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Arma de fogo mata 116 por dia no País

Mortes caíram em São Paulo e dispararam em Estados do Nordeste, mostra estudo do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, editado pela Unesco. Dados são de 2012

Por Lisandra Paraguassu
Atualização:

Atualizada às 00h14

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BRASÍLIA - Em dez anos, o crescimento chegou a áreas no Brasil nas quais não havia alcançado. Cidades no interior e nas regiões Norte e Nordeste viram aumentar sua renda e a capacidade de negócios. Com os recursos, no entanto, chegou a violência e a incapacidade do Estado de lidar com a migração das organizações criminosas. O Mapa da Violência 2015 - Mortes Matadas por Armas de Fogo, estudo do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz editado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) mostra que, enquanto São Paulo e Rio de Janeiro, centros tradicionais de violência, tiveram quedas expressivas nos assassinatos entre 2002 e 2012, Estados pobres como Alagoas e Maranhão passaram a enfrentar epidemias crescentes de homicídios.

"A maneira de se conter uma epidemia é primeiro criar barreiras para que ela não se alastre, e depois combatê-la. Na virada do século o crescimento econômico começa a migrar para o interior, para fora dos grandes polos como São Paulo e Rio de Janeiro, e a violência vai também. Mas ela chega muito antes das estruturas de Estado. O Estado não está preparado para enfrentá-la", analisa Waiselfisz.

Nos anos analisados pelo estudo São Paulo teve uma queda de 62,2% nos assassinatos por armas de fogo. No Rio de Janeiro, a redução foi de 54,9%. Mas apenas oito Estados tiveram queda, sendo que no Espírito Santo foi de apenas 1,3%. Na outra ponta, Amazonas, Ceará e Maranhão tiveram crescimentos assustadores, ultrapassando os 200%. Alagoas, que já estava entre os mais violentos, teve um crescimento de 119% nos homicídios por armas de fogo e tem hoje a mais alta taxa - 55 por 100 mil habitantes, idêntica a da Venezuela, o país mais violento do mundo entre os que não estão enfrentando algum tipo de conflito armado.

São Paulo teve uma queda de 62,2% nos assassinatos por armas de fogo Foto: Estadão

Alta taxa. Alagoas, que já estava entre os mais violentos, teve um crescimento de 119% nos homicídios por armas de fogo e tem hoje a mais alta taxa do País - 55 por 100 mil habitantes, idêntica à da Venezuela, país mais violento do mundo entre os que não enfrentam algum tipo de conflito armado.

A migração do crime, explica Jacobo, não é uma migração física, de bandidos mudando de Estado, mas a da criação de novas estruturas criminais fora dos eixos centrais. O sociólogo cita como exemplo a transferência, em 2003, de Fernandinho Beira-Mar para um presídio em Alagoas. Com pouca segurança, o traficante carioca ajudou a montar uma estrutura criminosa do tráfico que atua hoje no Estado. “Foi ali que iniciou o crescimento do crime na região”, diz.

Do outro lado, a criação, em 2000, do primeiro plano de segurança pública, acompanhado de fundo com recursos federais que foram repassados aos Estados que enfrentavam, na época, os maiores índices de violência, ajudou a baixar os níveis em São Paulo, Rio e Pernambuco. O autor do estudo lembra os investimentos feitos em São Paulo em tecnologia, reformas penitenciárias e formação de policiais. 

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No Rio, recorda que a queda começou em 2004, quatro anos antes da primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), também reflexo desse investimento. “Levou-se recursos federais para os Estados onde havia mais violência e se elevou a capacidade de resposta, além do surgimento de entidades civis que atuaram fortemente para pressionar o governo.”

 Foto: Infográfico Estadão

Enquanto isso, Alagoas enfrentou uma longa greve de policiais. No Maranhão, o sistema penitenciário se desestruturou. Com o crescimento econômico acompanhado da falta de Estado, a violência explodiu.

Jacobo lembra, ainda, que uma das medidas de maior resultado no combate às mortes por armas de fogo, a campanha de desarmamento, foi praticamente deixada de lado. “São 16 milhões de armas circulando no Brasil, a metade irregular. O desarmamento é uma condição necessária para a pacificação.”

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