Após denúncias de pilhagem, Saito defende resgate ''''heróico''''

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Por Luciana Nunes Leal e Christiane Samarco
Atualização:

Todos que trabalharam onde caiu o avião estão sendo tratados como ?marginais?, diz brigadeiro Diante das denúncias de pilhagem às vítimas do vôo 1907 da Gol, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, e o Ministério Público do Distrito Federal, manifestaram-se publicamente ontem, em defesa do "trabalho heróico" de suas equipes nas operações de resgate, identificação dos mortos e devolução aos familiares dos documentos e pertences recolhidos na selva mato-grossense, onde ocorreu o acidente. Em depoimento à CPI do Apagão Aéreo da Câmara, o brigadeiro chamou de heróis os militares da Aeronáutica, bombeiros, médicos e outros profissionais que trabalharam na Serra do Cachimbo e reclamou que agora eles estão sendo tratados como marginais. Enquanto Saito fazia seu desabafo à CPI, o promotor Diaulas Costa Ribeiro, do Ministério Público do DF, anunciava que ele mesmo entregara à família de Maria das Graças Rickli, vítima do acidente da Gol que teve um financiamento aprovado para a compra de um carro nove meses depois de morta, a carteira de motorista dela que os parentes acreditavam ter sido pilhada. O anúncio foi apenas um pretexto para o promotor fazer a defesa do MP. Assim como a Aeronáutica, Ribeiro admite e lamenta que tenha havido saque. O promotor, no entanto, se recusa a opinar sobre o momento e o local onde isso teria ocorrido. "Só se eu fosse louco para garantir o contrário", afirmou, ao salientar que "há uma tradição perversa do saque e da pilhagem" em grandes acidentes no mundo inteiro. "Só posso afirmar em que momento ela (a pilhagem) não ocorreu. Entre o recebimento dos documentos e pertences pelo Ministério Público e a devolução às famílias, não ocorreu", defendeu-se. Saito, por sua vez, lembrou que moradores da selva e mateiros colaboraram na busca dos corpos. "Não sei qual a intenção desse tipo de coisa (as denúncias), mas rendo minha homenagem a 800 heróis hoje pichados como se fossem marginais. Lamento muito", disse o brigadeiro Saito aos deputados. Segundo Saito, os objetos dos passageiros foram recolhidos, catalogados e entregues à Gol. "Agora a Aeronáutica é acusada de pilhagem. Lamento muito." Embora não possa garantir que os falsários que tomaram empréstimo em nome de Maria das Graças não tenham se inspirado em dados de documentos pilhados, o promotor disse que prefere crer que tudo tenha sido uma "infeliz coincidência", já que existem quadrilhas especializadas nesse tipo de golpe, usando dados de certidões de óbito. "Não vou entrar na onda nacional de que tudo foi pilhagem", afirmou Ribeiro, ao salientar que o caso será investigado "dentro da ordem normal'''', sem prioridade pelo fato de envolver uma vítima do acidente. Só na noite de terça-feira o viúvo de Graça Rickli encontrou os quatro documentos da mulher que o MP enviara para sua casa em fevereiro. A demora deveu-se ao fato de o promotor tê-los remetido por Sedex, dentro do mesmo envelope em que foram reunidas as cinzas da vítima. Diante da tarja no envelope que dizia "cinzas", Maurício Saraiva manteve o pacote fechado. Faltou coragem para abrir até que o promotor informou anteontem que, junto com os restos mortais da mulher, estavam também a carteira de motorista dela, uma carteirinha de estudante, um cartão de crédito e o cartão fidelidade TAM. Além do problema com o financiamento, Maria da Graça teve seu celular roubado na área do acidente. Dez dias após queda do Boeing, o aparelho já estava sendo negociado no Rio. Saito confirmou que o marido de uma das vítimas levou o problema à Aeronáutica, mas que não foi possível investigar o caso porque ele se recusou a fornecer o telefone, temendo retaliações dos criminosos.

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