Arcebispo faz sermão por ficha limpa

Na missa pelo aniversário de Brasília, ele fala em 'traição' diante de envolvidos em escândalos

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Por Leandro Colon de Brasília
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Na presença de políticos locais, a maioria envolvida nos escândalos de corrupção dos últimos governos, o arcebispo de Brasília, dom João Braz de Aviz, aproveitou a comemoração dos 50 anos da capital federal para cobrar a aprovação do projeto ficha limpa. O chefe religioso tratou da crise política instalada no DF desde novembro e falou em "traição". As declarações foram feitas na missa celebrada na virada de meia-noite de terça-feira para ontem, na Esplanada dos Ministérios, em um altar montado diante do Congresso Nacional. A fila de políticos sentados em cadeiras que ladeavam o altar só não estava completa porque o governador cassado, José Roberto Arruda, que deixou a prisão no dia 12, não compareceu.Rezaram juntos o governador recém-eleito, Rogério Rosso (PMDB), sua vice Ivelise Longhi (PMDB), o ex-governador Joaquim Roriz (PSC), o ex-vice-governador Paulo Octávio, o deputado e ex-governador interino, Wilson Lima (PR), o deputado federal Tadeu Filippelli (PMDB) e o senador Gim Argello (PTB). Em seu sermão, dom João Braz de Avis criticou a cultura política contemporânea. "Fazer de conta que a cultura política atual, exercida por grande parte de nossos homens e mulheres públicos, deve se perpetuar, é trair os melhores ideais constitucionais e religiosos", afirmou."Cresceram em Brasília e na Igreja contradições e problemas que geraram crises agudas. Assim é a crise política que hoje a capital vive", disse Dom João. O recado também foi ouvido pelo chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, e pelo ministro José Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que estavam assistindo a missa. Ficha limpa. O arcebispo cobrou de todos a rápida aprovação do projeto ficha limpa, que pode proibir a candidatura de políticos condenados pela Justiça. A proposta, pronta para ser votada na Câmara, está emperrada por falta de acordo entre os parlamentares. "Este é o momento favorável para os representantes do povo brasileiro acolherem com coragem e responsabilidade o apelo de 1,6 milhão de brasileiros que assinaram o ficha-limpa", disse.As assinaturas já estão em cerca de 2 milhões. "As populações de outras regiões administrativas apresentam uma profunda desigualdade social. E, por isso, o Jubileu de Ouro que agora vivemos é um apelo de renovação das pessoas e da sociedade", ressaltou o arcebispo. A reunião de tantos desafetos políticos de Brasília no altar revelou-se um cenário inusitado e constrangedor. O novo governador, Rogério Rosso, - escolhido por eleição indireta após a cassação de Arruda - cumprimentou com frieza Joaquim Roriz, de quem foi secretário no governo e hoje é adversário. A mulher de Rosso e primeira-dama do DF, Karina Curi, no entanto, não esconderam a intimidade com uma das filhas de Roriz, Liliane. São amigas de longa data.Aliado de Rosso e inimigo de Roriz, o deputado Tadeu Filippelli (PMDB-DF) manteve-se distante do ex-governador. Mesma postura adotada por Paulo Octávio, que deu um rápido aperto de mão em Filippelli e Rosso. O ex-vice-governador e Arruda responsabilizam Roriz pela revelação do esquema de corrupção no DF. Tentam mostrar que as irregularidades já começaram na gestão do desafeto.No meio da cerimônia, chegou Gim Argello, que assumiu a vaga de senador em 2007 após Roriz renunciar em meio ao "escândalo da bezerra". O longo cumprimento de Gim ao ex-governador ocorreu na confraternização da "Paz de Cristo". Para lembrarNo Congresso, há 152 políticos processadosA resistência ao projeto da ficha limpa não é gratuita. Nada menos que 152 parlamentares são investigados pelo STF, segundo levantamento do site Congresso em Foco. Ou seja, um quarto dos deputados e senadores tem pendências com a Justiça.

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