'Aqui não se cultivam roubalheiras', diz tucano

No discurso de saída, Serra coloca em prática a estratégia de sugerir que os adversários flertam com a falta de ética

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Por Julia Duailibi , Silvia Amorim e Christiane Samarco
Atualização:

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), despediu-se ontem do cargo, apresentando os dois principais eixos de sua campanha à Presidência: a aposta no discurso ético e no avanço das políticas sociais dos últimos anos.

 

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Com um discurso afirmativo, Serra falou das realizações de sua administração e marcou as diferenças em relação ao governo federal, estabelecendo o confronto sem críticas diretas a um presidente com índices recordes de popularidade.

Para uma plateia de cerca de 2 mil pessoas, no Palácio dos Bandeirantes, o tucano evidenciou que na corrida presidencial não divergirá do PT na questão social, enfatizando que realizou em São Paulo um "governo popular". Por outro lado, sublinhará as diferenças com a atual gestão, pondo em pauta questões éticas.

Ao afirmar que o governo tinha "caráter", colocou em prática a estratégia tucana de mostrar ao eleitor que os adversários flertam com a falta de ética. "O governo tem que ter honra. Assim falo porque aqui não se cultivam escândalos, malfeitos ou roubalheiras. Nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade ou conivência com o malfeito."

Durante o discurso, em que citou Vinicius de Moraes, Guimarães Rosa e Washington Luís, lembrou do lema da bandeira paulista, Pro Brasília Fiant Eximia ("pelo Brasil façam-se as grandes as coisas"), encerrando seu pronunciamento com a frase: "Vamos juntos. O Brasil pode mais."

Serra seguiu então para o terraço principal do Palácio dos Bandeirantes, onde fez um novo discurso, desta vez para 3 mil militantes. Destacou a ação de seu governo na área econômica, no enfrentamento da crise mundial e na geração de empregos. "Na crise, agimos com rapidez e geramos apenas em São Paulo quase 1 milhão de empregos diretos e indiretos com nossos investimentos."

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A mensagem de renúncia do governador será enviada para a Assembleia amanhã, quando assumirá o governo o vice. Alberto Goldman (PSDB).

"Este é um governo de caráter. Não se deixou pautar por mesquinharias", disse Serra. "Estou convencido de que as pessoas têm de ter honradez."

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Bravatas. Em uma breve biografia, o governador disse que nunca se deu a "frivolidades das bravatas". "Na minha vida pública já fui governo e oposição. De um lado ou de outro, nunca me dei às frivolidades das bravatas, nunca investi no quanto pior melhor, nunca exerci a política do ódio. Sempre desejei o êxito administrativo dos adversários no poder, pois isso significa querer o bem do cidadão."

O tucano fez questão de afirmar que seu governo é uma gestão popular. Citou vários de seus programas voltados para a baixa renda, como o Leve Leite, o Emprega São Paulo e o salário mínimo paulista. "Este governo, que é um governo popular, se orgulha de redistribuir renda. Essa é a alma do nosso governo. Tivemos sensibilidade para agir e diminuir a desigualdade."

Sisudo. Criticado pela falta de carisma e por ser centralizador, Serra se defendeu. "Procuro ser sério, mas não sou sisudo. Realista, mas não sou pessimista. Calmo, mas não omisso. Otimista, mas não leviano. Monitor, mas não centralizador."

O governador ainda se contrapôs à gestão econômica do PT na área fiscal. "Austeridade para nós não é mesquinharia econômica, não. Austeridade é cortar desperdícios, reduzir custos, precisamente para se fazer mais com aquilo de que se dispõe." Disse que sua gestão aumentou a receita sem elevar impostos, "apenas combatendo a sonegação".

Sem citar números, Serra destacou os principais projetos da sua gestão, com prioridade para os sociais e os de infraestrutura. Falou do programa de metas na área da educação, das obras em saneamento e dos investimentos em ensino técnico. Citou frase de Washington Luís, segundo a qual "governar é abrir estradas". Mas disse: "Governar é saber quais estradas vamos abrir."

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O tucano frisou a importância do "planejamento", uma das bandeiras da adversária Dilma Rousseff. "O governo tem de fazer isso mesmo. Botar o Estado para funcionar, no lugar de fazer nomeações e cabides de emprego."

O governador tentou durante todo seu discurso falar para os paulistas e, segundo ele, para "todo o Brasil". "Olhando para trás e vendo tudo o de que participei, sinto ganhar bastante força para esta etapa seguinte, a etapa que nos espera", disse o pré-candidato do PSDB.

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