Após temporais, Blumenau deve rever zoneamento urbano

Prefeito acredita que a cidade levará pelo menos dois anos para ser reconstruída

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Por Rodrigo Pereira e Giovana Pietrzacka
Atualização:

A tragédia que deixou 24 mortos em Blumenau vai demorar para ser esquecida. O geólogo Juares Aumond, professor da Universidade Regional de Blumenau, compara o acontecido a um corpo humano submetido a traumas. "Não se pode dizer que a topografia da região foi alterada. Ela ficará, isso sim, com maior número de cicatrizes", explica. De acordo com o secretário municipal de Planejamento Urbano, Walfredo Ballistieri, está em andamento um estudo para rever o código de zoneamento do município, prevendo mais áreas de impermeabilidade e a verticalização do crescimento urbano. "É preciso repensar a ocupação dos espaços", diz. O geólogo Aumond concorda. Segundo ele, o fenômeno é natural e pode se repetir no futuro. O impossível é saber quando. "Pode ser daqui a um ano ou daqui a uma década, mas é provável que se repita", alerta. Ele atribui o risco às características do relevo na região, com montanhas e encostas íngremes, e do solo que recobre as formações rochosas, bastante espesso e suscetível a desmoronamentos. Por isso, ressalta o geólogo, é indispensável que o poder público organize a ocupação urbana do município, evitando que as pessoas se instalem em áreas de risco. Sobre o nível de instabilidade do solo blumenauense, o secretário Ballistieri adianta que qualquer avaliação mais precisa só poderá ser feita com uma semana de sol. "Laudos feitos agora poderiam ser mascarados e levar a decisões incorretas", afirma. É preciso esperar que a terra seque totalmente, pois, quando isso acontecer, novos movimentos geológicos podem ocorrer, levando ao surgimento de rachaduras. Na visão dos especialistas, alguns fatores, associados à ação humana, foram responsáveis pelo fenômeno da destruição (mais informações nesta página). É preciso considerar a morfologia do Vale - a região tem relevo altamente acidentado, formado por montanhas e encostas íngremes, principalmente ao sul de Blumenau, onde estão os bairros Garcia e Progresso, e ao leste, onde estão os municípios de Gaspar e Ilhota; a geologia - as montanhas da região têm grande quantidade de terra sobre a rocha e a espessura do solo é muito grande; e o clima dos últimos meses: o enorme volume de chuvas que caiu sobre o Vale do Itajaí - no fim de semana da tragédia choveu cerca de um terço do que se esperava para o ano todo e encharcou o solo que, sem suportar mais a água, desceu montanha abaixo. RECONSTRUÇÃO A reconstrução de tudo o que foi perdido deve levar dois anos, prevê o prefeito João Paulo Kleinübing (DEM). E isso, ele mesmo reconhece, só será possível se os recursos para as obras forem rapidamente liberados. Ainda não há um levantamento de quanto será preciso. "Como antes, Blumenau não será. Teremos agora de repensar toda a cidade", diz. " Iremos rever a ocupação do solo." Foram pré-selecionadas cinco áreas onde há condições seguras de construção, que dependem de projetos e recursos para começar. Ainda não há um levantamento definitivo sobre a quantidade de casas destruídas. A prefeitura já decidiu que vai criar um serviço municipal de Geologia, vinculado à Secretaria de Planejamento Urbano. Pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí percorreram áreas atingidas pela chuva em Blumenau e concluíram que 60% delas não têm condições de receber novas ocupações. "A gente fala de encostas, mas há casas também em margem de rio", diagnostica o engenheiro Luis Fernando Sales, pesquisador da universidade. " É preciso deixar a água ocupar esse espaço e não colocar pessoas para morar ali." Membros da Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Médio Vale do Itajaí se reuniram anteontme para discutir a tragédia. O diretor regional do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, José Jacques Zeitoune, adianta que é preciso observar as leis já existentes, como o Código Florestal, o Código de Posturas e o Plano Diretor. Enquanto grandes obras não podem ser feitas, pequenas ações provam que esforço não faltará para recuperar a cidade. Atletas e funcionários da Fundação Municipal de Desportos trabalham em sistema de mutirão desde quarta-feira para limpar o interior do Ginásio do Galegão, atingido pela chuva. Cerca de 2 metros de água e lama invadiram o espaço.

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