Área tombada abrigará parque na Rua Augusta

Valor para desapropriação pode chegar a R$ 30 milhões; terreno, com 695 árvores da mata atlântica, pode receber Museu da Música Brasileira

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Por Diego Zanchetta
Atualização:

Área tombada pelo patrimônio histórico em 2004 e cobiçada pelo mercado imobiliário, o terreno de 23,7 mil metros quadrados usado hoje como estacionamento na Rua Augusta, entre as Ruas Caio Prado e Marquês de Paranaguá, em Cerqueira César, região central, será desapropriado pela Prefeitura de São Paulo. No local, está prevista a criação de um parque um pouco maior do que o Buenos Aires, em Higienópolis, a menor área verde em espaço urbano da capital, com 22 mil m². A declaração de utilidade pública do terreno, de valor estimado em R$ 30 milhões pelos proprietários do terreno, foi solicitada pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente ao Departamento de Desapropriações da pasta da Habitação. O objetivo da medida é criar o Parque Augusta, previsto na Lei 345/06, aprovada pela Câmara Municipal. A área verde é reivindicação antiga dos moradores da região de Cerqueira César como forma de revitalizar o miolo degradado do bairro, próximo ao centro velho. No último dia 5, foi realizada uma passeata de moradores pela criação do parque. A Prefeitura estuda implantar dentro do espaço verde o Museu da Música Popular Brasileira, proposta do urbanista Lineu Passeri, da Universidade de São Paulo (USP). Parte do parque ficará no terreno onde funcionou o colégio francês feminino Des Oiseaux (Os Pássaros), inaugurado em 1907 e que funcionou até 1967. A estrutura do tradicional colégio foi demolida em 2004, e no local sobraram 695 árvores de espécies remanescentes da mata atlântica, como palmeiras e jacarandás. O terreno pertence, desde 1996, ao empresário e ex-banqueiro Armando Conde, da Acisa Incorporadora. O Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Conpresp) rejeitou em 2006 o pedido da Acisa para a construção de um hipermercado na área. A incorporadora tem novo pedido de empreendimento na região, sob análise no conselho - o projeto prevê três torres de 38 andares cada uma, que ocupariam apenas 10% da área, preservando as árvores do bosque. "A única coisa que não queremos é deixar o terreno sem utilização. Pelo nosso empreendimento, usaríamos 14 mil m² e doaríamos uma praça de 10 mil m², onde estão as árvores preservadas, ao Município", afirmou Gleidson Cantalice, diretor da Acisa. "Não fomos informados sobre o interesse da Prefeitura na desapropriação. Acho que, com o mercado imobiliário aquecido, o espaço tem valor superior a R$ 30 milhões." Na época em que a Acisa tentou construir no espaço um hipermercado, houve oposição dos moradores da região. A incorporadora também já se propunha a ceder à Prefeitura o bosque onde estão as 695 árvores do colégio francês, o que foi rejeitado em votação pelo Conpresp. "Acho besteira o governo gastar R$ 30 milhões se pode receber de graça uma praça de 10 mil m². Na região já temos a Praça Roosevelt e a Praça da República, não há tanto déficit de verde", avaliou o urbanista Candido Malta Campos Filho. O valor também é considerado alto pela administração municipal. Para Vasco de Mello, representante do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) no Conpresp, o empreendimento previsto pela Acisa respeita as regras de tombamento. "O projeto tem uma arquitetura contemporânea, que vai ajudar a revitalizar uma área decadente. E o bosque será preservado."

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