Após ser esfaqueada, brasileira mantém trabalho no Timor

Violência contra estrangeiro é fato atípico no país asiático, relata a juíza Sandra

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Por Agencia Estado
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Mesmo com as duas mãos enfaixadas e impossibilitada de realizar atividades, a juíza brasileira Sandra Aparecida Silvestre de Frias Torres, de 37 anos, vai acompanhar durante toda esta segunda-feira (noite de domingo no Brasil) as eleições no Timor Leste. Ela foi esfaqueada durante um assalto na noite de sábado na capital Dili, quando saía para comprar um cartão telefônico. "Estou com mãos enfaixadas e limitada. Mas vou acompanhar a votação. Vou fazer meu trabalho da mesma forma. Vim aqui para isso", desabafa ela. Sandra, juíza Tribunal de Justiça de Rondônia, foi designada, juntamente com Flávio Bierrenbach, ministro do Supremo Tribunal Militar, para atuar como observadora brasileira nas eleições presidenciais do Timor Leste. Hospedada na casa de um funcionário da embaixada no centro da capital, ela não temeu sair à rua sozinha. "Decidi sair à noite por que achei que não iria ocorrer nada. Precisava comprar um cartão telefônico, pois poderia ocorrer algo durante as eleições e eu estava sem crédito", afirmou ela ao Portal estadão.com.br. "Estava com minha bolsa no braço esquerdo e o assaltante se aproximou pedindo o dinheiro. Tentei conversar com ele, mas ele estava nervoso e percebeu que eu era estrangeira. Falei para ele esperar, mas não deu tempo. Ele passou o facão e levou minha bolsa", conta Sandra, que teve as duas mãos e o braço esquerdo cortados, levando mais de 50 pontos. Após o assalto, Sandra foi abrigada na casa do embaixador do Brasil na capital timorense, Antonio de Souza e Silva. A juíza brasileira foi atendida em clínica local por médicos portugueses e passa bem. Sandra, que morou em Díli de setembro de 2004 a agosto de 2006, colaborando na reconstrução do Timor, comenta que casos de violência explícita contra estrangeiros são raros no País. "Estávamos lembrando que houve apenas um outro caso de assalto a estrangeiros no Timor, em 2000. No ano passado, um missionário brasileiro foi assassinado, mas o caso dele foi diferente. Ele estava entre dois grupos em conflito e queria intermediar a situação. Acabou sendo vítima. É um fato atípico aqui. A violência começou quando eu fui embora ano passado", relata. Sandra se referia a Edgard Gonçalves Brito, missionário da Igreja Assembléia de Deus morto em 18 de novembro de 2006 quando o carro onde estava foi alvejado por desconhecidos, supostamente membros de grupos rebeldes que vinham agindo no país desde abril. Retorno ao Brasil A brasileira chegou ao Timor na sexta-feira, na véspera do assalto, e deve deixar o país mais cedo que o previsto, entre quarta e quinta-feira desta semana. "É ruim porque, como estou impossibilitada de fazer qualquer coisa, com as duas mãos enfaixadas, alguém vai ter que voltar comigo ao Brasil", diz. Esperança As eleições no Timor Leste começaram às 7h de segunda-feira (19h de domingo no Brasil) e até o momento não houve registro de incidentes. "Está tudo tranqüilo por aqui, por enquanto. Pode ser que mais tarde, após o final da votação, ocorram protestos e confrontos. Somos otimistas, mas é tudo imprevisível", conta Sandra. A previsão é que o resultado das eleições saia em 72 horas. A apuração começa nesta segunda-feira mesmo, após os 522.933 eleitores - 51% de homens e 49% de mulheres - depositarem o seu voto. Sandra lembra que nas regiões rurais do Timor Leste, onde as pessoas não sabem usar a caneta esferográfica, a população poderá usar um prego para marcar na cédula o seu voto. Oito candidatos aspiram à Presidência do país mais pobre da Ásia e uma das mais jovens repúblicas do planeta, que nasceu em 2002 e teve apenas um presidente, Xanana Gusmão. Neste domingo, Xanana fez um apelo pela calma durante a realização do pleito. Contudo, às véspera da votação, pelo menos 200 pessoas foram presas na capital. Ex-colônia portuguesa, o Timor Leste se tornou independente da Indonésia em 2002, após 25 anos de ocupação que reprimiu a oposição política e deixou mais de 100 mil mortos. A Missão Integrada no Timor Leste (Unmit, sigla em inglês), criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em agosto de 2006 para ajudar os timorenses a restabelecer a ordem, mantêm-se até hoje no país, tendo a participação de militares e civis brasileiros.

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