Após reajuste, líder do PT vê ''ano difícil''

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Por Eugênia Lopes e Denise Madueño
Atualização:

Na semana em que os parlamentares se concederam reajuste de 61,83%, garantindo salário de R$ 26.723,13, o deputado Paulo Teixeira (SP), eleito líder bancada do PT na Câmara, prevê para 2011 um ano difícil do ponto de vista orçamentário, inviabilizando aumentos para outros Poderes, como o Judiciário. "Teremos de ter um enorme cuidado com qualquer medida que possa repercutir no Orçamento", diz. Eis a entrevista ao Estado: A escolha do deputado Marco Maia (RS) como candidato à presidência da Câmara dividiu a bancada do PT. Como o sr. vai aparar essas arestas? Houve disputa, não divisão. A bancada está unida. Na liderança, quero fazer uma gestão contemplando o conjunto de forças políticas, os anseios de cada deputado e as regiões do Brasil.Há perigo de se eleger um novo Severino Cavalcanti (PP-PE)?Não há qualquer possibilidade.Hoje, não há divisão interna no PT. Além disso, Marco Maia já recebeu inúmeras visitas de líderes com disposição de apoiá-lo. Os projetos de reajuste para servidores do Judiciário, o aumento dos ministros do Supremo Tribunal Federal e o que cria piso nacional dos policiais não foram votados, mas estão latentes.O ano de 2011 será extremamente difícil do ponto de vista orçamentário. Teremos de ter um enorme cuidado com qualquer medida que possa repercutir no Orçamento da União. A nossa prioridade é entrar em 2011 discutindo o tema da guerra cambial e verificar se o Brasil precisa de mecanismos para o enfrentamento dessa guerra.Os deputados aprovaram aumento para os próprios salários e, ao mesmo tempo, vão negar aumento para outras categorias. O que acha desse aumento?O presidente recebe salário menor do que muitos segmentos de empresas privadas. Um gerente de banco ganha melhor do que o presidente. Muitas pessoas que são convidadas para cargo de ministro não aceitam por conta da remuneração. Outra questão é a relação de Poderes. Tem muitos juízes que recebem salários maiores que os dos parlamentares. E há um grave problema que é o chamado efeito-cascata, uma vez que os salários dos 1.059 deputados estaduais e dos 52 mil vereadores estão vinculados aos dos congressistas. Vou apresentar uma proposta de emenda que seja capaz de corrigir as falhas. Um aspecto seria a vinculação dos valores à correção da inflação, para evitar a defasagem e injustiças nos reajustes e a desvinculação do salário dos congressistas ao dos deputados estaduais e vereadores, deixando que essa questão seja de responsabilidade dos Estados e municípios.Qual a prioridade na agenda política?Vamos estabelecer um diálogo com a sociedade e o Parlamento e definir uma reforma política que deve acontecer até outubro de 2011, para repercutir nas eleições de 2012. Inclui o estabelecimento do financiamento público para as campanhas. Defendemos o fim das coligações proporcionais e temos de atualizar os mecanismos de participação direta dos cidadãos.A democracia direta não enfraquece o sistema representativo?As democracias modernas, a dos EUA e as europeias, se utilizam intensamente do plebiscito e do referendo na iniciativa de lei. O que está acontecendo no Brasil é que quem passou a decidir sobre os temas polêmicos foi o STF. Estamos judicializando a política.

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