Após nadar 5 horas, grupo sobrevive a naufrágio

Vento e ondas fortes fizeram embarcação virar entre Recife e Fernando de Noronha; um dos seis tripulantes telefonou para a mulher antes de pular na água

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Por Mônica Bernardes
Atualização:
Barco partiu de Recife em direção a Fernando de Noronha Foto: HERTON ESCOBAR/ESTADÃO

RECIFE - Coragem e força. Essas eram as palavras que o cozinheiro e pescador João Leite, de 63 anos, gritava para os cinco companheiros. O grupo nadou por mais de cinco horas para sobreviver ao naufrágio da embarcação Ekos Noronha, que partiu anteontem do Porto do Recife rumo ao arquipélago de Fernando de Noronha. Todos sobreviveram ao acidente.

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O barco transportava material de construção e mantimentos. Foram surpreendidos por uma “virada” do clima, que provocou fortes ventos e ondas no mar. Com coletes salva-vidas, os tripulantes nadaram 13 quilômetros até o continente, onde foram socorridos por moradores da orla de Olinda, na Grande Recife. Era a primeira viagem do Ekos nesta rota.

“O barco foi virando e enchendo de água e afundou completamente em poucos minutos. Tínhamos um bote salva-vidas mas não deu tempo soltar o equipamento. Mas graças a Deus conseguimos pegar os coletes e as boias, que tinham sinalizadores luminosos acoplados”, explicou Sílvio Santos, de 44 anos, um dos tripulantes.

Ele chegou a telefonar de seu celular para a mulher minutos antes de se atirar no oceano. “Quando vi que estávamos afundando e que não havia mais o que fazer a não ser pular na água, liguei para a minha esposa e avisei o que estava acontecendo. Nem consegui ouvir direito o que ela falou porque o celular mergulhou no mar e parou de funcionar”, conta. 

Com outros dois naufrágios “no currículo”, João Leite contou que a experiência e a união dos companheiros de viagem foram essenciais para sobreviver. “Nem a gente sabe explicar. O mar cobriu a popa do navio e não teve condições de continuar. Foi descendo devagarinho e, em cinco minutos, já estava no fundo. Caímos na água com colete, com boia circular e nos agarramos aos materiais para chegar até a costa.”

“No primeiro momento, foi o susto, mas logo depois todo mundo entendeu que só com calma e coragem a gente iria conseguir. Por isso eu repetia essas palavras o tempo todo”, relatou o pescador. 

Socorro. Moradores de um condomínio de Olinda chamaram os bombeiros. “Estavam muito cansados, mas incrivelmente calmos e sem ferimentos graves”, comentou o professor Eduardo Lins, um dos primeiros socorristas do grupo. Dos seis tripulantes, só dois precisaram ser levados para o Hospital Naval do Recife.

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Ontem, o dono do barco, o empresário Paulo Godoy disse à imprensa local que o Ekos havia passado recentemente por uma adequação para fazer este tipo de transporte. O proprietário disse que o equipamento estava regulamentado e com todas as licenças em dia, o que foi confirmado pela Capitania dos Portos. No momento da partida, o barco levava 70 toneladas – quantitativo inferior ao limite máximo, de cem toneladas.

O trajeto entre a capital pernambucana e Fernando de Noronha é de aproximadamente 300 milhas náuticas, o que corresponde a 545 quilômetros. O percurso é previsto para uma viagem de até 72 horas.

Bahia e Pará. Quarenta e duas pessoas morreram em dois naufrágios no fim do mês de agosto na Bahia e no Pará. Na noite do dia 22, uma embarcação que saiu de Santarém (PA) afundou enquanto navegava pelo Rio Xingu e 23 pessoas morreram. O barco estava irregular e transportava peso além do permitido, segundo investigações. Dois dias depois, uma lancha que fazia a travessia entre Salvador e Mar Grande tombou. Dezenove morreram e uma menina está desaparecida.

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