 50 da Rodovia MG-040. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
As barragens pertencem à mineradora brasileira Vale. Foto: Washington Alves/Reuters
Catástrofe ambiental e humana
Bombeiros tentam, sem sucesso, resgatar uma vaca atolada após rompimento de barragem. Foto: Adriano Machado/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
Segundo informações do site da Vale sobre as barragens da região, a estrutura que se rompeu foi construída em 1976. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
A prefeitura de Brumadinho pediu que a população mantenha distância do leito do Rio Paraopeba, que é um afluente do São Francisco. Foto: Douglas Magno/AFP
Tragédia em Minas Gerais
A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), responsável pelo abastecimento de água na região metropolitana de Belo Horizonte, afirmou que não ... Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas GeraisMais
Tragédia em Minas Gerais
Segundo a Vale, a área administrativa, onde estavam os funcionários, foi atingida, assim como a comunidade da Vila Ferteco. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
Os bombeiros enviaram equipes com policiais civis e militares, além de enfermeiros e medicamentos. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
Kombi foi soterrada pela lama após o rompimento da barragem em Brumadinho. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
Casa foi destruída e foi soterrada pela lama após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
O governo federal montou um gabinete de crise em Brumadinho. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
Moradores de Brumadinho observam a lama que atingiu a cidade. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
No município de Brumadinho vivem cerca de 40 mil pessoas. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
O rompimento das barragens da Vale aconteceu na tarde de 25 de janeiro de 2019. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
O presidente Jair Bolsonaro fez pronunciamento no Palácio do Planalto, em Brasília, sobre a tragédia em Brumadinho. Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão
Presidente Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro observa destruição causada após rompimento de barragem da Vale em sobrevoo a Brumadinho Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República
Tragédia em Minas Gerais
Voluntários trazem doações para as vítimas da tragédia em Brumadinho. Foto: Paulo Fonseca/EFE
Tragédia em Minas Gerais
Bombeiros retomaram os trabalhos na manhã deste sábado, 26. Foto: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
Fernando Nunes de Araujo é uma das dezenas de pessoas que começam a chegar na faculdade ASA de Brumadinho, onde deve ser divulgada a primeira lista de... Foto: Wilton Junior/EstadãoMais
Tragédia em Minas Gerais
Fernando Nunes de Araujo é uma das dezenas de pessoas que começam a chegar na faculdade ASA de Brumadinho, onde deve ser divulgada a primeira lista de... Foto: Wilton Junior/EstadãoMais
Batalha pela Vida
Bombeiros voltam enlameados após resgate em uma das áreas atingidas pelorompimento da barragem de rejeitos de Brumadinho, em Minas Gerais. Foto: Wilto...Mais
Estrada
Moradores observam trabalho dos bombeiros em estrada bloqueada pela lama em Brumadinho (MG) Foto: Wilton Junior/Estadão
Carro atolado
Um carro ficou atolado e destruído no meio da lama após o rompimento de barragem em Brumadinho (MG) Foto: Wilton Junior/Estadão
Helicoptero
Um helicóptero sobrevoa a cidade de Brumadinho, buscando vítimas após o rompimento da barragem Foto: Wilton Junior/Estadão
Bombeiros tentam encontrar sobreviventes em Brumadinho
Bombeiros tentam encontrar sobreviventes em Brumadinho após rompimento de barragem Foto: Washington Alves/Reuters
Corpo encontrado
Bombeiros carregam o corpo de uma das vítimas do rompimeto da barragem em Brumadinho até posto montado em frente da Igreja de Nossa Senhora das Dores Foto: Wilton Júnior/Estadão
Ponte
Ponte arrastada pela lama nas proximidades da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, MG, de propriedade da Vale Foto: Antonio Lacerta/EFE
Área devastada
Área devastada pela lama após o rompimento da barragem do Córrego do Feijão,de propriedade da mineradora Vale Foto: Wilton Júnior/Estadão
Equipe de resgate
Grupo de resgate caminha sobre a lama em busca de vítimas do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, emBrumadinho (MG), de propriedade da Vale Foto: Antonio Lacerda/EFE
Resgate aéreo
Equipe de resgate usa helicóptero para procurar vítimas do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), de propriedade da Vale Foto: Giazi Cavalcante/Código 19
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Procurada, a mineradora também não confirmou nem a contratação nem a apresentação dos planos. A empresa também não apresentou, até agora, nenhum relatório dos três comitês de assessoramento técnico criados após a tragédia de Brumadinho. Seu custo é estimado no orçamento de 2019 em R$ 15 milhões. A mineradora informou que entregou “pedido de descaracterização” das barragens à ANM e Semad em 22 de março. Mas não esclareceu se apresentou os planos.
Projetos
Cada plano (um por barragem) deve conter o detalhamento técnico do projeto, investimentos e medidas de reparação para os atingidos. Os detalhes permitirão saber se os R$ 5 bilhões previstos para a descaracterização cobrirão os custos. Além dos riscos para fornecedoras, arrolados nas investigações criminais da tragédia de Brumadinho, que deixou mais de 300 mortos e desaparecidos, há uma forte pressão para que a empresa faça a descaracterização com aproveitamento econômico dos depósitos. Esse rejeitos ainda contêm minério aproveitável.
“A Vale já tinha anunciado a descaracterização antes de Fundão (barragem que se rompeu em Mariana em 2015). Em 2013, já se observava movimento de retirada para o Pará, mas o que vai determinar é o fator econômico”, afirma Thiago Alves, integrante da coordenação estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Para o setor de mineração, o aproveitamento econômico representa uma sobrevida para a atividade mineral nos municípios e para muitos fornecedores. Do ponto de vista do Estado é mais interessante, mas tende a custar mais caro para a empresa e demorar mais. “Precisamos analisar as exigências de engenharia, meio ambiente e sociais para chegarmos a uma solução factível. Não podemos paralisar as barragens e o Estado de Minas”, disse o presidente da Academia Nacional de Engenharia, Francis Bogossian.
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As dez barragens nessa situação de incerteza são: Laranjeiras, Menezes II, Capitão do Mato, Dique B, Taquaras, Forquilha I, II e II, Barragem I e Barragem IV. As duas últimas estão no centro da tragédia de Brumadinho. As outras oito são estruturas semelhantes às de Brumadinho e Fundão.
Todas essas estruturas já tiveram as zonas de autossalvamento esvaziadas, justamente porque a empresa não consegue renovar os laudos de avaliação. Todas constam da lista de estruturas que apresentavam fatores de segurança abaixo dos limites estabelecidos. A informação está em documentos da própria Vale anexados à ação civil pública movida pela força-tarefa formada para apurar as causas do rompimento em Brumadinho.